As denúncias publicadas, ontem, pelo jornal O Globo, sobre o suposto pagamento de mesada ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que teria sido avalizado pelo presidente Michel Temer (PMDB), causarão prejuízos ao setor rural. A avaliação é do presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Marcos da Rosa. Para ele, o escândalo no governo deve paralisar as discussões sobre pautas importantes para o setor.
“Tínhamos vários assuntos encaminhados. Um deles é a lei para modernizar a liberação de defensivos. Também havia a lei de cultivares e a questão do licenciamento. Todos estavam organizados para votação nos próximos dias. Com isso, teríamos diminuição da burocracia e dos custos da produção rural como um todo. Isso tudo vai parar. Há um grande prejuízo para o produtor”, afirmou, ao Só Notícias/Agronotícias.
Segundo Marcos, as denúncias também devem paralisar o andamento das discussões sobre o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural). Esta semana, conforme ele, governo e o setor acertaram as últimas tratativas e havia expectativa que a Medida Provisória para regulamentar a cobrança fosse publicada nos próximos dias.
“A MP era importante para evitar a inadimplência. Agora, fica a dúvida: será que vão trabalhar e ainda liberar esta medida? Acredito que ficará tudo parado, a não ser que o governo tenha responsabilidade e o país estiver acima dos problemas pessoais de cada um. Do que criaram para si. Daí, pode ser que as coisas andem. Se o que vale é o que afetou pessoalmente os parlamentares e o governo, estamos em um país sem Legislativo e sem Executivo neste momento”.
Conforme Só Notícias/Agronotícias já informou, no início da noite, o jornal O Globo publicou reportagem, segundo a qual, em encontro gravado, em áudio, pelo empresário Joesley Batista, do grupo JBS, Temer teria sugerido que se mantivesse pagamento de mesada ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e ao doleiro Lúcio Funaro para que esses ficassem em silêncio. Batista, conforme a reportagem, firmou delação premiada com o Ministério Público Federal e entregou gravações sobre as denúncias.
Logo após a publicação, o presidente Michel Temer emitiu nota dizendo que “jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha”, que está preso em Curitiba, na Operação Lava Jato. Disse ainda que “não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”. Segundo a Presidência, o encontro com o dono do grupo JBS foi no começo de março, no Palácio do Jaburu. “Não houve, no diálogo, nada que comprometesse a conduta do presidente da República”.
Na mesma reportagem, o jornal revelou que Joesley Batista disse que o senador Aécio Neves pediu a ele R$ 2 milhões. De acordo com a gravação, o dinheiro foi entregue a um primo de Aécio. A reportagem diz ainda que a entrega foi registrada em vídeo pela Polícia Federal. A PF rastreou o caminho do dinheiro e descobriu que o montante foi depositado em uma empresa do senador Zezé Perrella.
Esta manhã, agentes da Polícia Federal (PF) e procuradores do Ministério Público Federal (MPF) estiveram em endereços de Aécio Neves, em Minas Gerais, e de sua irmã, Andrea Neves, na zona sul do Rio de Janeiro. Andrea já foi presa. O pedido de prisão para o senador, por outro lado, foi negado pelo ministro Edson Facchin. Aécio foi afastado do Senado.