Um momento em que o sentimento de uma oferta global de soja mais confortável se mostra mais presente entre os negócios com a oleaginosa tem mantido os preços os preços da commodity pressionados. Limitadas na Bolsa de Chicago, as cotações comprometem também, e portanto, a formação das referências nas demais origens também encontram pouco espaço para recuperação.
Nesta semana, o mercado internacional caminhou de lado e parece buscar uma direção diante de algumas novas informações recebidas nos últimos dias. Assim, no Brasil, a situação foi semelhante, e os preços caminharam em direções diferentes, dependendo das regiões.
No Paraná, os preços nas principais praças de comercialização perderam entre R$ 0,50 e R$ 2 por saca – ou até 3,39%. No Mato Grosso, as perdas se aproximaram de R$ 1,30 em algumas localidades, como Rondonópolis, mas subiram até R$ 1,50 em Tangará da Serra e Campo Novo do Parecis.
Nos portos, as baixas também chegaram a passar dos 2%, com a soja disponível encerrando os negócios com R$ 69,50 em Paranaguá e Rio Grande. Para junho, R$ 70,50 por saca no terminal paranaense.
Na última quarta-feira, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe um aumento de sua estimativa da produção e dos estoques globais de soja reforçando ainda este sentimento, segundo explicam analistas e consultores de mercado.
“Com o incremento nos estoques finais de 3 milhões de toneladas, o mercado se tornou mais seguro (…) Porque vê que não precisa tanto ‘empenho’ neste momento”, diz Marlos Correa da Insoy Commodities.
O USDA trouxe, em seu último reporte mensal de oferta e demanda, estoques finais globais projetados em 90,14 milhões de toneladas para a safra 2016/17. Se comparado à temporada anterior, o número é 16,94% maior e, em relação a 2013/14, esse aumento é de 22,32%.
E desde a safra 2013/14, os estoques finais mundiais de soja vêm exibindo crescimentos expressivos, acompanhando a evolução das colheitas nos principais estados produtores. Trabalhando no mesmo intervalo, a produção mundial de soja 2016/17 é 11,10% maior do que a anterior e supera a 2013/14 em 21,99%.
A exceção, é importante lembrar, fica por conta de 2015/16 quando, em função de adversidades climáticas, as safras sofreram perdas expressivas tanto nos Estados Unidos, quanto na América do Sul.
Na sequência, o mercado volta, aos poucos, seus olhos para a nova safra norte-americana que começa a se desenvolver no Corn Belt. O plantio foi iniciado sob muita chuva e temperaturas mais baixas do que o normal para esse tempo de primavera no país e o cenário acaba trazendo algumas incertezas. Até o último domingo (7), 14% da área de soja já havia sido plantada, contra 21% do ano passado e 17% da média plurianual.
“Do ponto de vista fundamental, o cenário é de abundância de soja e, portanto, justifica essa pressão sobre os preços. No entanto, como sempre, o mercado vive de incertezas e o clima, primeiro nos EUA e depois na América do Sul, pode ser um fator que altera esse cenário”, explica o diretor da Cerealpar e consultor do Kordin Grain Terminal, de Malta, Steve Cachia.
Assim, para o executivo, as próximas oito semanas podem definir uma direção mais clara para os preços, já que é nesse intervalo que a safra americana também já começa a dar os sinais mais efetivos de seu potencial. Ainda no reporte da última quarta, o USDA trouxe uma produtividade esperada de 54,42 sacas por hectare para a safra 2017/18, considerada por muitos analistas e consultores distante do potencial americano.
Se confirmado, o rendimento médio seria 7,87% menor do que o da safra anterior e assim, mesmo com um incremento de área estimado em 7%, a safra americana chegaria aos 115,8 milhões de toneladas, contra as 117,22 milhões de 2016/17. Porém, se a produtividade superar esse número e chegar, ao menos, nos números da temporada anterior, a colheita dos EUA poderia ir para a casa das 125 milhõe de toneladas, ainda como explica Correa.
E com isso, segundo o analista da Insoy, apesar dos problemas que ocorrem agora e dos que podem vir mais adiante – com todo o foco voltado para o clima no Meio-Oeste – o mercado se mantém mais cauteloso com a possibilidade de uma safra maior do que atualmente projetada neste momento. “Esses números de agora são mais conservadores”, diz.
Com uma safra de 115,8 milhões, o USDA estima estoques finais norte-americanos em 13,06 milhões de toneladas, 10,3% maiores do que os da safra anterior.
E com safras menores sendo esperadas para os EUA e para a América do Sul, a produção mundial também deve ser menor na temporada 2017/18, segundo os últmos números do USDA, e ficar em 344,68 milhões de toneladas, e os estoques finais globais em 88,81 milhões. Confirmados, as baixas serão de 0,97% e 1,48%, respectivamente, na comparação com 2016/17.
Soja USDA Maio
O principal fator de alívio dessa pressão da oferta sobre os preços continua vindo da outra ponta da relação oferta x consumo. “A demanda deve continuar forte, liderada pela China, e isso ajuda também a aliviar a situação de oferta abundante e pressão”, diz Cachia.
Assim como crescem, afinal, a produção e os estoques de soja mundo a fora, o movimento nada mais do é que uma necessidade global também maior, com dados de consumo que também impressionam. Somente a China segue aumentando suas compras a cada ano e, para esse novo ano comercial, a estimativa do USDA é de que as importações da nação asiática cheguem as 93 milhões de toneladas, 4% a mais do que as 89 milhões estimadas para o presente ano comercial.
“As importações deverão continuar a crescer nos próximos meses, uma vez que a demanda chinesa por soja para a produção de ração animal e óleos comestíveis é contínua”, dizem os executivos do banco internacional Commerzbank. “Assim, a demanda muito robusta – especialmente da China, que responde por 60% do total – deve continuar dando sustentação às cotações da soja”.
E além das vendas muito aquecidas nos Estados Unidos, com um total comprometido pelo país em mais de 57 milhões de toneladas, as exportações e os embarques no Brasil também acontecem de forma bem satisfatória, apesar de um ritmo de vendas mais lento do que do ano passado. “A comercialização é mais lenta, mas a safra é maior e as exportações estão em ritmo recorde”, explica o diretor da Cerealpar.
Em abril, de acordo com os últimos números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil exportou um volume recorde de soja de 10.432,1 milhões de toneladas, contra pouco mais de 8,7 milhões em março e mais do que em abril anterior, quando foram exportadas 10.085,9 milhões. No acumulado do ano comercial, as vendas externas brasileiras já somam 23.832,4 milhões de toneladas. No ano passado, nessa mesma época, o total era de 20,8 milhões de toneladas.
Novas Vendas
Para os volumes que o produtor brasileiro ainda têm para comercializar o atual cenário significa, ainda de acordo com Steve Cachia, a possibilidade de chegada de novas – e talvez curtas – janelas de vendas.
“Para a soja não comercializada, significa que pode haver momentos e oportunidades de preços ligeiramente melhores e que podem ser aproveitados, principalmente, por aqueles que estão muito atrasados na comercialização. Já para aqueles que estão bem adiantados, é muito provável vermos que eles vão querer especular mais com possibilidades de clima adverso em julho e agosto nos Estados Unidos. É tudo relativo”, explica o analista.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em seu último levantamento de safra trouxe a produção brasileira de soja estimada em 113,01 milhões de toneladas, e o USDA em 111,6 milhões.
“Hoje, analisando line-up e previsão de exportação para maio, já vemos a possibilidade de uma queda para algo entre 8 e 8,5 milhões de toneladas, e isso muito devido a falta de venda do produtor. Os produtores estão segurando as vendas, esperando o preço melhorar – com razão, na minha opinião – mas tem que tomar muito cuidado com o final do ano e ele segurar demais essa soja”, explica o consultor da INTL FCStone, Gustavo Bezerra.
Semana em Chicago
Na Bolsa de Chicago, os futuros mais negociados da soja fecharam a semana perdendo entre 0,70% e 1,03% no balanço semanal. O contrato julho/17 foi a US$ 9,63, enquanto o novembro/17, referência para a safra americana, ficou com US$ 9,59 por bushel.