O déficit de armazenagem em Mato Grosso, estimado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 22 milhões de toneladas, pode representar uma oportunidade para os produtores. Este foi o mote da palestra do pesquisador da Esalq Mauro Osaki, durante o Simpósio Agroestratégico, realizado esta manhã, em Cuiabá.
Ao Só Notícias/Agronotícias, o pesquisador explicou que, em seu estudo, comparou a capacidade estática brasileira com a americana e descobriu uma grande diferença de cenários. “Identificamos que, nos Estados Unidos, há uma capacidade estática de armazenamento 25% superior à produção. Quanto entramos no retrato brasileiro, notamos que a capacidade é muito inferior à produção. Em algum momento, a partir da década de 90, a capacidade deixou de acompanhar o campo”, afirmou.
Para Osaki, o déficit de armazenagem obriga os agricultores a venderem a produção “às pressas”, obtendo, assim, preços menos vantajosos. “Na região de Sorriso, nosso estudo identificou que os picos de maior pressão de preços ocorrem de fevereiro a maio. Nesta época, há uma diferença de até 40% em relação ao Porto de Paranaguá (PR). No período de pico, sem ter onde guardar, o desespero dos produtores de escoar e vender o mais rápido possível derruba os preços”.
De acordo com o pesquisador, o estudo identificou uma oportunidade para os produtores. “Há possibilidade do produtor armazenar durante o período de safra e vender o produto na entressafra”. A ideia, no entanto, ainda esbarra nos custos. “Não é um investimento barato. Estamos falando de milhões de reais. Além da estrutura física, ainda necessita pessoal especializado durante a safra e período de armazenagem. É praticamente uma nova empresa dentro da empresa”.
A sugestão de Osaki, durante a palestra, foi o sistema de condomínio de compras, aplicado atualmente ao mercado de fertilizantes. “Seria uma espécie de condomínio de armazenagem, com a venda de cotas. É possível você fazer estas cotas e comercializar, rateando o custo fixo para diferentes sócios deste armazém. Esta é a melhor solução no meu ver para Mato Grosso”.
O pesquisador, por outro lado, reconheceu que o estudo ainda precisa avançar na análise de uma possível “obsolescência” dos produtos. “Temos este problema principalmente com o milho. A avaliação que fizemos é que o milho primeira safra entra seis meses depois da colheita da segunda safra. Quando você colhe em julho e tenta vender em dezembro, por exemplo, logo depois tem a colheita da primeira safra na região Sul. Então o comprador dará preferencia para o produto mais novo. Começa a depreciar. Para contornar isto, talvez tenhamos que achar um meio termo. Este foi o desafio lançado hoje para avaliar qual é a probabilidade real de ganho para o produtor”.
A palestra de Osaki ocorreu durante o 4º Simpósio Agroestratégico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), realizado no centro de eventos Pantanal, em Cuiabá. O evento reuniu produtores, estudantes, jornalistas, pesquisadores e representantes de diversas entidades para discutir temas relativos ao agronegócio.