Especialistas calculam que, nas últimas três décadas, os agricultores do Brasil tenham lançado, em terras com plantios de grãos, 300 quilos de fósforo por hectare a mais, o equivalente a dez quilos por hectare a cada ano. Isso significa um excedente de R$ 54 bilhões em relação ao que é recomendado para corrigir o solo.
De acordo com pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – Unidade Cerrados (DF), a eficiência do uso de fertilizantes com fósforo (P) é considerada baixa no país, principalmente por causa do manejo inadequado do solo e de problemas ligados à adubação, especialmente a fosfatada.
“A adubação fosfatada é uma prática agrícola que consiste em aplicar fertilizantes fosfatados ao solo, para tornar produtivos aqueles naturalmente pobres em fósforo (adubação corretiva) ou para manter a produtividade de solos já corrigidos (adubação de manutenção), suprindo a demanda da planta a ser cultivada em uma propriedade”, explica o químico Djalma Martinhão Gomes de Sousa, pesquisador da Embrapa Cerrados e mestre em Ciência do Solo.
De acordo com ele, “essa prática é imprescindível na agricultura brasileira, pois a maioria dos nossos solos, em condições naturais, não conseguiria atender à necessidade de fósforo das plantas”. “Assim, a aplicação de fertilizantes fosfatados propicia boas produtividades das culturas de grãos, pastagens, mandioca, dentre outras”, acrescenta ele, em entrevista à equipe SNA/RJ.
Sousa alerta para a redução desse gasto com fertilizantes pelo produtor rural, que pode ter um impacto bastante positivo no custeio da lavoura, na medida em que o que se gasta com fósforo representa 20% do valor do custo produtivo. Para ele, esse tema se torna ainda mais importante, pois tem se observado, nos últimos anos, um aumento de preços dos fertilizantes fosfatados.O especialista ainda compara. “Enquanto o calcário custa 50 reais a tonelada, o fertilizante fosfatado custa R$ 1,5 mil, ou seja, 30 vezes mais”.
O pesquisador explica que o calcário age no solo como um corretivo de acidez, sendo também supridor de cálcio e magnésio para as plantas: “A aplicação do calcário ao solo aumenta a eficiência do uso dos fertilizantes, com destaque para os fertilizantes fosfatados, devido ao melhor desenvolvimento das raízes das plantas, pois corrige o alumínio tóxico e fornece cálcio e magnésio, condições essenciais para o bom desenvolvimento da planta”.
Ele destaca a importância da aplicação do calcário no aumento da eficiência de utilização do fertilizante fosfatado pela soja. “Para adubação com 200 kg ha-1 de P2O5 (pentóxido de fósforo) na ausência do calcário, foram produzidas 1,2 tonelada por hectare de soja, enquanto que, com a calagem, a produtividade foi de 3,1 toneladas por hectare, ou seja 2,6 vezes maior.”
De acordo com Sousa, é importante destacar o preço do calcário, que custa cerca de 80 reais a tonelada, enquanto o fertilizante fosfatado solúvel com 45% de pentóxido de fósforo custa aproximadamente R$ 1,4 mil a tonelada. “Outra coisa a mencionar é o grande efeito residual do calcário que, para solos bem manejados ,é em torno de cinco anos ou mais. Portanto, a correção da acidez do solo com calcário é essencial para um bom retorno econômico da aplicação dos fertilizantes fosfatados”, avalia.
A escolha da adubação deve, em tese, aliar benefícios ao solo e, consequentemente, ao meio ambiente e ao produtor rural, mas “a recomendação ideal é particular e dinâmica, sendo única em função da espécie de planta, sistema de produção e condições de solo e clima, evoluindo de acordo com as mudanças que ocorrem no ambiente interno da propriedade e com as condições de mercado”.
É o que explica o agrônomo, mestre e doutor em Agronomia Rafael de Souza Nunes, também pesquisador da Embrapa Cerrados: “Nesse sentido, é essencial que o produtor busque atualização do conhecimento e esteja conectado às situações de mercado”.
De acordo com o especialista, experimentalmente foram identificados sistemas de manejo capazes de gerar retorno financeiro com máxima eficiência de utilização do fertilizante fosfatado. No entanto, ele diz que, “a cada dia, os sistemas agrícolas se tornam mais complexos, daí a importância de continuar os estudos nas mais diversas modalidades de cultivos”.
Nunes ainda destaca que muitas áreas agrícolas encontram-se com excessos de fósforo residual no solo, como resultado de um sistema produtivo pouco eficiente no passado. “Estamos desenvolvendo técnicas que permitirão, ao produtor, identificar de forma mais precisa essas quantidades em excesso no solo e utilizá-las com redução nas quantidades a serem aplicadas a cada ano, sem perdas de produtividade, resultando em grandes benefícios econômicos e ambientais”, informa o agrônomo, em entrevista à equipe SNA/RJ.
Para o pesquisador Djalma Martinhão Gomes de Sousa, existem alguns entraves para a expansão do manejo da adubação fosfatada na prática, no campo: “A falta de gerenciamento da propriedade no que diz respeito ao controle da quantidade de fertilizante fosfatado aplicado e produtividades obtidas em cada talhão ao longo do tempo impede a estimativa do residual do nutriente no solo”.
Conforme o químico, “isso, associado à falta de qualidade na amostragem do solo e análises laboratoriais, dificulta os ajustes nas doses a serem utilizadas em adubações futuras, resultando em frequentes excessos, como margem de segurança”.
Ele também cita outro fator importante. “É que, frequentemente, o manejo de adubação fosfatada adotado, no que se refere à fonte do fertilizante escolhida ou ao manejo da sua aplicação, é determinado por fatores econômicos ou operacionais, em detrimento dos aspectos agronômicos”.
“Cabe ressaltar que é imprescindível que a informação chegue até o produtor rural de forma clara e sistemática, destacando a importância dos órgãos de transferência de tecnologia e veículos de informação.”