Na conta da formação dos preços da soja em 2017, a disputa cambial entre China e Estados Unidos deverá ocupar mais espaço entre os negócios e chamar mais a atenção dos players nas próximas semanas. O ano começou com o yuan forte e registrando seu mais elevado patamar frente ao dólar em um ano. E apesar de algum recuo nesta sexta-feira (6), em dois dias, no início da semana, a alta do yuan foi de 2,5% frente ao dólar.
Analistas ouvidos pela publicação chinesa China Daily afirmam esperar um movimento de novas altas da moeda da nação asiática frente à americana ou apenas um ligeiro recuo na medida em que os fundamentos da economia local sigam melhorando.
A expectativa de especialistas é de que este ano a China irá mais do que redobrar os esforços para proteger sua moeda. A analista da Guoyuan Securities, Zheng Min, explica que boa parte da influência neste movimento do yuan se dá também pelo acompanhamento das mudanças nos reguladores monetários. “O banco central disse, repetidamente, que irá manter o yuan estável e que sua recente regulação do câmbio e do fluxo de capitais já começou a funcionar”, explicou em nota, a executiva.
Em contrapartida, a projeção é de que esse seja um ano de força para o dólar também, acentuada pela chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, que toma posse no próximo dia 20. “Ainda assim, a depreciação do yuan seria fraca frente ao dólar”, diz a analista da Guoyuan. Se tudo o empresário diz será efetivamente cumprido, não se sabe. Afinal, a relação comercial EUA-China é uma das das mais importantes do mundo, se não a mais.
A expectativa é de que com a promessa de estímulo à economia americana de US$ 1 trilhão feita por Trump sendo cumprida, o Federal Reserve deve continuar subindo a taxa de juros do país agora em 2017. Segundo especialistas ouvidos pela Bloomberg, na medida em que essa medida for se confirmando, a economia chinesa poderia sentir alguns efeitos positivos. Além disso, pode estimular ainda uma alta dos juros também pelo Banco Popular da China.
Ao mesmo tempo, há ainda o futuro do primeiro ministro chinês Li Keqiang também incerto este ano. A expectativa era de que o premier se mantivesse no cargo para um segundo mandato de cinco anos, conservando sua parceria com o presidente Xi Jinping até 2022, porém, agora já há rumores de que ele poderia ser substituído, ameançando as reformas de abertura de mercado defendidas por ele, além das revisões das empresas estatais. Assim, a perspectiva é de que, caso ele de fato deixe o cargo, a postura de maior centralização defendida pelo presidente Xi prevaleça.
Como essa relação e o andamento de ambas as moedas vai impactar na demanda chinesa por soja norte-americana é ainda uma das grandes dúvidas do mercado para este ano. A moeda local fortalecida estimula as importações chinesas, a qual, no entanto, vai enfrentar a divisa de uma de suas principais origens de soja também forte. A expectativa agora será, portanto, quanto dessa demanda deverá se voltar com origens mais baratas na América do Sul.
“Este é apenas um dos fatores. Se for somente este, o mercado resolverá. O duro é se começar uma guerra comercial com a interferência de governos nos mercados e de forma muito acentuada, com cotizações, tarifas, barreiras”, explica Camilo Motter, analistas e economista da Granoeste Corretora de Cereais. “O jogo da moeda é o mercado. Claro que o câmbio também pode sofrer interferências acentuadas, sobretudo em se tratando da China, mas em oscilações aceitáveis, como as que estamos vivendo hoje”, completa.
Vendas Semanais Americanas
Nesta sexta-feira, o USDA (Deparatamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe seu novo boletim semanal de vendas para exportação e os números da soja voltaram a surpreender o mercado. No entanto, dessa vez o impacto foi bastante negativo, já que na semana encerrada em 29 de dezembro, as vendas somaram apenas 87,7 mil toneladas da oleaginosa. Foram 87,7 mil da safra 2016/17 e mais 200 da 2017/18.
O volume ficou bem abaixo das expectativas, que variavam de 800 mil a 1,2 milhão de toneladas, além de apresentar um recuo de 91% em relação à semana anterior e registrar a mínima em um ano. E a China continua sendo o principal destino da oleaginosa norte-americana. Ainda assim, o total já comprometido pelos EUA nesta temporada continua superando o ano anterior, com 47.972,7 milhões de toneladas e expectativa de que as exportações totalizem 55,79 milhões de toneladas.
O mercado já esperava por uma redução no ritmo das vendas norte-americanas neste início de ano em função das compras fortes nos últimos meses por parte dos importadores e de uma demanda começando a migrar para a América do Sul, e de forma cada vez mais efetiva na medida em que a oferta brasileira já começa a chegar aos armazéns. Assim, o volume baixo do resultado final e as trocas de contratos (ou movimentos de washouts) que vieram reportados pesaram diretamente sobre as cotações.
Dessa forma, e já se ajustando às últimas informações sobre o clima na América do Sul – onde as lavouras estão em fases decisivas – e também às especulações sobre dois reportes do USDA que chegam este mês, o mercado da soja fechou a sessão desta sexta-feira com perdas expressivas. Os contratos mais negociados encerraram os negócios com perdas de 14,50 a 17,75 pontos. O janeiro/17 foi a US$ 9,86 e o maio/17, referência para a safra brasileira, a US$ 10,03 por bushel.
Fonte: Notícias Agrícolas