As últimas projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam uma queda na segunda safra de milho do Brasil em 2018 – reflexo de uma conjunção de fatores – e já são esperadas reações entre os preços do cereal. No entanto, essas são reações que podem demorar ainda a chegar, dada a oferta confortável pela qual passa o país, ao menos por enquanto.
Com o atraso do início do plantio da soja em função da demora na chegada das chuvas em importantes regiões produtoras Brasil a fora, os produtores pretendem investir menos na cultura, dada a janela mais estreita para os trabalhos de campo. Os investimentos são altos e os resultados poderão ficar prejudicados.
Os dados mostram que a segunda safra deverá ser de algo próximo a 67.107,9 milhões de toneladas 2016/17, contra 67.355,1 milhões de toneladas 2017/18. Essa baixa, porém, pode ser mais expressiva caso os problemas, principalmente climáticos, continuem a ser registrado nos campos, bem como as preocupações dos produtores.
Somente em Mato Grosso, de acordo com números do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), a baixa poderá ser de 18,75% na segunda safra do estado – com uma queda de 10% da área para 4,2 milhões de hectares. “E essa queda se dá por conta dos preços baixos e esse início de semeadura da soja que acabou acontecendo mais tardiamente do que no ano passado”, explica Ângelo Ozelame, gestor técnico do instituto. A produtividade de Mato Grosso na safrinha também é esperada para ser menor, podendo passar de 107 para 97 sacas por hectare.
No Maranhão, 30% da área inicialmente estimada para o milho safrinha não serão cultivados nesta próxima temporada, segundo relata o presidente da Aprosoja MA, José Carlos Oliveira de Paula, em entrevista ao Notícias Agrícolas. “Não adianta arriscar. Mesmo usando uma tecnologia boa, é arriscar e, hoje, o custo está muito alto. Então, a maioria dos produtores está retraído no caso do milho”, diz.
A situação não é diferente no Paraná. Muitas regiões produtoras do estado estão com um atraso no plantio e no desenvolvimento da soja, com a janela para a semeadura da safrinha também ajustada. “Se for para investir bem, já dá medo, porque se produz menos e não fecha o custo”, explica Ildefonso Ausec, produtor rural de Doutor Camargo, no noroeste paranaense.
Nos arredores de Pato Branco, o cenário é parecido. Cálculos feitos para a região mostram que para cada dia de atraso no plantio do cereal, a possibilidade de perda de produtividade é de 3 a 5 sacas por hectare, de acordo com o presidente do Sindicato Rural local, Oradi Caldato.
Com a confirmação desse quadro, o mercado brasileiro de milho pode chegar a um momento de oferta mais ajustada e, portanto, cotações melhores. No entanto, como explica o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o Brasil ainda vira o ano com uma quantidade de produto que limita essa reação dos preços e um movimento de mudança deverá ser observado apenas em meados de abril e maio de 2018.
As cotações futuras do milho – base porto – já se mostram melhores. Nesse momento, variam entre R$ 29,50 e R$ 30 por saca e, quando observados os meses de julho e agosto do ano que vem, o patamar sobre para algo entre R$ 32 e R$ 34. Ainda assim, como explica Brandalizze, estes são preços que ainda não atraem os vendedores.
Com esse nível, as cotações no interior de Mato Grosso, descontando o frete, leva as cotações a um intervalo de R$ 16 e R$ 17, que não estimula novos negócios dado, mais uma vez, o alto custo de produção do grão.
Dessa forma, a comercialização da safrinha de milho está parada no país. “Podemos dizer que a comercialização nem andou. Temos menos de 5% da safrinha vendida, enquanto, em outros anos, já era algo de 20% a 30% nessa época”, explica o consultor. “Os produtores estão comprando insumos, sementes, com recursos próprios, buscando alternativas, mas os negócios estão parados”, completa.
Para os negócios voltarem a fluir, ainda segundo Brandalizze, e também considerando o interior de Mato Grosso, os valores nos portos teriam de alcançar entre R$ 36 e R$ 38, para liquidar em R$ 20 a R$ 22 no Estado.
As exportações também perderam um pouco de ritmo no Brasil nos últimos meses e deverão, como relata o consultor, fechar o ano com números abaixo das expectativas. “As estimativas iniciais mostravam de 32 a 34 milhões de toneladas, devemos exportar 28 milhões ou até um pouco abaixo”, diz.
“O produtor vendeu o que precisava, e os preços também não reagiram muito nos portos”, complementa Brandalizze, ao explicar o esfriamento das vendas externas do Brasil. “E ele ainda segura parte de suas vendas para o ano que vem, por conta do ano fiscal”.
Além disso, embora os preços do milho estejam alinhados com os dos demais exportadores, seus prêmios são mais elevados neste momento. O cereal do Brasil conta com algo entre 55 e 70 cents de dólar por bushel acima dos valores praticados em Chicago, contra o americano, que tem de 35 a 40 cents.
Esse cenário, porém, é temporário, ainda de acordo com Brandalizze. “No ano que vem, tudo muda. A produção e as exportações americanas serão menores (com as vendas caindo cerca de 10 milhões de toneladas) e vão abrir espaço para o Brasil”, relata.
Além disso, a China deverá atuar com mais expressão nas importações de milho no próximo anos, com uma demanda prevista para crescer, até 2020, 10 milhões de toneladas por ano, como explica o consultor. A força principal vem do setor do etanol, onde a proposta é se aumentar para 10% o volume do combustível na gasolina, que hoje fica entre 2% e 3%.