Segundo maior produtor de soja no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, no ano passado, o Brasil exportou 51,6 milhões de toneladas da oleaginosa, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Em 2016-2017, o País deverá colher 113,923 milhões de toneladas, em uma área plantada de 33,9 milhões de hectares, de acordo com a Embrapa. A cada ano, a safra de soja tem aumentado e, com isso, os problemas recorrentes de logística para o escoamento da produção, que têm preocupado produtores e pesquisadores em busca de uma solução para reduzir as perdas, o custo do transporte e as emissões de gases de efeito estufa.
Umas das pesquisas, nesse sentido, realizada na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, concluiu que a transformação da rota de exportação da soja brasileira, da região de Sorriso ao Porto de Santos (SP), em um corredor verde poderia diminuir em 55,5% as emissões de gás carbônico e em 84,8% as de óxido de nitrogênio. Mostrou, ainda, que iniciativa também ajudaria reduzir o tempo das viagens em 15,8%, o congestionamento na região portuária em 16,7% e o custo do transporte em 3,1%.
Segundo João Ferreira Netto, pesquisador do Centro de Inovação em Logística e Infraestrutura Portuária, do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Poli-USP, a pesquisa é resultado de uma parceria com pesquisadores da Suécia, que já estudam os corredores verdes na Europa há alguns anos. “A parceria e o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) nos permitiu conhecer melhor os princípios e estudos dos projetos europeus, in loco, e expandir os contatos com pesquisadores de alguns país da Europa, o que ajudou muito na conclusão da pesquisa”, informa.
João Ferreira Netto, pesquisador do Centro de Inovação em Logística e Infraestrutura Portuária da Poli-USP, afirma que ‘o maior volume de soja exportado para o Brasil é escoado via Santos, mas o corredor até o Pará é o que apresenta maior potencial porque utiliza grande trecho do modal hidroviário’.
Netto explica que estudou três rotas utilizadas para o escoamento da produção de soja e verificou que é possível implementar corredores verdes no País, apesar das sérias deficiências em infraestrutura. Segundo ele, o trecho com maior potencial para ser convertido em corredor verde é o de Sapezal-Santarém. “O maior volume de soja exportado para o Brasil é escoado via Santos, mas o corredor até o Pará é o que apresenta maior potencial porque utiliza grande trecho do modal hidroviário”, avalia. No entanto, de acordo com o pesquisador, o corredor é subutilizado porque os terminais não têm capacidade adequada.
Para ele, o corredor até Santos apresenta, hoje, os melhores indicadores de confiabilidade, pois tem menor probabilidade de atraso nas entregas, porque usa a ferrovia, além de apresentar maior rapidez. “Essa rota, porém, está sobrecarregada e o impacto causado na população de Santos pelo uso desse corredor nos períodos de safra é grande, por conta dos congestionamentos e das emissões causadas pelos caminhões que chegam ao porto”, acrescenta.
Na opinião do pesquisador, no caso do corredor Sorriso – Santos, por exemplo, o uso de veículos movidos a gás natural poderia reduzir em 70% as emissões de óxido nitroso e 12,5% as de gás carbônico. “O uso de unidades de carga e descarga automática e o carregamento intermodal, poderia reduzir o tempo de viagem em 7,1% e 8,7%, respectivamente”, calcula.
Além disso, ele afirma que se fosse adotada a tecnologia de recuperação da energia de frenagem e sistemas de energia a bordo no sistema ferroviário, a redução das emissões de gás carbônico ficaria próxima de 10%. “O o de caminhões híbridos (movidos a biodiesel ou eletricidade) diminuiria em 2% os custos e em 18,3% as emissões de gás carbônico.”
De acordo com o pesquisador, os benefícios dos corredores verdes se relacionam ao tripé da sustentabilidade, que são os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Conforme explica, emm relação aos aspectos econômicos, os corredores verdes trazem maior eficiência fazendo com que as viagens sejam mais rápidas e apresentem melhor custo benefício para quem depende do frete, do ponto de vista social, ajudam a diminuir os impactos que os transportes trazem aos centros urbanos e, consequentemente, à vida das pessoas”, acrescenta.
Netto sustenta que o conceito de corredores verdes traz à tona uma preocupação com os efeitos das atividades de transporte ao meio ambiente, principalmente no que se refere à emissão de gases poluentes e causadores do efeito estufa.
“Para operar com corredores verdes no Brasil é necessário que haja uma mudança na forma como os organismos públicos e privados busquem maior eficiência nas operações para que estas aconteçam de forma a mitigar os impactos ambientais”, salienta. “Além disso, é preciso que haja investimentos em infraestrutura para transportes, o que inclui, terminais, melhorias nas vias utilizadas e maior rapidez nos processos de liberação das cargas.”
As informações da pesquisa foram divulgadas pela assessoria da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).