Produzir etanol de milho pode ser um destino viavél para a o excedente do grão produzido pelo Brasil, segundo o chefe geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Milho e Sorgo, Antônio Álvaro Corsetti Purcino. A produção de milho no Brasil já cresce ano a ano e ainda há, segundo a Embrapa, mais de 10 milhões de hectares de área disponível para o milho entrar em sucessão à soja.
Dar destino ao milho produzido é uma questão em alguns locais, especialmente em Mato Grosso, onde imagens de montes de grãos colocados ao ar livre circularam nas últimas semanas. O estado passou, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de uma produção média entre 2011/12 e 2013/14 de 17,85 milhões de toneladas para 29 milhões de toneladas em 2016/2017, o que corresponde a 28,5% da produção em todo o país.
Desse total, 3 milhões de toneladas são consumidas no estado. O excedente médio de milho no Mato Grosso tem beirado 15 milhões de toneladas, que precisam ser escoadas para outras regiões do Brasil ou exterior. “Tem muito milho que não se consegue dar uso, vemos que estão armazenando nas estradas, igrejas e outros locais, porque o milho não tem preferência no armazém, onde a preferência é da soja, que tem maior valor agregado”, diz Purcino.
Segundo ele, o etanol de milho começa a ser produzido nos Estados Unidos com o objetivo de agregar valor ao produto. Como maior produtor mundial, o país queria potencializar o lucro, uma vez que vender apenas o grão trazia um retorno baixo.
Mato Grosso destaca-se no cenário nacional pela grande produção de milho e pelo preço, baixo o suficiente para a produção do combustível. Para se ter ideia, em 2013, foram consumidos 626,2 milhões de litros de etanol no estado. Caso o etanol de milho respondesse por metade desse mercado, seriam necessários 846,2 mil toneladas do grão para essa finalidade, considerando que uma tonelada de milho produz 360 litros de etanol. “Ou seja, não é um problema de abastecimento usar o milho na produção de etanol”, diz Purcino.
Além de Mato Grosso, a Embrapa identifica áreas com possibilidade de ampliar a produção de milho também em outros estados como Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Roraima e no Distrito Federal.
O pesquisador destaca, no entanto, que é preciso tomar um certo cuidado com a produção de etanol. É preciso investir em tecnologia para gerar energia renovável e é preciso estar atento ao mercado mundial, se quiser vender o produto para fora do país. Atualmente, o Brasil detém 27% do mercado mundial de etanol, tendo como principal matéria prima a cana-de-açúcar. O país fica atrás apenas dos Estados Unidos, com 58%.
O mercado do etanol de milho, no entanto, enfrenta algumas barreiras externas. A União Europeia, por exemplo, em diretiva, propôs a eliminação de biocombustíveis com base em culturas alimentares a partir de 2021. Além disso, estudo do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, mostra que o etanol de milho não é considerado um combustível avançado por reduzir apenas de 15% a 20% a emissão de gases causadores do efeito estufa. O combustível precisaria reduzir pelo menos 50% – o etanol da cana reduz de 40% a 60% – as emissões. Isso fez com que o estado rejeitasse o etanol de milho.
Purcino participou hoje do 5º Fórum de Agricultura da América do Sul, promovido pelo Agronegócio Gazeta do Povo, em Curitiba. Presente na mesma mesa de discussão, o representante da FS Bioenergia – empresa produtora de etanol de milho em Lucas do Rio Verde (MT) – Eduardo Mota defendeu a produção e destacou vantagens do etanol de milho.
Segundo ele, a pesquisa conduzida nos Estados Unidos não pode ser aplicada à produção brasileira, que não utiliza gás natural e, portanto, não tem níveis superiores de redução da emissão de gases de efeito estufa. Além disso, ele destaca que além do etanol a empresa produz diversos derivados, é capaz de gerar também ração para animais, energia elétrica para a comunidade, entre outros produtos.