Depois de amargar queda consecutiva e crescente no valor das exportações nos últimos 3 anos, Mato Grosso tem previsões melhores para o fechamento deste ano, influenciado, principalmente, pela produção recorde de grãos e pela valorização do preço de algumas commodities nos últimos meses. No 1º semestre do ano, o montante gerado com as exportações alçou US$ 8,406 bilhões com o envio de 19,625 milhões de toneladas, segundo dados da balança comercial, divulgados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).
Apesar da redução de 2% frente ao mesmo período do ano passado (US$ 8,216 bilhões), o volume das exportações deve se superar no 2º semestre, quando finaliza a colheita da 2ª safra do milho, a maior da história, e também quando será negociado o que ainda resta da safra de 2016/2017 de soja, que atingiu 78,2% de comercialização em junho.
O economista Vitor Galesso explica que a curva decrescente dos últimos 3 anos no valor das exportações foi puxada, especialmente, por 2 fatores: crises econômicas que resultaram em queda de preço; e redução da demanda mundial por alimentos, com a oferta cada vez maior de fornecedores a nível mundial, além da diminuição na taxa de crescimento populacional e de investidores nesse mercado, que deixou de ser primordial. Galesso afirma que até poucos anos havia uma demanda crescente por alimentos, principalmente, nos países mais populosos, como China e Índia.
“O volume de produção e consumo de alimentos permaneceu em crescimento. A commodity se tornou atrativa para investimentos e houve um avanço constante de produção no mundo. Nos últimos anos, o preço das commodities desvalorizou um pouco devido ao crescimento na oferta, e o produto deixou de ser fundamental para os investidores”.
Segundo ele, a crise financeira internacional de 2008 foi fator preponderante para a queda de valor das commodities agrícolas e das exportações, bem como a crise financeira que chegou ao Brasil de forma mais intensa em 2014, o que causou reflexos no mercado interno com a desvalorização do real e, consequentemente, resultou na queda de investimentos em diversos setores. “A queda do dólar tornou a margem de ganho menor para o produtor e para o país”, acrescenta. “Com a disparada do dólar nos últimos tempos, as exportações cresceram e os produtos ganharam margem no preço de venda”, diz Galesso.
Ele contextualiza dizendo que em 2017 houve valorização no preço do dólar e das commodities, o que deve resultar em aumento no volume de exportações este ano. “Está havendo contenção dos produtores, que querem esperar um preço melhor ainda para negociar”.
Mesmo com a contenção, o produto não pode continuar estocado e gerando gastos, portanto, em algum momento os produtores terão que aumentar o volume das exportações para cobrir os custos e para liberar espaço para a produção futura. É o que aconteceu com a soja. Os produtores precisaram acelerar a comercialização até mesmo para liberar espaço nos estoques para a colheita da 2ª safra de milho, que depois cederá espaço para a oleaginosa novamente.
Soja e milho
A soja sozinha, com exceção dos derivados, correspondeu a 67,77% do valor gerado com as vendas externas no 1º semestre, fechando com US$ 5,453 bilhões e o envio de 14,377 milhões (t). A commodity é o principal produto comercializado pelo Estado nos últimos anos e respondeu por 44,53% do valor total das exportações de 2016, quando somou US$ 5,605 bilhões, com o envio de 15,222 milhões (t).
Endrigo Dalcin, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), afirma que com certeza a soja baterá o volume de exportações do ano passado, já que a safra atual é de 31,229 milhões (t) e a demanda existe. “Com certeza bateremos o valor do ano passado porque a demanda mundial e chinesa, que é o nosso principal cliente, está maior. Devemos bater recorde na soja e no milho. No ano passado, sofremos com a quebra da safra de milho e isso impactou na redução da comercialização do grão. Este ano vamos ultrapassar o recorde. Disso eu não tenho dúvida. Até porque o preço também estava menor no ano passado”, reforça.
O milho, que sofreu com quebra de safra em 2016 devido à seca teve redução de 3,94% no valor das exportações, que somou US$ 2,403 bilhões, com o envio de 14,317 milhões (t). Na safra atual, o grão terá aumento de 40,9% na produção. Em 2016, fechou com a colheita de 19,097 milhões (t) e na temporada atual a estimativa é de 29,530 milhões (t). A produtividade também melhorou com a colaboração do clima, que foi totalmente favorável este ano, e cresceu de 73,7 sacas/hectare (ha) para 103,9 sacas/ha.
Dalcin explica que a exportação de milho será mais intensa no 2º semestre, porque inicia a colheita da 2ª safra, que deve ser comercializada até o fim do ano para ceder espaço à soja, que começa a ser colhida no início de 2018.
Carne bovina
A carne sofreu intensas crises no começo de 2017 e os efeitos ainda não estão totalmente sanados. A mais recente delas, envolvendo a vacina contra febre aftosa impactou as relações comerciais com os Estados Unidos e pode manchar ainda mais a imagem do país perante o mercado internacional. No 1º semestre, o volume de carne bovina exportada cresceu, mesmo com as dificuldades e embargos enfrentados. Somente a exportação de carne bovina desossada cresceu 12,76% e atingiu US$ 399,144 milhões.
Paulo Tadeu Bellincanta, vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frigoríficos de Mato Grosso (Sindifrigo/MT) afirma que a expectativa para o 2º semestre é mais positiva. “Fica ainda uma interrogação com a questão dos Estados Unidos. A China, que é um dos principais mercados, começou a olhar com mais rigor e querem até vir ao Brasil para fazer inspeção. Mas, acreditamos que isso tudo será superado”, diz o empresário com tom de otimismo.
A China é o principal mercado importador dos produtos de Mato Grosso. Do total exportado no 1º semestre (US$ 8,046 bilhões), 46,39% foram enviados ao país oriental, que somou US$ 3,732 bilhões no período. O valor cresceu 19% perante o mesmo semestre do ano passado, quando chegou a US$ 3,111 bilhões. A China importa quase 100% da soja que sai do país e é o 5º principal mercado da carne.