As conversas entre China e Estados Unidos que aconteceram nos últimos dois dias terminaram sem um acordo efetivo, mas com as duas nações combinando que as discussões continuarão a partir deste ponto. Informação da agência oficial de notícia da nação asiática Xinhua de que os dois lados chegaram a um consenso entre algumas questões comerciais, porém, ainda reconhecendo grandes discordâncias em muitos pontos.
Os detalhes de quando essas discussões serão retomadas, onde e de que forma ainda não foram informados e a delegação americana que visitou a China estes dias já deixou Pequim. O fato conhecido até este momento, portanto, é de que os mercados globais ainda continuarão a sentir os efeitos da tensão entre as duas maiores economias do mundo.
Um dos principais questionamentos dos especialistas é sobre se os Estados Unidos conseguiram garantir, ao menos, mais tempo para prorrogar as tarifações planejadas pela China na casa de até US$ 150 bilhões nas importações chinesas. Assim, para a soja – que era um dos principais pontos de especulação dos mercados internacionais -, o cenário continua incerto e sem acordo.
“As discordâncias sobre práticas comerciais que foram construídas há mais de duas décadas irão exigir mais do que dois dias de conversas. Uma solução para as negociações parece bastante provável, mas deverá levar tempo, novas posturas e ainda muitos momentos de tensão. O caminho é longo”, diz Shane Oliver, estrategista-chefe de investimentos da AMP Capital Investor à agência internacional Bloomberg.
Sobre o agronegócio, o peso também continua. Após a efetivação das tarifas chinesas sobre o sorgo americano, as especulações em torno do comércio da soja entre as duas nações cresceu muito e, nesse ponto, também não se firmou um acordo nestes últimos dias.
E para o consultor de mercado Liones Severo, do SIMConsult, essa não deve ser uma notícia que o mercado receberá nos próximos dias. “Agora (um acordo) não me parece tão fácil, pelo menos no curto prazo”, diz.
Os últimos números confirmam, inclusive, a ausência da China como destino para as vendas de soja dos Estados Unidos nos últioms meses. “O que quer que estejam comprando, não é soja americana”, disse o executivo-chefe da Bunge Soren Schroede em entrevista à Bloomberg. “Estão comprando do Canadá e, principlamente, do Brasil”, completa.
Ainda segundo Soren, não há como prever, ao menos nesse momento, quanto tempo essa disputa deve permanecer, mas é possível dizer que há uma grande ‘numvem de incerteza’ que deverá continuar sobre os negócios.
“A China não pode viver sem a soja americana, até porque existe nos EUA a Bolsa de Chicago, que é muito importante até que não haja uma outra bolsa na China que possa operacionalizar os negócios internacionais. É muito provável que tenhamos, em um futuro próximo, uma bolsa internacional na China, assim como eles criaram de petróleo no último 26 de março”, explica Severo.
O consultor explica ainda que o peso das disputas geopolíticas também direciona essa ‘falta de acordo’ em guerras comerciais como esta. “Estamos muito ligados ao dólar nos EUA, qualquer coisa que o Trump diga vem em muitos prejuízos de ativos reais, então, existe essa manifestação de querer colocar uma estabilidade nesse cenário, que é o cenário mais importante do mundo, da alimentação humana. E os chineses, com certeza, vão fazer todos os esforços para resolver essa questão. E não pode buscar desestabilizar da produção mundial de soja, se isso acontecer, pode ser ruim para todo mundo”, completa o consultor.
Nesse cenário, o Brasil poderia se beneficiar – como já tem acontecido, registrando, mês a mês, níveis recordes de exportações nos portos do país -, mas uma ruptura do sistema, ainda segundo Severo, também poderia sentir o peso das incertezas. “Muitas vantagens teríamos, mas não teríamos as referências mais concretas para basearmos nossos negócios”.
Ainda de acordo com informações da agência Bloomberg, a volatilidade dos preços das commodities agrícolas nos mercados internacionais registrou seu pico nas últimas semanas, quando as tensões entre China e EUA se intensificaram. Além de produtos já conhecidos, a carne suína, o milho e o sorgo entraram na disputa e foram alguns dos destaques dessa volatilidade mais acentuada.
No período das últimas três semanas encerradas em 26 de abril, os chineses cancelaram compras de 196 mil toneladas de soja americana do ano comercial 2017/18, que termina em 31 de agosto, como mostraram números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
Ao mesmo tempo em que a China vem comprando menos nos Estados Unidos nestes últimos dias, os exportadores norte-americanos também se mostram mais reticentes em seguir vendendo à nação asiática com medo de sofrer prejuízos com operações de cancelamentos.
Segundo explica John Baize, um trader agrícola internacional, ao site da CNBC, há um risco de que os vendedores dos EUA tenham sua soja já embarcada em direção aos portos chineses e as tarifações possam entrar em vigor. A medida poderia ocasionar o redirecionamento de navios e causar custos adicionais, prejudicando ainda mais as operações.
“Ninguém está disposto a assumir o risco de uma tarifa de, talvez, US$ 100 por tonelada que possa ser imposta. Ou você, exportador, terá que pagar essa taxa – o que pode não ser feito – ou sua venda poderá ser cancelada”, diz Baize.
Na última terça-feira, um trader da ADM (Archer Daniels Midland) informou que a multinacional teria de arcar com uma multa de US$ 30 milhões relacionada aos impactos do redirecionamento de carregamentos de sorgo. A empresa é de uma das maiores transportadoras do grão dos EUA para a China.