Pesquisa produzida pela Embrapa promete desmistificar e suscitar discussões internacionais em torno da bovinocultura brasileira. De acordo com o estudo, os rebanhos nacionais emitem menos Gases de Efeito Estufa (GEEs) que o estimado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC): em algumas épocas do ano, a emissão foi 20% inferior ao preconizado pelo comitê.
Esse é um dos principais resultados da pesquisa realizada pelo analista da Embrapa Meio-Norte (PI), Marcílio Nilton Lopes da Frota, em sua tese de doutorado. Trata-se de uma constatação importante, uma vez que contrapõe pesquisas de outros países, que apontam a pecuária brasileira como causadora de impactos negativos ao meio ambiente, devido à emissão de metano pelos rebanhos, em especial o bovino.
“Temos que buscar resultados próprios nacionais para discutir no Brasil e no exterior e, assim, evitar que divulguem informações negativas sobre a contribuição da pecuária brasileira para a emissão de metano”, defende o pesquisador. A tese de Frota foi apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, na Universidade Federal do Ceará (UFC) e sua pesquisa foi realizada na região dos Cocais Maranhenses.
Frota apurou que a emissão de metano varia de acordo com a alimentação do animal. Quanto menos fibroso e mais digestível for o alimento consumido, menos metano será produzido. Nessa situação, o animal ganha mais peso, leva menos tempo para ser abatido e, consequentemente, diminui o impacto no meio ambiente.
Além da alimentação, a emissão de gás metano no ambiente depende também do sistema de produção. “As propriedades que utilizam o Sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), por exemplo, em vez de emitir gases, os sequestra”, ressalta o pesquisador. Ele cita os dados do IPCC, em que o valor médio de emissão de metano entérico para animais de corte jovens é de 56 quilogramas de metano por ano para toda a América Latina.
“As críticas à pecuária brasileira advêm do grande número de animais no rebanho (mais de 200 milhões) e dos baixos índices da pecuária extensiva, com tempo de abate superior a três anos e meio”, explica Frota.
Segundo ele, o valor adotado pelo IPCC não é preciso porque os animais não ficam isolados, mas são inseridos em um sistema de produção. “Esses valores de emissão variam ao longo do ano e não podem ser estáticos e pré-definidos para todo o País”, diz o pesquisador.
Frota defende que deva ser levada em conta a emissão por quilo de produto gerado, uma vez que o animal pode estar bem alimentado, emitir uma quantidade maior de metano, mas ter um rápido desenvolvimento, ser abatido em menos tempo e assim gerar uma menor emissão por quilo de carne produzido.
Além disso, no período chuvoso, quando os rebanhos bovinos costumam ser alimentados com ração de boa qualidade, a emissão de metano nos pastos é cerca de nove vezes menor que no período seco, quando as pastagens são escassas e apresentam menos nutrientes.
O especialista acrescenta que, em um sistema sustentável, a exemplo da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, com a pastagem feita anualmente e com o capim na fase ideal para consumo, a emissão de metano será menor que a observada atualmente. “Além disso, nesse tipo de sistema a captação de gases pelo solo poderá anular as emissões dos bovinos”, declara.
O trabalho ressalta a importância dos sistemas silvipastoris, que apresentam pastos com maior valor nutritivo ao longo do ano. Esse foi um dos motivos para a escolha desse sistema para a realização da pesquisa. “O animal perdeu menos energia em forma de metano do que quando criado em pleno sol. Foi emitido, em determinadas épocas do ano, 20% menos metano do que os organismos internacionais estão apontando.
Marcílio Frota observou, em sua pesquisa, que não houve diferenças na emissão de gases pelos bovinos em sistemas com árvores e em monocultivo na região dos Cocais Maranhenses. A prática de desmatar totalmente a área com a instalação de uma pastagem também não trouxe ganhos na produtividade animal e foi equivalente a um sistema silvipastoril contendo 67 árvores de babaçu por hectare, consorciada com pastagem.
As informações são da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).