O Ministério Público Estadual divulgou, hoje, o depoimento aos promotores do GAECO, do empresário Jose Henrique Ferreira Gonçalves, da EIG Mercados (antiga FDL Serviços), empresa apontada como o pivô do suposto esquema de propinas no Detran de Mato Grosso e fez outras revelações de supostos pagamentos de propinas, investigados na Operação Bereré/Bônus. Zé Henrique, como é chamado, afirmou que pagou propina para o empresário Roque Anildo Reinheimer, que alegava ser destinado para que a Assembleia Legislativa não abrisse uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e investigasse o contrato da empresa com o Detran, que é investigado como 'fonte' das propinas que seriam pagas para deputados e outros investigados. Ele não citou nomes de deputados que supostamente receberiam a propina para evitar a CPI.
Zé Henrique relatou que, no ano passado, esteve em Cuiabá a pedido de Roque Anildo Reinheimer, que teria dito que tinha treze deputados "em sua mão" e lhe entregou um dossiê denominado CPI Detran, que Roque dizia que "essa CPI estaria para ser aberta, e que era a última chance para que não fosse aberta, dizendo que queria um percentual da empresa FDL/EIG".
Ele também disse, aos promotores, que, acompanhado de Roque Jose Henrique foi até a Assembleia sendo recebido pelo presidente Eduardo Botelho, que “disse que o contrato estava em um equilíbrio bom para o Estado, que não gostaria de receber qualquer vantagem desse contrato, mas ressaltou que Roque era uma pessoa muito boa e que estava passando por dificuldades financeiras”, solicitando que o empresário o ajudasse, caso entendesse justo.
O empresário também acusa Roque de insistir para ser sócio da empresa mas não aceitou e que Roge exigiu R$ 50 mil por mês para a CPI não ir para frente. O empresário diz ter cedido a pressão e pago valor mensal e, após a operação "Bereré", Roque esteve em Brasília para falar com o empresário Jose Henrique, que não o recebeu, e mesmo assim ele deixou um contrato em um pen drive com data retroativa, cuja finalidade seria dar legitimidade aos pagamentos "percebidos da extorsão de R$ 50 mil e que nessa mesma ocasião, Roque enviou mais uma nota com vencimento para dia 15 de março desse ano, que não foi e não será paga".
Conforme Só Notícias já informou, o empresário Roque Anildo Reinheimer foi preso na quarta-feira, na segunda 2ª fase da Operação Bereré, denominada "Bônus". Além dele também foram presos o deputado estadual Mauro Savi (DEM), o advogado e ex-secretário chefe da Casa Civil, Paulo Taques, o irmão dele Pedro Jorge Zamar Taques e o empresário Claudemir Pereira dos Santos, todos suspeitos de envolvimento no esquema de propina de contratos que haviam sido firmados no Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran).
De acordo com a assessoria do Ministério Público Estadual, a operação Bônus é resultado da análise dos documentos apreendidos na primeira fase da Bereré, dos depoimentos prestados no inquérito policial e colaborações premiadas com objetivo desmantelar organização criminosa instalada dentro do Detran para desvio de recursos públicos através de empresas que prestaram serviços para a autarquia, uma delas no fornecimento de lacres para placas, desde o governo Silval Barbosa, quando começaram os desvios que passariam de R$ 27 milhões entre 2009 e 2014.
Outros deputados estaduais – Eduardo Botelho, Nininho, Zé Domingos, Mauro Savi, Baiano Filho, Wilson Santos e Romoaldo Junior- foram citados, em delação premiada, por supostamente receberem propina de empresas que prestavam serviços para o Detran. Alguns prestaram depoimentos recentemente ao MP.
Mauro Savi foi acusado, em delação premiada de um dos envolvidos, de ser um dos que mais recebia propina e também foi apontado por ter feito indicações de aliados para ocupar cargos no Departamento Estadual de Trânsito, dentre eles o ex-presidente Teodoro Lopes, o Doia, que depois de deixar o cargo foi secretário de Finanças na prefeitura de Sinop. Paulo Taques foi citado pelos empresários Roque Anildo Reinheimer e Marcelo da Costa e Silva. O Gazeta Digital informou que eles disseram à Polícia Civil e ao Ministério Público que o escritório de advocacia que tem Paulo como um dos sócios seria o responsável por tratar de assuntos relacionados à empresa em Cuiabá.