Mato Grosso registra a morte de um trabalhador a cada três dias e meio, vítima de acidente de trabalho, conforme notificações realizadas entre 2012 e 2017. Estes são os dados oficiais, coletados pelo Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho, desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Mas especialistas afirmam que a realidade é outra, mais assustadora, pois a subnotificação é grande.
Neste período, foram 60.418 comunicações de acidentes de trabalho no Estado e 626 mortes. Os números colocam Mato Grosso em 11º lugar em acidentes entre os estados brasileiros.
Os afastamentos geraram um gasto de R$ 250,3 milhões para a Previdência Social, com o pagamento de auxílios-doença, aposentadorias por invalidez, auxílios-acidente e pensões por morte. Somente em 2017, 82 trabalhadores morreram. Os números indicam uma redução de 22% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 105 mortes.
Superintendente adjunto da Superintendência Regional de Trabalho e Emprego de Mato Grosso (SRTE), Eduardo Souza Maria analisa que a redução de mortes não está relacionada a uma melhoria aos trabalhadores. Pode estar ligada à crise econômica e a consequente queda nos postos formais de trabalho. “Precisamos avaliar melhor essa situação, mas não podemos ignorar que houve um aumento da informalidade e isso ocasiona a subnotificação dos acidentes”.
Líder em acidentes de trabalho foi o setor de abate de animais (com exceção dos suínos), com 7.059 notificações de 2012 a 2017. Para o diretor administrativo do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Laticínios do Portal da Amazônia (Sintracal), João Marcolino dos Santos Neto, os casos estão relacionados a um conjunto de fatores, como sobrecarga de trabalho, falta de treinamento adequado e, por se tratar de atividade de risco, com manuseio de ferramentas cortantes. João Neto destaca que os casos mais frequentes são de cortes por faca, que ocorrem quando os trabalhadores estão limpando ou desossando a carne.
Procurador do Trabalho em Rondonópolis, Bruno Choairy destaca que o setor frigorífico é um dos que recebe atenção do Ministério Público do Trabalho (MPT). Empresas são com frequência fiscalizadas para verificar o cumprimento da legislação trabalhista. É o caso do intervalo de 20 minutos a cada 1h40 para quem trabalha nas câ- maras frias. Requer atenção o risco químico de inalação de amônia, gás usado para refrigerar estas câmaras. Intoxicação por amô- nia foi o que matou Joelson Evangelista Costa, 41, em um frigorífico de Matupá (630 km ao Norte) em setembro de 2016. O gás vazou da câmara fria, no setor de desossa de carne bovina. Outros 20 trabalhadores foram hospitalizados.