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Cuiabanos estão entre os que mais bebem no país

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Homens de Cuiabá são os que bebem em excesso com maior frequência entre todas as capitais brasileiras. Quando foram entrevistados pela pesquisa Vigitel Brasil, do Ministério da Saúde, 36,6% deles confirmaram que tomaram cinco ou mais doses, em uma mesma ocasião, dentro dos últimos 30 dias. As mulheres de Cuiabá bebem muito também. Com 16,6% de confirmação, ficam em terceiro na pesquisa que divulgada este ano, referente a hábitos observados em 2016. Perdem apenas para as moradoras de Salvador (BA) e Belo Horizonte (MG). Os impactos disso podem ser sentidos na saúde física e emocional dos usuários e na vida familiar, que geralmente vira um “inferno”. O álcool também potencializa crimes e tragédias no trânsito. Sendo assim, o indicador da pesquisa é também um alerta para um grave problema social.

Beber pode ser sinônimo de alegria para muitos cuiabanos. Mas não para aqueles que vão abusando até chegar ao ponto de se perceberem alcoólatras. Este é um caminho que o economista Sérgio, 65 anos, percorreu. O atalho, para ele, foi a adesão aos Alcoólicos Anônimos (AA). Apoiado pelo AA, mudou a rota de vida e está há 31 anos sóbrio, casado, pai de um filho, que não chegou a sofrer o drama da embriaguez paterna. Por uma questão de proteção da imagem, o nome Sérgio não é o real. “O alcoólatra sofre preconceito e discriminação e o alcoolismo é doença”, ressalta Sérgio.

Segundo ele, é tênue o limite entre beber em excesso e o alcoolismo. Ele diz mandando mensagem àqueles que estão contribuindo para a estatística Vigitel. “Muita gente nem sabe que está no fundo do poço”, avisa.

Quando começou a beber em excesso, Sérgio causava problemas de datas em datas. De Natal em Natal, de Reveillon em Reveillon, de Carnaval em Carnaval. Depois, procurava oportunidades para beber. Tudo era motivo de se embriagar, até em festas familiares perdia as estribeiras. Na terceira fase, bebia de sexta a domingo sem parar. Deixava a mãe, com quem morava, sempre sozinha. “Até que em um desses finais, no domingo, não consegui parar e fui bebendo até quarta-feira e não fui trabalhar. A empresa me orientou a procurar o AA e isso me salvou e sugiro que, quem estiver nestas mesmas condições e até mesmo antes de chegar nisso, vá também”.

Ele ressalta que o alcoólatra não só é aquele maltrapilho, andarilho de rua. Na maioria das vezes, vai se degradando dentro de casa e, pior, diante dos olhos dos filhos, da esposa. Não é raro causar o fim de casamento. “É uma doença que nos deixa egoístas, a gente bebe e não pensa nas outras pessoas. Agrada um filho com um presente, para que nos deixem em paz. Faz a compra do mês para a mulher não perturbar”, detalha Sérgio.

O telefone para quem quer sair disso, segundo ele, é o 3321-1020. Organicamente o álcool é uma “bomba” no organismo humano, causa desidratação, pode levar ao coma e até matar. É o que afirma o médico Werley Peres. Ele confirma que há mais de 10 doenças associadas ao abuso de cerveja, vinho e destilados. Questionado se é possível beber com equilíbrio sem prejudicar a saúde, ele responde que o álcool faz mais mal do que bem e que isso é fato incontestável.

A cirrose é a enfermidade mais extrema. Trata-se da falência do fígado, que tem a importante função de metabolizar e armazenar nutrientes. Se não funciona bem, um dos resultados disso é anemia crônica. Estima-se que 40% a 60% dos alcoolistas e abusadores de álcool tenham esse problema.

Outras doenças do álcool são hepatite, câncer no intestino, disfunção erétil, neuro e cardiopatias e demência. O médico associa ainda o alcoolismo à depressão. Segundo ele, tem gente que bebe para fugir da tristeza patológica e tem quem fique triste pelo descontrole que o álcool provoca.

O uso excesso de bebidas também está por trás da maioria dos crimes, principalmente homicídios e violência doméstica. Principalmente nos plantões policiais, a maioria dos casos é de agressão de marido embriagado contra mulher ou contra os próprios filhos e enteados. “Chegam em casa, se envolvem em discussões e por motivo fútil acabam agredindo e até matando”, relata o delegado Regional de Rondonópolis, Claudinei Souza Lopes, que coordena 21 delegacias em 15 cidades da região.

No trânsito, os danos estão na rotina. Boa parte dos acidentes mais graves são provocados por embriaguez ao volante. O último caso deste tipo de maior repercussão na capital foi registrado no sábado, dia 24 de fevereiro. Dois rapazes faziam um “racha” na avenida Tenente Coronel Duarte (Prainha), Centro da capital, quando um deles perdeu o controle do volante e atropelou três mulheres que estavam no ponto de ônibus. Isso era 6h da manhã e os acusados haviam passado a noite na “balada”. O delegado de Delitos de Trânsito, Christian Cabral, afirma que estavam embriagados e que tem meios de comprovar isso. A defesa dos jovens de classe alta nega.

No conjunto das 27 cidades pesquisadas pela Vigitel, a frequência do consumo abusivo de bebidas alcoólicas foi maior entre homens do que mulheres. Chama a atenção o fato que, quanto maior a escolaridade, maior é também o consumo.

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