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Soldados confessam e apontam que cabo executou menor dentro de viatura em Cuiabá

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“Se você vai me matar, então mata logo”. Após pronunciar essas palavras, aconteceram dois disparos de escopeta calibre 12 à queima-roupa. “Ai, eu morri” – regiu a vítima, caindo ao chão. O diálogo e o crime seria mais um desses tantos que já congestionam o cotidiano da Grande Cuiabá não fossem os personagens. Na verdade, um dos personagens. Na cena de morte, um policial militar. O cabo-PM Rodolfo Santana Filho, o “Cabo Cona”, matou e ainda por cima tentou mentir.

Jaciel Monteiro Lopes, de 19 anos, foi vítima de um desequilibrado. “Foi um crime premeditado, planejado, conduzido e realizado pelo cabo Rodolfo. Um desequilíbrio absoluto”- disse o coronel Leovaldo Sales, comandante geral da Polícia Militar durante uma coletiva na manhã de hoje. Nada do que o cabo-PM Cona escreveu no Boletim de Ocorrência na noite de domingo era verdade. O jovem Jaciel Lopes foi, sim, executado.

Primeiro o cabo que comandava a guarnição formada ainda pelos soldados PMs Alvino Souza Alencar Júnior e Massoni Barroso Rodrigues, disparou um tiro contra a própria viatura. Depois ele abriu a porta do camburão e disparou o segundo tiro à queima-roupa, atingindo uma pessoa inocente que estava sendo presa ilegalmente.

Pressionados pelas investigações da própria polícia, os soldados Alencar e Massoni resolveram abrir o jogo e confessaram tudo no segundo depoimento prestado à Corregedoria Geral da PM. No primeiro eles seguiram as orientações do cabo Cona e deram outra versão, totalmente contraditória. Versão agora desmentida por eles. Além de acabar com a farsa do comandante da guarnição, os dois soldados ainda deram detalhes da ocorrência.

Contam os dois militares, que a viatura fazia ronda pelo Jardim Fortaleza, no Coxipó, quando pararam para revistar pessoas em um bar. Sem motivo algum colocaram o rapaz até então desconhecido no camburão. O cabo Cona mandou que fossem em direção ao bairro Pedra 90, pois a pessoa detida teria falado para ele que sabia o local onde estavam escondidas algumas armas.

Não era verdade. Jáciel Lopes estava sendo levado para a morte porque já teria uma rixa com o cabo Cona, fato que a Polícia ainda vai investigar. Quando estava sendo detido rapaz não falou nada e começou a reclamar, alegando que não sabia o motivo do interrogatório.

Já na estrada do Aricá, passando o Pedra 90, na zona rural de Cuiabá, o cabo mandou que a viatura entrasse por uma estrada de chão. Depois mandou parar perto de uma ponte onde o jovem foi baleado duas vezes. Para simular uma ocorrência, o comandante da guarnição mandou que o motorista da viatura desse um cavalo-de-pau. Como a porta do camburão estava aberta, o preso caiu.

A farsa continuou. Pelo rádio da viatura o cabo Cona anunciou que estava em uma ocorrência de risco e sendo perseguido após uma emboscada por alguns motoqueiros. Enquanto falava, ele disparava tiros para o alto na tentativa de simular que estava acontecendo uma troca de tiros. “Foi o que aconteceu. O resto é mentira”, confirmou o coronel Sales.

Os três militares foram presos imediatamente através de uma prisão temporária que pode ser substituída ainda hoje por um mandado de prisão preventiva. O cabo Cona, cuja situação é mais complicada porque é apontado como o idealizador de tudo será ouvido pela segunda vez pela Corregedoria Geral da PM.

Os três que estavam recolhidos em um Batalhão da PM serão transferidos para o Presídio de Policiais Civis e Militares em Santo Antônio de Leverger. Ainda hoje os soldados Alencar e Massoni serão levados até a Delegacia de Homicídio e Proteção a Pessoa (DHPP), onde vão ratificar o que contaram em depoimento à PM. Depois a será a vez do cabo Cona. Todos os depoimentos serão acompanhados por promotores de Justiça indicados pela Promotoria Geral de Justiça.

Os dois soldados contaram ainda, que logo em seguida ao término da ocorrência registrada na Delegacia Metropolitana o cabo Cona confeccionou o Boletim de Ocorrência e advertiu seus subalternos alegando: “Tudo dará certo. O cara era um bandido mesmo. Podem ficar tranqüilos que não vai ter nem perícia”. “Foi através da ocorrência que o cabo Rodolfo fez, cheia de contradições que nós começamos as investigações e abrimos imediatamente um inquérito”, destacou o coronel Sales.

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