A prisão de integrantes do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal na Operação Furacão, deflagrada contra o jogo do bicho, evidencia uma relação cada vez mais freqüente das autoridades com o crime organizado. A afirmação é do cientista político Geraldo Tadeu Moreira, da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Segundo Moreira, o crime organizado não se sustenta sem a corrupção do poder público. “O crime organizado exige, para continuidade de seus negócios, que agentes públicos, nos mais variados níveis, sejam coniventes com a prática do crime. Tem sido assim nos Estados Unidos, na Rússia e em outros países. E tem sido assim no Brasil”, afirma o cientista político.
De acordo com Moreira, a prisão de autoridades, em um primeiro momento, pode causar “desencanto” na população, ao mostrar que as instituições policiais e judiciárias brasileiras estão “contaminadas pela corrupção”. Entretanto, operações desse tipo podem servir, ao mesmo tempo, para mostrar que desembargadores e delegados não estão acima da lei e que serão punidos, se houver desvio de conduta.
Geraldo Tadeu Moreira explica que o jogo do bicho, e suas ramificações (exploração de máquinas de bingo e caça-níqueis), é um dos principais exemplos de crime organizado no Brasil. “O tráfico de drogas, por exemplo, é altamente desorganizado, com facções em luta freqüente umas com as outras, ao passo que os ‘banqueiros’ do jogo do bicho [contraventores] dividem suas áreas, não se expõem etc.”, afirma o professor.
Por ser ilegal, o jogo do bicho cria toda uma rede “subterrânea” para se promover, diz Moreira. “Todo dinheiro que circula no jogo é dinheiro não declarado e serve para corromper autoridades. Então, embora pareça um jogo inocente, ele tem toda uma ramificação nas escolas de samba e nas máquinas caça-níqueis, criando um circuito subterrâneo que é muito danoso para a sociedade.”