A Polícia Militar prendeu, ontem à noite, o pedreiro Tiago Rodrigues dos Santos, 22 anos, no Jardim Ibirapuera, acusado de estar num carro de onde supostamente foram feitos disparos contra o soldado Evanildo da Silva Moreira Lopes e amigos. Tiago estava com o irmão num Pálio cinza e foram encaminhados para a delegacia municipal, onde, algemado, acabou sendo espancado, levado para o Pronto Atendimento e morreu.
A PM fez dois boletins de ocorrência sobre o caso e apresenta uma versão. A família tem outra. O boletim de ocorrência 1985, elaborado às 22:52hs, relata que a guarnição foi acionada pelo fone 190 porque Evanildo da Silva Moreira Lopes e amigos estavam andando quando foram feitos seis disparos “pelos ocupantes do Pálio placas ORM 5252”. A guarnição da PM localizou os indiciados “que foram reconhedidos pelas vítimas” e acaram presos, “algemados e colocados na viatura”. A PM relata que o irmão de Tiago entrou em atrito verbal e vias de fato como uma das “vítimas” e também foi preso.
No boletim 1986, feito às 23:10hs, (18 minutos depois do primeiro) está registrado que “os policiais estavam na delegacia fazendo a ocorrência no momento em que o indiciado (soldado PM Evanildo) enfurecido por ter acabado de sofrer tentativa de homicídio entrou rapidamente dentro da sala onde estava a vítima (Tiago) e, sem que pudesse ser detida sua ação, desferiu um golpe contra a vítima” e que a testemunha lhe empurrou e o retirou da sala. “Após alguns instantes, a vítima começou a passar mal, sendo socorrida pela PM. Enquanto era prestado socorro a vítima (Tiago) o indiciado (soldado Evanildo) evadiu-se. O relato do aspirante Dallaqua, que também figura como testemunha na ocorrência, termina registrando a morte de Tiago Rodrigues dos Santos.
A versão da família é totalmente contrária a apresentada na ocorrência da PM.
A mãe de Tiago, Malvina dos Santos, disse que ele havia convidado os pais para sair e comer uma pizza. Tiago e o irmão estavam no Palio. “Nós estávamos no outro carro, logo atrás, quando a PM parou eles e prendeu meu filho. Quando cheguei aqui na delegacia ele já esta morto”, relatou, aos prantos. “O que meu filho fez de errado ? que crime ele cometeu ?”, questionava, desolada.
O corpo de Tiago foi encaminhado para o Instituto Médico Legal em Sinop. Os legistas apontarão se é verdadeiro o relato no boletim de ocorrência que apenas “um golpe” teria causado a morte do pedreiro.
O tenente Vitor explicou, no final da manhã deste domingo, que a polícia estava “empenhada para deter o soldado Evanildo e encaminhá-lo à delegacia. Ele está em estado de flagrante”, declarou. Mas as equipes não encontram o colega.
A PM deve abrir inquérito para investigar o caso e, talvez, possa encontrar respostas para as seguintes perguntas: onde está a suposta arma que Tiago ou o irmão teriam atirado contra o PM ? por que só o irmão de Tiago foi preso quando, no momento do atrito houve vias de fato e o soldado também brigou ? por que, dentro da delegacia, o aspirante Alexandre Dallacqua, que comandava a guanição não prendeu o soldado Evanildo ao invés de, simplesmente, ter lhe “empurrado da sala” ?. O comando regional deve designar um oficial para presidir o inquérito.
Tiago era casado e tinha um filho de 3 anos. Os primeiros levantamentos da Polícia Civil apontam que ele não tinha antecedentes criminais. Seu corpo foi velado na capela de uma funerária e sepultado às 17h, em Sinop.
(Atualizada às 18:11hs)