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Mato Grosso é rota para o tráfico de armas

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O uso das estradas de Mato Grosso como rota para o tráfico de armamento pesado foi a alternativa encontrada pelos traficantes para evitar a vigilância de aeroportos e rodovias das principais capitais brasileiras. Embora a apreensão de fuzis no teto falso de uma caminhonete pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) tenha sido novidade para a Polícia, mais habituada à apreensão de drogas, o espaço aéreo do Estado sempre esteve na rota dos traficantes de armas e entorpecentes.

Há cerca de 15 anos, um avião com 40 fuzis HKG3 caiu no município de Pontes e Lacerda (448 km a Oeste de Cuiabá). O piloto sobreviveu à queda e foi preso pela Polícia Militar. O caso foi investigado pela Polícia Federal, após descoberta de que as armas eram provenientes do Paraguai e tinham como destino a Colômbia. Elas abasteceriam os guerrilheiros das Forças Revolucionárias da Colômbia (Farcs).

O piloto da aeronave era Rildo Tenório de Araújo, hoje considerado um dos maiores traficantes de armas e drogas do Brasil. Preso mês passado em Ariquemes (RO), Rildo Tenório é apontado como o líder da quadrilha desarticulada durante a Operação "Conexão do Sertão", promovida pela Polícia Federal da Paraíba, em abril do ano passado.

De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal daquele Estado, a quadrilha liderada por Rildo tinha conexões em Rondônia, Santa Catarina, Minas Gerais, Maranhão e Mato Grosso. No Estado, o contato da quadrilha de Rildo era Wesley Moreira da Silva, morador de Várzea Grande, que também foi denunciado pelo MPF por tráfico internacional de entorpecentes.

A base de atuação de Rildo Tenório era Rondônia, de onde contou ter vindo o mecânico Vanderlei de Souza, preso em flagrante pela PRF na terça-feira (20), em Primavera do Leste (231 km ao Sul de Cuiabá), com 5 fuzis, 2 carabinas, carregadores e cerca de 2 mil munições. Vanderlei conta que entregaria as armas em um posto de combustíveis localizado a 150 km da cidade do Rio de Janeiro e ganharia R$ 10 mil pelo transporte.

A descoberta dos fuzis no carro de Vanderlei ocorreu durante fiscalização de rotina da PRF. Vanderlei contou que era a terceira vez que passava em Mato Grosso transportando fuzis, mas por experiência em casos como esse, a Polícia acredita que tenham sido muito mais.

Segundo a Polícia, a opção pela rota terrestre se deve aos modernos equipamentos e sensores adotados pelos aeroportos do Rio de Janeiro e São Paulo, capazes de detectar a presença de qualquer objeto de metal, ainda que disfarçado. Com os investimentos feitos no controle da fronteira de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso seria a alternativa escolhida pelos traficantes de armas e drogas.

Até o momento, as investigações sobre a origem e destino dos fuzis apreendidos pela PRF, capazes de derrubar helicópteros, estão com a Polícia Civil. As armas foram trazidas para Cuiabá para serem periciadas. Caso fique constatado que se trata de tráfico internacional, as investigações serão de competência da Polícia Federal.

Conexão Mato Grosso – Além do contrabando de fuzis, Rildo foi preso outra vez em Mato Grosso, em fevereiro de 2000, por tráfico de drogas. Rildo e o traficante Jorge Mota Graça foram flagrados pela Polícia Federal com 42,3 kg de cocaína em Nova Guarita (697 km ao Norte). A droga seria transportada em um avião Bonanza, de propriedade de Carlos Simão de Lima, irmão do traficante Sidinon Simão de Lima.

Simão de Lima foi executado com 2 tiros de pistola 9 milímetros meses depois da prisão de Rildo, em dezembro de 2000. Ele estava com 52 anos e foi assassinado na frente da mulher e da sogra, por pistoleiros profissionais. O nome de Rildo aparece nas investigações da Polícia. Rildo também liderava a quadrilha que roubou uma aeronave em Barra do Garças (509 km a Leste), em 30 de junho de 2005.

Dois homens armados invadiram o aeroporto de Barra do Garças, em 30 de junho de 2005, e roubaram o avião modelo Sêneca 3, prefixo PT VNO, que havia pousado para abastecer. Quatro homens foram rendidos e o piloto sequestrado. A aeronave passou pela região de Jaciara e seguiu para a Bolívia, onde foi localizada e apreendida 7 dias depois. O piloto foi deixado em Mato Grosso do Sul.

Ele também é acusado de matar um delegado da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul. Numa ação ousada, na década de 1980, Rildo estava na carroceria de um veículo Saveiro, em movimento, que emparelhou com o veículo que conduzia o delegado, numa avenida movimentada de Campo Grande. Foram feitos diversos disparos de fuzil calibre 7.62, matando o delegado e ferindo gravemente o policial que conduzia o veículo.

Prisão – Os traficantes Rildo Tenório de Araújo e Marcos Marcelo Rezende dos Santos, o "Marcelo da Scorpion", foram presos dias 25 e 26 de setembro por policiais de Ji-Paraná (RO). A prisão dos traficantes decorreu de investigações após flagrante de transporte de 817 kg de cocaína com possível destino ao Sudeste e Nordeste brasileiros. Ocorrida em 6 de março, foi a maior apreensão registrada no Brasil este ano e a maior de toda a história de Rondônia.

A ação policial resultou na autuação em flagrante de outros dez traficantes. Rildo e Marcelo estariam envolvidos com o grupo criminoso que investiria contra os transportadores da droga na intenção de roubá-la. A Polícia Federal, que já monitorava o bando, frustou a ação da quadrilha.

Ousadia – A ousadia de transportar 7 fuzis, carregadores e milhares de munições, faz a Polícia acreditar em outra hipótese, além da ida do armamento para abastecer traficantes dos morros e favelas do Rio de Janeiro. Essas armas poderiam estar saindo de Mato Grosso, após terem sido usadas em vários assaltos a bancos ocorridos só este ano.

De acordo com um policial, que preferiu não se identificar, nos assaltos a banco normalmente as armas chegam na cidade antes mesmo da quadrilha. O grupo chega depois, mas com tempo para observar o movimento e poder planejar a ação. Assim que eles deixam o local, as armas também devem seguir em outra direção, para uma nova empreitada.

O tráfico de armas costuma ser feito em pequenas quantidades, uma ou 2 armas de cada vez. É um tráfico "formiguinha". Muitas vezes, as armas são transportadas em pedaços. A apreensão da PRF, conforme o policial, é muito incomum, principalmente por ter ocorrido durante fiscalização de rotina,e não por conta de denúncia anônima.

Ainda conforme o policial, diferente da droga, cuja distribuição e venda é rápida, com armas não acontece o mesmo. A durabilidade da arma é muito longa e até o traficante perder o objeto, seja por um grupo rival ou por apreensão da Polícia, ela não precisa ser reposta.

Fronteira – A Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) tem projetos para reforçar a vigilância nos 980 km de fronteira entre Mato Grosso e Bolívia. São 720 km de fronteira seca e 260 km de trecho alagado. Um convênio com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) prevê a compra de um helicóptero exclusivo para o patrulhamento da região, que tem 25 municípios. A maior parte dos recursos é do governo federal, com uma contrapartida do Estado. Além da aeronave, estão previstos recursos de R$ 6,5 milhões em equipamentos para o uso da aeronave, náuticos e para a capacitação do pessoal que vai atuar na região.

De acordo com o secretário adjunto de Segurança Pública, coronel Antônio Roberto Monteiro de Moraes, em decorrência da demanda da área urbana e rural do Estado, é com esforço que a Sejusp mantém 100 homens do Grupo Especial de Fronteira (Gefron) protegendo a região. "A demanda interna é muito grande".

Além do pouco efetivo, que deve ser aumentado em 20% no ano que vem, recentemente os policiais do Gefron estavam quase sem viaturas para trabalhar. Conforme o coronel Moraes, houve um problema com a locação dos veículos e de 8 veículos destinados à ação na fronteira, ficaram apenas 4, para cobrir os milhares de quilômetros de estradas vicinais, em péssimas condições de trafegabilidade. "A Polícia Rodoviária Federal só faz barreira em estrada de asfalto, as nossas viaturas sofrem um desgaste grande".

Segundo o coronel, mesmo com investimentos próprios ou do governo federal, seria impossível cobrir uma fronteira tão extensa como a que separa Mato Grosso da Bolívia. Ele argumenta que é importante usar os serviços de inteligência, na investigação dos crimes e prisão dos criminosos, e adotar equipamentos de tecnologia, para que os policiais na fronteira tenham agilidade de informação. "Não podemos ficar presos a contratação de efetivo e compra de viaturas, armas e munições, porque isso nunca será suficiente".

 

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