Cinco dias após deixar a prisão, o ex-superintendente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Francisco Serafim de Barros, 60, nega ter mandado matar o próprio filho, Fábio Cézar Leão de Barros, 41, classifica o primogênito como "insano" e "maquiavélico" acusa a vítima de outros crimes, além do homicídio que já tinha revelado no dia em que foi preso. "Eu seria incapaz de encomendar a morte de meu filho. Jamais faria isso com ninguém, imagine com meu próprio filho".
Na primeira entrevista à imprensa, Serafim acusou o filho de ter "armado um esquema" para que ele fosse humilhado. "Quem prendeu os supostos pistoleiros, que iriam matá-lo a mando meu e de meu outro filho (Fabiano Leão Barros, que também foi preso), era parente da namorada do Fábio que mora em Campo Grande (MS). É muita coincidência não?".
Apontado pela Polícia Civil de Mato Grosso do Sul como o homem que mandou contratar pistoleiros para tirar a vida do filho por causa da disputa de R$ 28 milhões, prêmio que a vítima ganhou em 2006, Serafim diz que o filho sempre teve "índole difícil". Afirma que ele já respondeu por receptação, que matou um homem em 2007, que matou um motociclista atropelado e fez com que a mulher assumisse a culpa, além de ter praticado vários crimes ambientais numa fazenda, como construção de barragens em área proibida e desmatamento da Área de Preservação Ambiental.
Ameaças – O empresário Francisco Serafim relatou uma série de ameaças feitas por Fábio, tanto que em dezembro de 2008 chegou a registrar ocorrência contra o filho. O processo corre no Juizado Especial de Cuiabá.
"Estou decepcionado com o que ele (Fábio) fez com a mãe dele. Ele telefonava para ela e falava que ia matar eu e Fabiano. Ele continua nos ameaçando. Manda "Valtinho" ir lá na fazenda provocar".
Segundo Serafim, a última vez que ele falou com Fábio, há cerca de 2 anos, o filho estava com 3 "jagunços" e afirmou que o mataria caso fizesse alguma coisa. "Estamos com muito medo do que ele é capaz de fazer".
Pagamento – O ex-superintendente da Fiemt alegou que foi o filho quem pediu para o mesmo receber o prêmio e guardar o dinheiro, em 2006. "Ele ganhou o prêmio e me ligou para eu receber e depositar no meu nome. Eu ainda disse que era dele, mas me respondeu que este prêmio seria da família e não dele. Então, fiz o que ele me pediu e com o passar dos tempos compramos fazendas, casas, máquinas, veículos. Mas tudo com o consentimento dele, não tirei um centavo da conta sem ele concordar".
O empresário alegou que já devolveu tudo que era de direito ao filho e as cobranças do mesmo são infundadas. "Em 2008 eu fiz uma procuração passando tudo para ele. Mas ele revogou e pediu para fazer um contrato. Fizemos 2 contratos passando um total de R$ 29,4 milhões para ele, sendo R$ 11,4 milhões em dinheiro e o restante em bens. Temos provas de tudo isso".
Conforme ele, a partir daí começaram as ameaças, já que Fábio não teria se conformado e teria pedido todos os bens da família. "Antes desse prêmio eu já tinha muita coisa em meu nome. É uma atitude insana do meu filho e não sei quem está orientando ele a cometer estes atos bárbaros".
Outros crimes – Serafim também confirmou que o filho responde a vários processos na Justiça. Um deles de homicídio, ocorrido em 2005, contra um motorista na comunidade Sucuri. "O Fábio revela sempre que não vai preso, que tem dinheiro, que compra todo mundo".
Quanto ao atropelamento, Serafim garante ter testemunhas que confirmam que era Fábio que dirigia o automóvel quando ocorreu a morte do motociclista.
Outro filho – O outro filho do empresário, Fabiano Leão de Barros, continua preso pelo crime de posse ilegal de porte de arma. O armamento foi encontrado no momento em que ele foi preso em uma fazenda em Juscimeira (157 km ao sul de Cuiabá), na noite do dia 27. "Nós fomos presos somente para prestarmos esclarecimentos. Ele (Fabiano) não tem nada no nome dele".
Apesar do medo que diz sentir de Fábio e dos cuidados que a família está tomando, Serafim afirma que "mesmo assim amamos nosso filho e esperamos que ele volte a ser o que era".
Defesa – Serafim disse que não tomou nenhuma medida judicial contra o filho, apenas está se defendendo das acusações. "Estou me defendendo, já que, no contrato, é claro que o foro para as questões ligadas ao assunto é Cuiabá. Porque o processo foi aberto em Juscimeira?".
Francisco Serafim e Fabiano foram presos no dia 27 de maio, em Cuiabá e Juscimeira, respectivamente. O caso foi descoberto depois que 2 pistoleiros foram presos pela Polícia Rodoviária Federal de Mato Grosso do Sul com arma e fotos de Fábio.
As investigações do Grupo Armado de Repressão a Roubos, Assaltos e Sequestros (Garras) do Estado vizinho mostraram que 6 pessoas estavam envolvidas em uma trama para assassinar a vítima.
Na sexta-feira, pai e filho foram transferidos para Campo Grande. Serafim foi levado pela Polícia Civil de Mato Grosso, enquanto Fabiano foi escoltado pelo Garras. No dia 29, os pistoleiros confirmaram que haviam sido contratados para matar Fábio.
Serafim foi solto no domingo. Fabiano continua preso.