Mesmo com só 3% do efetivo total da corporação, a Polícia Federal de Mato Grosso é responsável por cerca de 30% de toda a cocaína apreendida no Brasil. O percentual é, de longe, o maior alcançado em relação aos outros estados. Neste ano, a expectativa é a de que o recorde de apreensões seja quebrado. Segundo o delegado regional de combate ao crime organizado da PF no Estado, Éder Rosa de Magalhães, nos 8 primeiros meses do ano foram descobertas mais de 5 toneladas da droga, ante 5,6 toneladas da substância em todo o ano de 2010.
Os números, apresentados no seminário estadual de Políticas Públicas Contra as Drogas, realizado na segunda-feira (29) na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, refletem o aumento no fluxo da droga vinda da Bolívia. Entre os fatores apresentados pelo delegado estão a falta de policiamento ostensivo nos cerca de 700 km de fronteira e a anistia concedida pelo presidente boliviano, Evo Morales, a carros importados sem documentação, muitos roubados no Brasil.
Para minimizar ao máximo a entrada da droga no Brasil, Magalhães destaca o direcionamento do trabalho da PF, voltado para ações de inteligência. De acordo com ele, quadrilhas mato-grossenses são encarregadas de receber a substância, na maior parte das vezes por via aérea, em fazendas da região de fronteira. A partir daí a cocaína é enviada, por terra, principalmente para Rio de Janeiro e São Paulo. Os problemas enfrentados na repressão também foram apresentados pelo inspetor da Polícia Rodoviária Federal no Estado (PRF-MT), Átila Calonga. A instituição conta com apenas 18 postos de fiscalização, sendo apenas 2 na fronteira. A precariedade do trabalho é constatada pelo fechamento da unidade de Comodoro, por falta de agentes. Calonga destacou que sem cobertura aérea é praticamente impossível combater a entrada de entorpecentes no país.
Acolhimento – No seminário, que levará sugestões de entidades voltadas ao tratamento dos dependentes químicos à Brasília, outros eixos da questão das drogas foram apresentados. Representante da comunidade terapêutica Vida Serena,
unidade de acolhimento de dependentes, Gilson Alcides, destaca que a falta de investimentos por parte do Poder Público impede o correto diagnóstico e posteriormente o tratamento mais indicado.
Sem a triagem adequada, sobram poucos e precários leitos para o tratamento dos dependentes. No Estado, apenas 50 leitos estão disponíveis para a desintoxicação, em espaço que funciona há 7 anos. Para melhorar a situação, o governo do Estado tenta articular diversas secretarias no sentido de dar mais e melhores condições aos dependentes químicos e seus familiares. As ações serão financiadas pelo Fundo Estadual Antidrogas, que obriga as pastas a destinarem 1% das verbas em tais projetos.