Falta de tecnologia específica para vistoria de veículos nas estradas é um obstáculo à apreensão de drogas e armas que circulam ilegalmente por Mato Grosso. Dois aparelhos de raio-X de bagagens, no valor de R$ 140 mil cada, foram encaminhados há 1 ano pelo governo federal. Mas desde a chegada estão encostados nos postos da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Cuiabá e Cáceres (225 quilômetros a Oeste da Capital), empoeirados, com fezes de insetos por não atender a necessidade dos agentes. Serventia e o destino que teriam os aparelhos de marca chinesa eram desconhecidos pelos próprios agentes quando a reportagem iniciou os questionamentos. No posto da capital, localizado na BR-364, o raio-X estava em parte embalado com plástico bolha e aparentava estar há um longo período à espera do uso.
Inicialmente seria necessário um espaço específico e refrigerado para comportar as máquinas. Além de um curso para os policiais operarem, diz o chefe de operações do posto Carlos Mello, que desconhece se o raio-x tem alguma avaria, pois nunca foi ligado. As duas máquinas são seminovas e usadas dos jogos Pan-Americanos realizados em 2007 no Rio de Janeiro (RJ). Elas foram adquiridas para o evento e com o término distribuídas aos estados com objetivo de contribuir no trabalho de fiscalização. Mas o chefe de policiamento da Superintendência da PRF Fabiano Jandrei afirma que o instrumento não atende à demanda do agente responsável pelo serviço na pista. Aparelhos são direcionados apenas às bagagens e precisam estar fixos em local fechado. Em uma conferência de malas de um ônibus em trânsito, por exemplo, seria necessário remover todas, levar ao posto e passar uma a uma na esteira. Eles são iguais aos utilizados em aeroportos no momento em que os passageiros entram no saguão de embarque. Grande número de veículos que passam pelas rodovias federais mato-grossenses, principalmente veículos de carga, impede este processo. A fiscalização deve ser realizada no local onde são feitas nas blitz, às margens ou centro das estradas.
Atualmente, as fiscalizações são baseadas em parar os veículos, vasculhar a bagagem, conferir os documentos. Os cerca de 10 animais presentes nos canis de Cuiabá e Primavera do Leste (231 quilômetros ao Sul da Capital) são parceiros do trabalho e proporcionam eficiência às fiscalizações, pois indicam por meio do faro onde entorpecentes possam estar escondidos. No interior o canil foi instalado em 2008 e na Capital no ano passado. Fabiano avalia que a parceria com os animais aumenta diretamente no número de apreensões. Projeto do Grupo de Policiamento Tático (GPT) implementado há 5 anos em Pontes e Lacerda, Cáceres, Sorriso e há 1 ano na Capital contribui para as apreensões dos materiais ilícitos em trânsito pelo Estado. A formação dos grupos atuam de forma estratégica no flagrante de cargas com drogas ou armas, mas esbarram na falta de estrutura em recursos humanos.
No posto de Cuiabá, por exemplo, seria necessário mais uma equipe de policiais rodoviários federais para o GPT, o que cobriria os dias de folga dos atuais 5 membros da equipe. Estes agentes têm curso específico e mais liberdade para percorrer os postos e buscar interceptar os veículos suspeitos. Superintendência da PRF em Mato Grosso tem déficit de 170 agentes, o que impede a cobertura do GPT nas 8 delegacias.
Outro lado
Segundo a Superintendência da PRF em Mato Grosso, está em processo a cessão de duas máquinas de raio-x para o Penitenciário Nacional (Depen), subordinado ao Ministério da Justiça (MJ). O Departamento da PRF em Brasília, responsável pelo trâmite, não respondeu aos questionamentos da reportagem até o fechamento da edição sobre o andamento do processo para destinação útil das máquinas e a previsão para que elas entrarem em funcionamento.
Em relação ao efetivo o superintendente substituto da PRF no Estado João Paulo Lima informa que entre os anos de 2009 e 2011 280 candidatos aprovados no último concurso passaram a fazer parte do quadro da Superintendência. Mas desde àquele ano foram removidos 120 agentes para outras unidades da federação por determinação da DPRF. Não há previsão para inclusão de novos policiais e sim previsão de que novas remoções acontecem em decorrência da realização da Copa do Mundo de Futebol.