A Polícia Militar reconheceu que houve excessos por parte de alguns policiais e soldados da Rondas Ostensivas Tática Móvel (Rotam) que participaram do confronto com estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso no dia 6 de março deste ano, que resultou em pelo menos 10 feridos a balas de borracha e outros 6 presos. Dentro de 30 dias deverá ser concluído o inquérito que apura os indícios de crime militar praticado pelos agentes da PM. O reconhecimento de que parte dos policiais não cumpriram todas as etapas para cessar o protesto utilizando outros recursos, como por exemplo o gás de pimenta, e optaram em atirar contra os manifestantes, foi do comandante-geral da PM, coronel Nerci Adriano Denardi, que prestou informações na Assembleia Legislativa sobre o andamento das investigações, esta tarde.
Essa é a primeira vez que a Polícia Militar reconhece que os policiais cometeram falhas durante a ação. Isso porque no dia 7 de março, a corporação publicou uma nota afirmando que "os policiais militares atuaram de forma legal e proporcional garantindo a ordem no local e a consequente liberação da via para que as pessoas retidas em seus veículos pudessem retornar ao seu ir e vir". Por enquanto, apenas quatro PM`s foram afastados de suas funções ostensivas e estão trabalhando em atividades administrativas enquanto o inquérito não é concluído. São dois soldados da Rotam identificados nas imagens, mas que nunca tiveram os nomes divulgados, além do comandante da base do Boa Esperança que foi destituído do posto de chefia e o capitão da Rotam que comandou a equipe durante o confronto.
A reunião entre o major Esnaldo Souza Moreira que preside as investigações no inquérito militar, o secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre Bustamante, o capitão Gilson Vieira da Silva, que na época era comandante da Base do bairro Boa Esperança envolvida na ação desastrosa e também o coronel Denardi começou por volta das 14h e durou cerca de duas horas. Autor do requerimento para a ida dos oficiais até a Assembleia, o deputado estadual Ademir Brunetto (PT) disse que ficou registrado na ata da reunião que o coronel Denardi admitiu que os estudantes, de fato foram vítimas, da ação de alguns policiais que não cumpriram todas as etapas necessárias para negociar e tentar libera a Avenida Fernando Corrêa da Costa que havia sido bloqueada pelos universitários em protesto estudantil.
Antes, no dia do confronto, foi registrado nos boletins de ocorrência confeccionados pelos PMs no Cisc do Planalto, que os policiais teriam sido as vítimas, pois teriam sido agredidos por estudantes com pedras e pedaços de paus. Versão que não se confirma quando se assiste os vídeos e verifica fotografias divulgados na internet e também pelos registros de profissionais da imprensa que estiveram no local. Foram com base nos vídeos do confronto que o comandante da PM confirmou existir evidências de desvio de conduta de alguns policiais da Rotam. Porém, ele ressaltou que tudo ainda está sendo apurado no inquérito que encontra-se na fase de oitivas. Todos os estudantes agredidos já foram ouvidos e forneceram fotos, vídeos, laudos médicos e exames de corpo de delito que fizeram para confirmar as agressões sofridas.
De acordo com o deputado Ademir Brunetto, o geólogo e mestrando em Geociências pela UFMT, Caiubi Kuhn, 23 anos, um dos líderes estudantis alvejados por tiros de borracha e preso, também foi ouvido na reunião desta quinta-feira. O parlamentar ressalta que todos os deputados membros da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Amparo à Criança, ao Adolescente e ao Idoso participaram da reunião e ouviram os esclarecimentos dos oficiais da cúpula da Segurança Pública. Ele diz confiar no trabalho de investigação da Polícia Militar e espera punição adequada para os PMs se no final ficar comprovado que eles são culpados. "Se eu não ficar satisfeito com o resultado, vou representar o estado de Mato Grosso Estado junto à Organização dos Estados Americanos (OEA)", garante.
Pontua, no entanto, que está convicto de que haverá punição aos culpados. "Espero que seja uma punição à altura dos fatos praticados. É o que a sociedade espera e também a Assembleia Legislativa", garante Brunetto.
Otmar de Oliveira
Outro lado: O coordenador de Comunicação e Marketing da PM, coronel Paulo Ferreira Serbija Filho, ressaltou que o comandante da PM, Nerci Adriano Denardi admitiu existir indícios de conduta irregular de alguns policiais ao assistir os vídeos do conflito. Mas garante que todos terão a oportunidade de defesa no inquérito que está em fase de oitivas.
Ressaltou que são fortes indícios de crime militar, motivo pelo qual ao após a conclusão das investigações o inquérito deverá ser encaminhado para o Ministério Público e se for confirmada culpa por parte de algum policial ele será denunciado na Vara da Justiça Militar para ser julgado pelo crime. Reforçou ainda que os 2 comandantes da ação e 2 soldados da Rotam identificados nas imagens seguem afastados das ruas efetuando apenas serviços internos.