Aumentou em 32% o número de crianças e adolescentes vítimas de violência identificadas pela Polícia Civil durante o ano de 2012. Nos 12 meses do ano passado foram instaurados 619 inquéritos policiais, número maior que os 470 procedimentos iniciados no mesmo período de 2011. Em aproximadamente metade dos casos os jovens foram vítimas de violência sexual, fato que preocupa as autoridades.
Titular da Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica), Alexandra Fachone destaca que a gradativa implantação da legislação, além das campanhas de conscientização, fizeram com que o número de casos denunciados fosse maior. “Há uma percepção maior desta violência, mas acredito que isso ocorra porque ela passou a ser mais denunciada”. Em 2012, a Deddica prendeu 86 pessoas, 60 em flagrante.
Fachone explica que o aumento é também um reflexo do reconhecimento da sociedade de que o trabalho da Polícia Civil vem funcionando de forma eficiente. “Se não houvesse esta resposta, este retorno, muitos nem denunciariam. Mas, como percebem que há um trabalho sério sendo feito, que garante a segurança da vítima e investiga os casos, passam a acreditar na investigação”.
Um exemplo é o de Maria (nome fictício), mãe de uma adolescente de 14 anos que, desde os 7, era estuprada pelo pai, L. F.S, 32, preso no dia 31 de dezembro, na praça Ipiranga, onde ajudava a mulher trabalhando em uma barraca. “Pela minha filha eu iria até o fim. Mas foi muito mais fácil com o trabalho da Deddica. Desde o começo me senti acolhida e ela também”.
A mãe conta que a garota mudou completamente seu comportamento depois que passou a estudar em uma escola particular de Cuiabá. “Lá, ela passou a ter aula de orientação sexual e percebeu que era vítima de abuso”. Maria recorda que a mudança de postura lhe causou uma grande inquietação. “Meu coração de mãe sabia que algo estava errado, mas não sabia o que era”.
Em 30 de novembro, encorajada por uma amiga, a adolescente decidiu contar para a mãe que era vítima de abuso. “A partir daí fomos à Polícia e a investigação foi iniciada. Quando soube que o pai foi preso, ela sorriu, aliviada, e hoje já voltou a ser a menina que era”. O pai permanece preso.
Para confirmar a ocorrência de abusos e descobrir o maior número possível de informações sobre os ataques, a Deddica conta com uma equipe multidisciplinar, que realiza um trabalho psicossocial com as vítimas. “Geralmente, os profissionais acompanham as crianças, conversam com elas, para que se forme um quadro e se confirme a existência do crime”, explica a delegada.
Antes de cada entrevista, a delegada orienta os profissionais integrantes da equipe, fundamental no trabalho de investigação. “A primeira parte é ganhar a confiança da vítima. Porque, geralmente, quando chegam aqui, estão com muito medo”. A partir daí, a polícia passa a buscar as provas, até que haja o desfecho do inquérito. As denúncias, destaca Fachone, chegam por meio de ligações telefônicas para o 190 ou 197 e, até mesmo, pessoalmente, com os denunciantes buscando a sede da Deddica.