A Polícia Federal informou que 33 pessoas, ao todo, estão presas por envolvimento na venda de áreas da reforma agrária em Itanhangá (350 quilômetros de Cuiabá) para fazendeiros e empresários na região de Lucas do Rio Verde, Itanhangá, Sorriso e outras cidades. Destas, 24 estão em Cuiabá, oito em Sinop e um está detido em Lucas do Rio Verde. Entre os presos estão políticos, servidores públicos e fazendeiros acusados de envolvimento no esquema. Anteriormente, a assessoria da PF divulgou que 40 foram presos, mas depois corrigiu a informação.
O esquema foi desbaratado, ontem, durante a operação Terra Prometida que tinha como objetivo cumprir 52 de prisão preventiva, 146 de busca e apreensão, além de 29 medidas proibitivas. Os mandados foram cumpridos em Cuiabá, Várzea Grande, Nova Mutum, Diamantino, Lucas do Rio Verde, Itanhangá, Ipiranga do Norte, Sorriso, Tapurah e Campo Verde (em Mato Grosso), Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Dentre os alvos há oito servidores públicos. Estima-se que 80 fazendeiros estejam envolvidos no esquema.
Entre os acusados presos estão os irmãos Odacir e Milton Geller, que se apresentaram, ontem à noite, na Polícia Federal em Cuiabá e, em seguida, foram encaminhados ao Centro de Custódia de Cuiabá, no bairro Carumbé. Odacir reside em Lucas do Rio Verde e Milton (que foi prefeito de Tapurah), em Nova Mutum. Os advogados negam que ambos tenham envolvimento com o esquema de compra de terras repassadas para assentados da reforma agrária e que foram vendidas. Eles devem depor, hoje na Superintendência da Polícia Federal em Cuiabá. O advogado deles Edy Piccini negou o envolvimento nas irregularidades e expôs que a empregada de Odair é a real exploradora da área. "Ela tem raízes no município e tem o terreno lá", declarou à Agência Estado, acrescentando que a as denúncias contra ambos tenha como objetivo "atingir o ministro".
Em nota, ontem, no início da noite, o Ministério da Agricultura informa que o ministro Neri Geller não foi arrolado na “Operação Terra Prometida” e "que estava em missão internacional nos Emirados Árabes e retornou ao Brasil " ontem à tarde. Ele lamenta a presença de familiares entre os investigados e diz não acreditar na participação dos mesmos em qualquer irregularidade" e "não tem "associação jurídica ou outro tipo de sociedade com os envolvidos no processo”.
O prejuízo aos cofres públicos pode alcançar R$ 1 bilhão. A investigação apurou que o grupo criminoso, formado por fazendeiros, empresários e grupos do agronegócio, procurava obter uma verdadeira “reconcentração fundiária” de terras da União que haviam sido destinadas à reforma agrária. Com ações ardilosas, uso da força física e até de armas, compravam a baixo preço ou invadiam essas áreas.
Para a manutenção do comércio ilegal e reconcentração de terras da reforma agrária, no decorrer dos últimos dez anos, a organização criminosa fez uso de documentos falsos, ações de vistoria simuladas, termos de desistência fraudados e dados inverídicos incluídos no Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (SIPRA/INCRA), propiciando que grandes latifundiários, grupos de agronegócio e até empresas multinacionais ocupassem ilicitamente terras da União destinadas à reforma agrária.