Com atuação direcionada a ocorrências que exigem ação técnica, específica e pontual, a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) avalia bons resultados nos últimos 12 meses em Mato Grosso. Foram registradas reduções acentuadas em sequestros, explosões a caixas eletrônicos, extinção da modalidade 'novo cangaço' e desmantelamento de quadrilhas que agiam em recentes vertentes criminosas como roubos a bancos na modalidade “vapor” e subtração de defensivos agrícolas.
O GCCO é uma unidade especializada de atribuição estadual, que integra a Diretoria de Atividades Especiais (DAE). A unidade investigativa abarca o crime organizado, extorsão mediante sequestro e investigações especiais como roubos e furtos a instituições financeiras, de defensivos agrícolas, crimes cometidos com violência ou grave ameaça a policiais da região metropolitana, e crimes contra autoridades constituídas, especialmente às judiciárias.
Em 2016, o GCCO atuou em 26 operações policiais, além de apoio a outras unidades e investigações paralelas. Anualmente, a Gerência conclui cerca de 80 inquéritos policiais de crimes complexos e, por conta disso, enfrenta um grau de dificuldade aumentada com maior esforço nos levantamentos e abordagens.
No comando da delegacia há cinco anos, o delegado titular Flávio Henrique Stringueta explica que, além dos inquéritos policiais, as investigações preliminares – que não chegam a virar inquérito – ultrapassam a marca de 300 a cada ano e mobilizam todo efetivo policial da delegacia. “Muitos levantamentos não se transformam em inquérito. Recebemos muitas denúncias anônimas, por exemplo de cárcere privado. Após investigação prévia, vários casos não chegam a se confirmar”.
O delegado pontua que, apesar do senso comum julgar que o êxito policial é verificado no número de detidos, a prisão não é a maior preocupação dos criminosos. “Atualmente, eles tem mais medo de perder seu patrimônio do que da cadeia. E a ideia é essa. Identificar e frustrar seus ganhos financeiros ilícitos. Às vezes, o investigado não fica detido e acham que o inquérito não teve êxito. Isso não é verdade. (…) Mesmo assim, cerca de 80% dos inquéritos resultam em prisões”.
A modalidade criminosa denominada de “novo cangaço” – aquela em que quadrilhas fortemente armadas invadem agências bancárias em municípios do interior e enfrentam as instituições de Segurança Pública – está em extinção em Mato Grosso, explica o delegado Flavio Stringueta. Nos últimos 12 meses não houve nenhum registro. “Apenas alguns casos foram registrados em 2016 da modalidade 'vapor' (nome relacionado à rapidez da ação), onde criminosos entram na agência bancária, rendem os vigilantes, pegam o dinheiro dos caixas o mais rápido possível e saem em no máximo 5 minutos, para escapar do cerco policial”, esclarece.
Contudo, nas ações criminosas desta modalidade ocorridas em 2016, foram identificados e presos todos os criminosos, que integravam a “quadrilha do Cacá”.
Existe a suspeita que criminosos que atuavam na modalidade “novo cangaço” tenham migrado para roubos e furtos de defensivos agrícolas, que apresentou expansão de notificação nos últimos meses. “O lucro é maior, em apenas um furto foi levada carga avaliada em R$ 2 milhões. O risco de vida durante a ação criminosa é diminuído”.
Neste tipo de investigação, muitas vezes a Gerência conta com apoio das unidades da Polícia Civil do interior do Estado, que realizam os primeiros atendimentos. “O acionamento do GCCO é importante por possuir atribuição estadual e atuar de forma 'macro'. Por exemplo, quando é furtado / roubado uma carga na cidade de Lucas do Rio Verde, a quadrilha não atua apenas naquela cidade, mas, no mínimo em todo o médio-norte”.
Neste ano, o GCCO comemora uma sensível redução nos crimes de roubo e furtos de defensivos agrícolas, com desarticulação de quadrilhas que atuavam no segmento. Desde o mês passado, por exemplo, não houve registro algum.
Em 2015/2016 somente o GCCO recuperou de forma direta mais de 10 milhões em defensivos agrícolas, somados a outros 11 milhões com atuação indireta da Gerência no interior do Estado, totalizando mais de R$ 21 milhões do produto, recuperados em ações da Policia Civil no Estado de Mato Grosso.
O crime de extorsão mediante sequestro, onde a vítima é levada para uma espécie de cativeiro está em desuso não apenas em Mato Grosso, mas em todo o Brasil, afirma Stringueta. A modalidade é frequentemente confundida com o “sequestro-relâmpago”, onde os criminosos realizam saques rápidos restringindo a liberdade da vítima.
Em ambos os casos, as investigações são realizadas pelo GCCO. O que não acontece com as chamadas “saidinhas de banco”, cuja competência investigativa cabe à Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf).
“Talvez por conta da crise financeira nacional houve um boom de crimes de falso sequestro no início do ano, onde criminosos visando lucro financeiro, por meio de ligações telefônicas, afirmam estar com um parente da vítima e pedem dinheiro para liberação. Muitos não chegam a registrar o Boletim de Ocorrência por se sentirem constrangidos de confessaram terem caído em um golpe. (…) Em caso de suspeita de sequestro, a orientação é procurar o GCCO. Infelizmente, as pessoas decidem pagar primeiro para depois conferir a veracidade da história”, avalia Stringueta.
No final do mês passado, dois jovens foram sequestrados no bairro Jardim Tropical em Cuiabá. Segundo o delegado, o objetivo dos criminosos era o roubo do veículo HB20 de uma das vítimas escolhida de forma aleatória. Assim, a restrição da liberdade das vítimas não era o planejado inicialmente.
No dia 13 de julho os 3 autores da ação foram identificados e detidos pelo GCCO. Este foi o segundo registro em 12 meses. O primeiro em Colíder também foi solucionado pela Gerência com a prisão dos 4 envolvidos na ação.
Nos últimos dois anos houve uma redução de 70 % no registro de explosões a caixas eletrônicos em Mato Grosso quando comparado a 2014. “Em 2016 espera-se uma redução maior ainda. Outro fator positivo é que entre 80% ou mais dos casos os criminosos não conseguem êxito, não conseguem pegar o dinheiro após as explosões”.