Um cabo, um sargento e um soldado do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar serão indiciados pelo homicídio do tenente PM Carlos Scheifer e por forjarem um confronto com criminosos, para encobrir a morte do oficial que os comandava. Homologação do Inquérito Policial Militar (IPM) ocorre 108 dias depois da morte do tenente de 27 anos, em uma ação em região de mata, as margens da MT-322, em Matupá (207 quilômetros de Sinop), no dia 14 de maio.
Perícia técnica comprovou que foi do fuzil do cabo PM Lucélio Gomes Jacinto que saiu o disparo que atingiu Scheifer no tórax. Removido as pressas para um hospital da região, mas morreu logo depois. Os outros membros da equipe, um soldado e um sargento, foram indiciados com Jacinto por falsidade ideológica, prevaricação e comunicação falsa de crime. São acusados de criarem uma situação envolvendo um suposto confronto com criminosos, atribuindo a eles o disparo que matou o oficial.
Segundo o coronel PM Carlos Eduardo Pinheiro da Silva, Corregedor Geral da Instituição, o inquérito será homologado parcialmente e encaminhado para a Vara Especializada da Justiça Militar e Ministério Público com a sugestão para que seja desmembrado.
A sugestão é que cada uma das três mortes que envolveram ações do Bope em Matupá e Peixoto de Azevedo, entre os dias 12 e 15 de maio, sejam tratadas em inquéritos distintos. Outra sugestão é que sejam realizadas reconstituições dos homicídios, dentre eles do tenente Scheifer. O cabo Jacinto também é apontado como o autor do disparo que matou o criminoso Marconi Sousa dos Santos, 34, que tinha mandado de prisão em aberto por roubo na Bahia.
Na versão dos PMs que fizeram a abordagem à residência, em Matupá, Marconi pulou um dos muros para fugir do cerco policial e sacou um revólver 38 contra o cabo, que fez o disparo. Os irmãos dele, Edmundo Sousa dos Santos, 31, e Agnailto Sousa dos Santos, 46, também foram presos, junto com Jeferson Lopes dos Reis, 19. Na casa foram apreendidas mais de 650 munições, dois fuzis, além de objetos que possivelmente seriam usados pelo bando no roubo a bancos na modalidade “Novo Cangaço”.
O outro assassinato ocorreu no dia 15, no meio da mata. A vítima foi morta ao trocar tiros com policiais do Bope que estavam a procura dos supostos criminosos que mataram o tenente Scheifer.
A morte do tenente causou grande comoção junto a corporação e por determinação da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), cerca de 140 policiais militares de diversas unidades foram deslocados para a região em busca dos supostos membros do bando que teriam matado o oficial.
O Inquérito foi presidido pelo tenente-coronel PM Fernando Carneiro, oficial da Policia Militar que atua na região. A investigação deve ter desdobramentos, aponta o corregedor, coronel PM Carlos Eduardo Pinheiro da Silva, já que normalmente as sugestões feitas pela corregedoria a Justiça Militar e Ministério Público são aceitas.
Durante a investigação detalhada, o corregedor salienta que não há dúvida que ocorreram indícios de crimes militares, nas ações desencadeadas na região durante as diligencias dos policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
Foi apurado desde a abordagem a um grupo suspeito que estava em duas caminhonetes, na noite do dia 12 de maio, no distrito de União do Norte, quando houve perseguição e um dos veículos perdeu o controle e depois de um acidente, foi abandonado. O Bope estava na região para apurar a denúncia de que um bando criminoso vindo da Bahia iria promover assaltos na região.
No dia seguinte, foi feita a abordagem ao condutor de uma caminhonete suspeita, que levou os policias até a casa onde foi apreendida a munição e as armas e onde teria ocorrido o primeiro confronto com a morte de um dos suspeitos de integrar o bando.
No inquérito os três militares que estavam com Scheifer relatam que estavam na região de mata as margens da MT-322, onde ficaram por cerca de 40 minutos praticamente imóveis, em busca de suspeitos, após ouvirem sons estranhos no local. Quando se preparavam para deixar a mata, o tenente se levantou e o cabo Jacinto fez o disparo em sua direção, acreditando tratar-se de algum criminoso que estaria escondido.