Quando uma das jogadoras da “Baleia Azul”, de 13 anos, entrou na sala da escrivã da Gerência de Combate a Crimes de Alta Tecnologia (Gecat), Davelini Pereira, para prestar depoimento, não parecia, a princípio, emocionalmente vulnerável, como a russa Rina. “Ela tem uma mecha rosa no cabelo, é estilosa, morena, bonita e estudiosa. Não notei qualquer traço que pudesse levá-la a sofrer bulliyng. No entanto, a gente vai conversando e ela mostrou as mutilações nos braços, na barriga e perna. Disse que é calada. Confidenciou que já havia pensado muitas vezes em suicídio, pensamentos recorrentes, e achou que se matar seria bom para ela”, relatou a escrivã, avaliando que seria um caso para tratamento psiquiátrico.
Esta adolescente disse que é integrante do “Família Suicida” e também do “Anjo Suicida”, que inclusive mandam fotos pedagógicas, orientando formas de se matar. A outra menina que Davelini interrogou, de 12 anos, alegou se sentir sozinha e triste, demonstrou interesse em fazer coisas que a família não permite e estar desajustada com a realidade em que vive. Para a escrivã, os pais devem observar os filhos, não somente querendo achar mutilações, mas olhar para as características deles, os sentimentos, os desejos e, se algo estiver errado, o mais certo é buscar apoio médico.
Dos 25 inquéritos que o Gecat está conduzindo, somente 3 envolvem meninos suicidas. Há ainda subnotificações, como o caso de um aluno da Escola Estadual Souza Bandeira, no bairro Jardim Shangri-lá, na capital. No geral, a maioria das vítimas é mulher, de 12 a 16 anos, o que faz chamar atenção para esta faixa etária de transformações e emoções tumultuadas.
PRIMEIRO CASO – Os casos de mutilações e riscos que crianças, adolescentes e jovens estão correndo vieram à tona em Mato Grosso após a morte de Maria de Fátima de Oliveira, 16, que se matou na madrugada do dia 11 de abril em Vila Rica (1.259 km a Nordeste). A suspeita foi levantada pela própria família da jovem, que apresentava mudanças de comportamento e cortes nos braços. Depois, outros jovens foram identificados na mesma cidade e região, como em Cuiabá. Em Várzea Grande ainda não houve registro feito à Polícia Civil. As investigações tentam localizar os “curadores”, que são as pessoas que incentivam o suicídio.