O governador Blairo Maggi foi colocado em “maus lençóis” pela secretária Estadual de Educação, Ana Carla Muniz, perante a Assembléia Legislativa. Ela revelou, durante “sabatina” dos deputados, que o governador foi quem negociou o montante das verbas para o transporte escolar para a cidade de Rondonópolis, se eximindo de qualquer responsabilidade pelo repasse de R$ 1,2 milhão anual. Os deputados acusavam a secretária de privilegiar o município, onde Percival Muniz, seu esposo, era prefeito.
Os privilégios a “nichos eleitorais” foi que motivaram a convocação da secretária para prestar esclarecimentos aos deputados. De acordo com os dados colhidos pelos parlamentares, enquanto Rondonópolis recebeu R$ 1,2 milhão para o transporte escolar, Cuiabá ficou com apenas R$ 350 mil. A cidade de Sinop ficou com outros R$ 200 mil. Na sabatina, Ana Carla apresentou números conflitantes. No final da manhã, deputados informaram sobre a possibilidade de instalar uma CPI para investigar os números.
A questão envolvendo o dinheiro do transporte escolar foi colocado pelo deputado José Riva (PP), apontado como principal crítico da gestão de Ana Carla Muniz. Ele destacou que ao contrário do que foi informado pela secretária, os valores repassados para Rondonópolis são superiores aos de outros municípios. Segundo Riva, os municípios devem ser tratados de forma igualitária. “O município de Acorizal merece o mesmo tratamento de Rondonópolis” – frisou.
Ana Carla Muniz está praticamente isolada politicamente na base governista. O ex-secretário chefe da Casa Civil, deputado Carlos Brito (sem partido), foi enfático ao criticar a postura da secretária pelo fato de ter atribuído a negociação dos recursos ao governador. O atual chefe da Casa Civil, Joaquim Sucena (PFL), que acompanha Ana Carla na “sabatina”, está demissionário do cargo e sua presença é vista como mera praxe política.
O parlamentar também ressaltou que o relatório do Tribunal de Contas do Estado destacou que no resultado de 2004 a educação de Mato Grosso não atendeu aos parâmetros curriculares nacionais. Riva quer saber por que estamos muito abaixo da média nacional. A secretária mostrou dados e confirmou que a qualidade no ensino básico realmente tem caído de 1995 para cá, com uma pequena reação a partir de 2001. Contudo, ela ressaltou que o problema não é só de Mato Grosso e sim do país como um todo. O suficiente para que todos entendessem que muita coisa ainda deverá ser revelada.
Durante a audiência, o progressista deixou claro nada ter contra a pessoa de Ana Carla. O único objetivo é entender como está sendo encaminhada a política educacional do Estado. Ele lembrou ainda que outros secretários serão convocados para dar esclarecimentos na Assembléia.
O deputado Carlão Nascimento (PSDB), um dos signatários da convocação da secretária, leu o expediente que é composto pelos ofícios que são encaminhados à Assembléia em resposta às solicitações dos parlamentares. Ele chamou a atenção para o fato de vários ofícios encaminhados à Seduc, solicitando reformas ou benefícios para escolas, terem recebido exatamente a mesma resposta padronizada. Na resposta, a Seduc alega estar fazendo o possível para resolver os problemas que foram deixados por gestões anteriores.
As galerias do plenário Oscar Soares estão lotadas com profissionais da Educação. Alguns trouxeram cartazes com protestos pelo estado de conservação das escolas.