O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso (Sintep/MT), Gilmar Soares, avalia que a colocação de Mato Grosso entre os piores do país em índice de evasão escolar numa pesquisa divulgada recentemente pela Fundação Getúlio Vargas é conseqüência da precariedade das políticas educacionais desenvolvidas no Estado.
O Sintep/MT mesmo tem reivindicado a ampliação da carga horária para 1,1 mil horas anuais, garantindo ao estudante atividades extracurriculares dentro das escolas. Dessa forma, a evasão escolar apresentaria um decréscimo significativo, avalia Gilmar. Segundo ele, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) não tem trabalhado no sentido expandir as grades escolares. Soares pontua que, atualmente, a Seduc limitou o projeto em 840 horas anuais. “As escolas não têm autonomia para pensar e planejar melhor seus currículos”, disse.
O quadro de funcionários também afeta a qualidade do ensino. Os professores são obrigados a enfrentar duplas e triplas jornadas diárias por causa do baixo salário e não criam vínculos com as unidades escolares. A realização de concursos públicos seria uma alternativa para desafogar a jornada de trabalho diária dos professores e garantir a qualidade no ensino. Atualmente, o Estado conta com mais de 10 mil contratos temporários.
A falta de políticas públicas, segundo Soares, envolve diversos fatores. Há casos em que o transporte escolar impede a presença dos alunos em sala, especialmente na zona rural. A falta de merenda nas escolas também influencia a desistência uma vez que muitas crianças e adolescentes vão à aula motivados pela refeição.
Soares aponta que mais de 50% das escolas não apresentam biblioteca. “E ainda há muita dificuldade em funcionar quando tem”, avaliou.
Além disso, ele essalta a equivocada interpretação dada aos programas de supletivo. O projeto Beija-Flor implantado pela Seduc, por exemplo, tem levado alunos a desistirem dos estudos em grade continuada para garantir a certificação do ensino médio a curto prazo. “Não chamo isso de educação de jovens e adultos”, disse.
Soares frisa que a aceleração na certificação dos alunos compromete a qualidade do ensino e isenta o governo de investir nas instituições do Estado tanto no corpo docente quanto na infra-estrutura. “Com a desvalorização do professor e a precariedade das condições físicas das escolas não há outra alternativa senão a evasão escolar”, pontuou.