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Quase metade das vagas nas faculdades em Mato Grosso não está ocupada

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Cerca de 47% das vagas ofertadas no ensino superior de Mato Grosso ficaram ociosas conforme o Censo da Educação Superior 2007, divulgado esta semana pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Em números, isso significa que das 49,199 mil vagas disponíveis no Estado, 23,063 mil não foram preenchidas. O rombo maior está na rede privada, que no período ofereceu 41,713 mil vagas, teve 36,590 mil estudantes inscritos, mas só 18,792 mil – ou 45% – ingressaram, mais da metade desistiu da matrícula. Apesar de ser a base do sistema educacional das próximas gerações, a área da licenciatura – formação de professores – é a que vivencia mais problemas. Na Universidade de Cuiabá (Unic), tem mais de três anos que nenhuma turma do curso de Geografia é fechada. O mesmo drama vale para Matemática, Física, Química, Filosofia, Ciências Biológicas e Sociologia.

Nas instituições públicas, aconteceu justamente o contrário. A procura registrada foi de 44,129 mil candidatos para apenas 7,486 mil vagas ofertadas, o que significa um número 5 vezes maior de pessoas querendo ter acesso ao ensino superior gratuito. A procura foi maior na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) que contou com mais de 25,298 mil concorrentes para ocupar 3,736 mil lugares. Outros 18,484 mil disputaram um lugar ao sol entre as 3,510 mil vagas da Universidade Estado de Mato Grosso (Unemat). Nesse caso, a sobra foi apenas 142 vagas, também nas áreas de licenciatura, sendo 80% entre faculdades municipais, localizadas no interior.

Entre as instituições do Estado, o Inep levou em consideração à época da pesquisa 58 no total. Catorze na Capital e 44 no interior. Foram contabilizadas 5 públicas (3 federais, 1 estadual e 1 municipal) e 53 privadas (45 particulares e 8 filantrópicas), sendo 11 em Cuiabá e 42 nos demais municípios. No país, o censo também apontou um alto número de ociosidade, entre 2,823 milhões de vagas ofertadas, 1,341 milhão sobraram, o que significou 47,7%. As instituições privadas foram as principais responsáveis pelo aumento. Nos últimos 10 anos, foi realmente necessário esse acréscimo para atender uma demanda reprimida das classes A e B, mas essas classes foram atendidas e a expansão continuou.

Triste previsão – Para o sociólogo Naldson Ramos, que também é professor da UFMT, os dados apontam uma perspectiva caótica para os próximos 20 ou 30 anos, quando a sociedade estará totalmente voltada para formação técnica e não humanista. Os cursos superiores estarão preparando profissionais e tecnólogos, mas muito pouco pensadores. Faltarão pessoas que possam se comportar como cidadãos, ao refletirem sobre a realidade e sugerir mudanças. Ao contrário dos séculos 18 e meados do 20, em que a base renascentista pregava o pensamento humano para a construção de um mundo melhor, na “era globalizada”, a racionalidade e o individualismo predominam. “Infelizmente, estamos caminhando para a barbárie, quando todos lutam contra todos, porque o outro não me interessa”.

Sofrimento – Descrédito no ser humano. Depressão. Guerra no trânsito. Alto índice de suicídios. Juventude alcoolizada e drogada. Banalização completa da vida. Essas são algumas chagas que já assolam o Brasil. Ramos explica que a todo o momento a mídia chama a atenção para absurdos que acontecem. Mas qualquer país que queira se desenvolver precisa valorizar seus educadores, estimular a produção do pensamento e da ciência, mas não para atender interesses de empresas privadas, como constantemente acontece, mas voltada ao bem-estar da população. “Temos uma sociedade que não olha para dentro de si mesma, que só valoriza o imediato, porque formar filósofos ou matemáticos realmente exige mais investimento, inclusive do próprio sistema educacional”.

Vilão social No processo seletivo da UFMT de 2009, o número de inscritos superou 29 mil pessoas. Todas querendo uma das 4,377 mil vagas, em 88 cursos, distribuídos entre os campi de Cuiabá, Rondonópolis, Médio Araguaia e Sinop. É uma verdadeira “guerra de gigantes” em que vencem os melhores preparados, ou que significa uma minoria que teve oportunidade de frequentar os melhores colégios e se preparar para passar no vestibular. Mesmo tendo saído de uma estagnação de pelo menos 20 anos, que surgiu com a intenção de privatização neoliberal das universidades públicas, o acréscimo de vagas na federal é tímido, se comparado com das particulares. Entre 2006 e 2009, foram apenas 1,339 mil vagas a mais, uma média de 330 por ano. Até 2012, a expectativa é chegar a 7 mil vagas segundo o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), mas ainda é pouco 24% -se observada a demanda atual.

A pró-reitora de Ensino da Graduação da instituição, Miriam Tereza Moura Guerra, afirma que mesmo existindo poucas “sobras”, ainda há cursos deficitários. São eles justamente na área de licenciatura, que além de ter pouca procura, enfrentam desistência superior a 50% logo no primeiro ano do curso. Música e Ciências Naturais e Matemática, de Sinop, estão na iminência de não ter mais turmas por falta de alunos. Biologia se salva porque ainda oferece a opção de bacharelado, o estudante pode trabalhar como biólogo ao invés de ser professor. “O mercado tem ditado as regras, este ano, por causa das obras do PAC (Programa Aceleração do Crescimento), a concorrência para Engenharia Civil subiu de uma média de 10 candidatos por vaga para 20”.

A evasão preocupa bastante os gestores da federal, em 2007, apenas 67% daqueles que ingressaram na instituição se formaram. Outros 33% desistiram. Os motivos são variados, o mais forte é o desestímulo por conta do mercado profissional. Saber que não vai ter um bom emprego depois pesa para alunos que, em geral, precisam enfrentar jornadas duras de trabalho, porque precisam se sustentar e/ou os filhos, e depois seguir para a universidade, onde ainda têm dificuldade para acompanhar as aulas. Nas Engenharias, onde são utilizadas matérias de cálculo que precisam de uma boa base de matemática e física, os professores por conta própria criaram um sistema de tutoria em que o universitário faz revisão de todo conteúdo do Ensino Médio durante os primeiros 15 dias de aula, nos horários alternados das aulas. “Infelizmente, não podemos assumir a deficiência desse aluno, porque muitos chegam sem bagagem suficiente, mas estamos criando métodos para minimizar o problema”.

Há uma relação entre concorrência, valorização profissional e evasão. Nos cursos de Medicina, Direito, Computação, Agrária e Engenharias praticamente ninguém desiste. São alunos em geral que têm apoio dos pais para estudar e podem se dedicar ao estudo, estágios e outras oportunidades de aperfeiçoamento na carreira.

Cursos na corda bamba Na maior instituição particular do Estado, a Universidade de Cuiabá (Unic), que há um ano deixou de ser filantrópica porque foi comprada pelo Grupo Iuni Educacional, a dificuldade tem sido driblada com criatividade. No último vestibular, estiveram disponíveis 9,414 mil vagas, entre as 11 unidades, de Cuiabá e interior, apenas 5,671 mil foram preenchidas. Isso significa uma sobra de 3,743 vagas ou 39% do total ofertado. As licenciaturas estão à beira do colapso, a procura é pequena e não compensa para a instituição montar toda uma estrutura para atender meia dúzia de pessoas. Matemática e Biologia, período matutino, por exemplo, não formaram turma no início do ano. “Quem não passa na federal nos procura, mas nos cursos que formam professores, como geralmente são pessoas que trabalham, tem que ser uma opção à noite”, diz o diretor de Marketing do grupo, Mekler Nunes.

A instituição está adotando algumas práticas para poder reverter a dificuldade de atrair novos alunos. Uma delas é abrir um novo processo seletivo com as vagas que sobraram, cerca de um mês depois. No ano passado, houve vestibular em novembro e dezembro, o que facilitou inclusive quem estava focado na UFMT e acabou não passando na primeira fase. Também há opções variadas de bolsas e descontos. Para famílias inteiras, 13%; pagamento até dia 5 do mês, 6%. Tem o Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (ProUni), ambos do governo federal, que financia até 100% do curso. Existem ainda créditos educacionais, a partir de 4 bancos públicos e privados e convênios com empresas, órgãos públicos e sindicatos. “Ano passado fechamos uma turma de Engenharia de Produção dentro da sede da Bimetal, foi uma maneira prática de capacitar os trabalhadores e facilitar a vida de todos”.

Para este ano, a expectativa é a parceria com a Prefeitura de Cuiabá que vai abrir pelo menos 500 bolsas universidades para pessoas carentes, em todos os cursos, inclusive Medicina. O benefício será possível com a reversão de impostos.

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