Produtores rurais de Mato Grosso se reuniram com a Bancada Federal na última quarta-feira, na Câmara dos Deputados, em Brasília. Eles reivindicaram medidas que solucionem a crise do setor agrícola no país. O encontro, articulado pelo deputado federal Ricarte de Freitas (PTB/MT), contou com a presença de toda a bancada mato-grossense, do presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, Ronaldo Caiado (PFL/GO), e do deputado federal Odílio Balbinotti (PMDB/PR).
Caiado deu início à reunião relatando o cenário político atual e reconhecendo a dimensão da crise que se instala no setor agrícola. “Trata-se de uma crise sem precedentes. De dois anos para cá os custos da produção aumentaram, os preços caíram e, para piorar, os prejuízos se acentuaram com a propagação da ferrugem asiática nas lavouras. A situação é dramática”. O parlamentar enfatizou a necessidade de se criar políticas emergenciais para livrar o setor de um desastre ainda maior. “A Comissão tem apresentado projetos que favorecem o setor como um todo. Estamos aqui para isso. Mas precisamos unir forças e articular estratégias que beneficiem vocês em curto prazo. O momento é propício para negociações”, apontou.
Após ouvir os anseios dos produtores, o coordenador da Bancada Federal do Mato Grosso, Ricarte de Freitas, reconheceu a importância da reunião para mobilizar mais pessoas do setor. “Esta é a primeira vez que vocês procuram a Bancada. Somos movidos a demanda e garanto que, com as colocações feitas aqui, todos os parlamentares irão dedicar esforços em prol deste setor, que movimenta significativamente a economia do Estado”. Ricarte reforçou a necessidade de o grupo se organizar e reivindicar, também, novas iniciativas por parte do Governo Estadual. “O governador começou uma série de ações e, agora, é fundamental continuar utilizando os instrumentos de apoio necessários para fazer a devida pressão junto Governo Federal”, disse o petebista, referindo-se à reunião emergencial com a Ministra da Casa Civil, Dilma Rouseff, ocorrida no dia 13 de março. Para Ricarte, o setor produtivo precisa chamar a atenção para a necessidade de soluções imediatas diante do risco de estagnação da agropecuária.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), Rui Otoni Prado, considerou a reunião com os parlamentares muito produtiva. “Este é o primeiro de muitos outros contatos que faremos com a Bancada. Saímos da reunião com a certeza de que não estamos sozinhos nesta luta”.
Força-Tarefa – Preocupados com o cenário desfavorável do agronegócio em 2006, entidades produtoras de Mato Grosso decidiram criar uma força-tarefa, constituída por produtores e empresários rurais. Esta força esteve, durante esta semana, em Brasília, discutindo diariamente problemas relacionados ao setor e definindo estratégias e ações com vistas a minimizar o impacto da crise gerada pelo endividamento e queda da renda rural. “Participamos de reuniões em ministérios e em órgãos ligados à área, em Brasília. Nosso objetivo é desencadear um amplo movimento para pressionar a União a tomar as medidas para tirar o setor do caos”, esclareceu Prado. Um escritório do grupo foi instalado em uma das salas da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), e funciona ininterruptamente.
Os produtores mato-grossenses encaminharam, esta semana, um documento ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Roberto Rodrigues, relatando o difícil cenário brasileiro, devido à queda dos preços da soja, ao aumento dos insumos, ao vencimento das dívidas rurais e à queda da rentabilidade para o produtor. As dívidas dos produtores são oriundas de investimentos realizados nos últimos anos em Mato Grosso, visando a modernização da lavoura, como a aquisição de máquinas e equipamentos e à calagem do solo.
A força-tarefa preparou uma carta para se entregue às autoridades em Brasília. No documento, o grupo apresenta as principais reivindicações do setor produtivo, entre elas estão o re-escalonamento imediato das dívidas vencidas desde 2004, com dois anos de carência, prazo de quinze anos para quitação das mesmas, com juros de 3% ao ano; re-pactuação e alongamento dos prazos das parcelas vencidas dos financiamentos, com carência de três anos para início do pagamento, prazo de vinte anos para quitação e garantia de crédito para as próximas safras, e liberação imediata dos recursos do FAT – Giro Rural. Na carta, o grupo também propõe a criação de uma MP do Bem para Agricultura, com o propósito de se apresentar soluções para os problemas enfrentados pelo setor.
Hoje, pela manhã, o grupo esteve novamente na Casa Civil e foi recebido pelo assessor Érico Feltrin, que sugeriu a regulamentação do registro por similaridade de produtos agroquímicos formulados. Na opinião de Feltrin, esta medida vai aumentar a concorrência e reduzir os custos dos produtos. “Os produtores sentirão alguma diferença porque o registro por equivalência para produtos técnicos já está funcionado desde meados de 2005. Quando for regulamentado o registro para os formulados, a diferença será ainda maior”, esclareceu.
Na próxima semana, haverá uma reunião entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e os Ministérios do Planejamento, da Fazenda, da Casa Civil e da Agricultura Pecuária e Abastecimento para definir ações estratégicas para solucionar a crise.
A força-tarefa, que esteve na Capital Federal desde o dia 22 de março, é formada por seis pessoas. Da Aprosoja, além do presidente da entidade, participaram Neri Geller, Ronaldo Cesário, Juci Piccini. Da Federação de Agricultura e Pecuária (Famato), participou o diretor Valdir Correa. Também esteve presente o presidente do sindicato de Lucas do Rio Verde, Helmute Lawisch. Os trabalhos serão retomados na próxima semana por uma nova equipe