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Suspensão da exportação da carne argentina pode ajudar Brasil

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O Brasil poderá ser o país mais favorecido, na opinião de pecuaristas e exportadores argentinos, com a decisão do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, de suspender as exportações de carne durante seis meses.

A medida foi anunciada, na quarta-feira, à noite, pela ministra da Economia, Felisa Miceli, para aumentar a oferta interna do produto, reduzindo os preços aos argentinos.

A decisão surpreendeu o setor, agradando donos de açougues e entidades de defesa do consumidor, mas gerando fortes críticas entre os ruralistas.

Segundo assessores da Sociedade Rural Argentina, que reúne os maiores produtores e exportadores agropecuários, os frigoríficos brasileiros que vendem ao exterior, poderão negociar melhores preços para sua mercadoria, já que haverá menor oferta no mercado internacional.

Mercados
Além disso, como reconheceu o presidente da entidade, Luciano Miguens, cada vez que a Argentina deixa de exportar, por alguma razão, o Brasil é o país que ocupa seu lugar.

“O Brasil já ganhou muitos mercados que eram da Argentina, quando foi descoberta a febre aftosa no gado nacional (há cerca de cinco anos)”, disse ele às televisões do país.

Fatos assim, além da limitação da produção nacional de carne, na Argentina, contribuíram, entendem assessores dos ruralistas, para o Brasil passar a ser o maior exportador mundial do produto.

Atualmente, a Argentina é o terceiro neste ranking, mas mesmo no governo teme-se que perca o posto, após o anúncio da medida, que ainda não se sabe como será implementada.

“Desse jeito, cada vez mais produtores de carne vão optar por plantar soja, mais rentável que o gado”, disse um produtor, pedindo o anonimato.

“Existe uma demanda internacional exagerada e o estoque não cresceu, na mesma proporção, para atender às necessidades internas e externas”, disse Ignácio Gómez Alzaga, vice-presidente do mercado de abastecimento de Liniers, de onde sai o preço de referência do produto.

Ele e os representantes dos açougues aprovaram a iniciativa do governo, entendendo que ela contribuirá para a redução do preço, que no ano passado, no atacado, ficou, em média, o dobro da inflação. E esse ano já registrou mais de 20% de alta.

‘Fome do povo’
Pouco antes do anúncio feito pela ministra da Economia, o presidente afirmou: “Não nos interessa exportar graças à fome do povo”.

Kirchner disse que os argentinos devem ser privilegiados por esta produção e com um “preço justo”. A carne é, historicamente, o principal produto do cardápio dos argentinos, com um dos maiores consumos per capita do planeta – 61 quilos.

A Argentina exporta, segundo a Secretaria de Agricultura, para 83 países. Destes, individualmente, os maiores compradores são a Rússia e o Chile, que suspendeu suas encomendas desde a reaparição da febre aftosa no gado argentino, em fevereiro último.

Além destes países, a União Européia é o principal importador do produto. No ano passado, a Argentina exportou cerca de 770 mil toneladas, no valor aproximado de US$ 1,4 bilhões.

Pelos cálculos do governo, a suspensão das exportações vai permitir o aumento de 600 mil toneladas para os próprios argentinos.

Na Sociedade Rural, desconfiam do efeito da medida.

“Num primeiro momento, os preços até poderão cair, mas depois voltarão a subir novamente. A melhor saída seria reduzir os impostos no preço final e não tirar a Argentina do mapa das exportações”, reclamou um assessor da entidade.

A medida do governo não afeta 28% do total exportado, já que exclui a chamada “cota hilton” (com tarifas preferenciais e enviada, principalmente, para a Europa) e acordos feitos diretamente com países e não com os frigoríficos do setor privado – esses, na Argentina, garantem que sofrerão com a geração de desemprego.

Mas como disse, nesta quinta-feira, o ministro do Interior, Aníbal Fernández, a equação é simples: o governo vai intervir sempre que perceber que as regras não estão sendo cumpridas. A Confederação Rural da Argentina reagiu dizendo que poderá entrar na justiça para continuar exportando.

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