A soja vai ter uma nova expansão no Mato Grosso, usando principalmente áreas que já têm ocupação humana. A previsão é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que registrou safra recorde do grão este ano no país, apesar da redução na área plantada. O estado responde por mais de um quarto da produção nacional.
“Temos levantamento sobre aquisição de adubos dizendo que os produtores adquiriram quantidade maior que na safra anterior”, comenta o supervisor de Estatística Agropecuária do IBGE no estado, Fernando Marques de Figueiredo, em entrevista à Agência Brasil. “É cedo para saber quanto vai crescer a produção, mas deve ser no máximo 10%.”
O supervisor, que é engenheiro agrônomo, aponta uma recuperação da cotação do produto na Bolsa de Chicago como compensação, para os exportadores, ao baixo valor do dólar em relação ao real. Ele prevê que o avanço da sojicultura se concentrará em áreas colocadas em descanso, locais com produtividade menor ou pastagens, ou ainda em substituição a outras lavouras – em geral, arroz. Por isso, conclui, não há um novo risco para o Parque Indígena do Xingu.
Para Figueiredo, quando houver desmatamento, será principalmente de trechos de cerrado, inclusive por uma questão financeira. “Os produtores que normalmente atuam nessas áreas são paranaenses e gaúchos, que por tradição preferem derrubar o cerrado, a um custo muito menor”, diz. “E estão no vermelho [com prejuízo], são castigados com doenças na lavoura e menor cotação há três safras.”
É diferente a avaliação do coordenador do Programa Xingu do Instituto Socioambiental (ISA), André Villas-Bôas. Ele diz que o entorno do parque indígena reúne características muito atraentes ao agronegócio, que o impulso dos biocombustíveis deve aquecer o mercado de terras na região e que ao menos parte da expansão produtiva será em novos locais.
Fernando Marques de Figueiredo, do IBGE, diz que a a situação ao redor do parque está “meio estabilizada”. “Hoje existem restrições para a derrubada de mata, impostas pelo Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e pela Fema [Fundação Estadual de Meio Ambiente]”, justifica. “Normalmente são os madeireiros que agem primeiro, e depois entram os produtores para terminar a derrubada e implantar a lavoura. Como os madeireiros estão sendo cerceados em inúmeras irregularidades, está sendo reduzida essa influência no entorno.”
O engenheiro agrônomo pondera que pode haver mais ocupação de áreas hoje preservadas mais ao sul do estado, onde está parte dos rios que formam o Xingu. “Lá já está mais aberto, com mais lavoura, a quantidade de pesticidas e inseticidas é maior, e eles são carreados para os rios”, comenta. Ele opina que pesquisas a partir de peixes consumidos podem trazer dados esclarecedores.
Figueiredo destaca também a ampliação do plantio de cana-de-açúcar em alguns municípios, mas diz que ela se dá em áreas que já vinham sendo plantadas com soja, num sistema de rotação de culturas.