Entre os gases que mais contribuem para o efeito estufa e que continuamente vem aumentando de concentração em todo planeta, o carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O) são os mais importantes. Dos três, o CO2 é o que possui maior concentração no solo, numa quantidade superior ao encontrado no ar e na vegetação do planeta, juntos. Porém, não fosse o de desmatamento para práticas agricultáveis, o Brasil praticamente não colaboraria para o aquecimento global, pois nossa matriz energética pouco se utiliza da queima de combustível fóssil, o maior responsáveis pelos danos ambientais na atmosfera.
Mesmo sendo considerada a quarta maior nação poluidora, devido as ações predatórias empregadas pelo mau uso da terra na maior frente agrícola do mundo, que avança sobre a floresta amazônica, a região não possui um estudo quantificado sobre suas emissões. Os números apresentados são praticamente todos estimados e hipotéticos.
Para avaliar o impacto ambiental gerado pelo aumento dos gases que provocam o efeito estufa (GEE), nesta segunda-feira, partiu de Piracicaba uma expedição que irá percorrer os estados de Rondônia e Mato Grosso medindo a degradação do solo. “O objetivo principal do projeto é quantificar a emissão de gases produzidos pelo aumento da expansão da agricultura na área sudoeste da Amazônia nos últimos 40 anos, relacioná-la com o aquecimento global e, conseqüentemente, com as mudanças climáticas neste período”, explica Carlos Cerri, pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), instituto de pesquisa e ensino da USP, localizado no Campus ‘Luiz de Queiroz’, juntamente com a ESALQ.
No Brasil, a emissão de gases é inversa a situação global e apenas 25% provem da queima de combustíveis fosseis. “Cerca de 75% do CO2 que o país emite na atmosfera são derivados de práticas agrícolas. Se desconsiderarmos o desmatamento, o Brasil cai para a 17°. posição na classificação mundial dos países emissores de GEE”, esclarece.
Diferente de outros pontos do país, o norte começou a se desenvolver a partir dos anos 1970 e, atualmente, a região sudoeste da floresta amazônica abriga a maior fronteira agrícola do mundo e se estende em forma de arco por Rondônia, Mato Grosso, Pará, Tocantins e Maranhão. “Devido a degradação do solo pelas práticas de cultivo da terra, é provável que esta área contribua de maneira significativa com as emissões. Vamos medir os dois estados onde se concentra 45% dessa expansão”.
Composta por duas equipes, a expedição passará por 22 municípios, devendo percorrer mais de 15 mil quilômetros em cerca de 45 dias, numa área de um milhão e 200 mil Km2, equivalente ao dobro do território da França. “Demarcamos pontos de coleta onde estaremos mapeando a vegetação nativa e medindo as quantidades de carbono e nitrogênio desprendidas pelas atividades humanas”, diz Cerri.
Após o levantamento inicial, as amostras de solos coletadas serão analisadas no laboratório de Biogeoquímica de Solos do Cena. “A metodologia da pesquisa é simples, vamos analisar áreas de cultivo e de florestas nativas remanescentes e fazer um comparativo da quantidade de carbono existente em cada porção. A diferença existente entre as duas amostras de solo, uma intacta e outra que já sofreu manejo, significa a quantidade de carbono emitida na atmosfera”, conclui.
Numa etapa seguinte, serão instalados câmaras para o recolhimento gases. Ao término da pesquisa, que deve durar quatro anos, mas poderá apresentar resultados preliminares no final de 2008, a avaliação também deverá medir o estoque de carbono existente na vegetação e no solo da região sem a interferência humana.