Um estudo realizado na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) revela que o rápido avanço do cultivo de soja no Norte do estado, entre o Baixo Araguaia e a reserva do Xingu, está provocando a saída de pequenos agricultores. “A ânsia do lucro não respeita nada. Onde é possível plantar soja, a mata está sendo sacrificada e a população pobre, juntamente com os indígenas, sendo expulsa”, afirma o professor de sociologia rural João Carlos Barroso, coordenador do Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos da UFMT e responsável pela pesquisa.
O estudo preliminar, feito em 2005 e divulgado no ano passado, traz um relato sobre os 13 municípios da região. Segundo o professor, o avanço da soja começou a impactar a região a partir do ano 2000 e hoje está presente em 80% dos municípios. Em Querência, por exemplo, o cultivo já ocupa 80% do território. “O que se alega é que o meio ambiente não pode ser um obstáculo ao desenvolvimento econômico no campo. Por isso, há fogo em toda parte. A impressão é de que o mundo está queimando”, sublinha.
O sociólogo, em um mês de viagem, percorreu 3,6 mil quilômetros. “O avanço da soja é impressionante, maior do que eu imaginava. Se continuar assim, se não for delimitada a área de expansão, em pouco tempo as máquinas agrícolas vão ocupar toda a região”. Esse processo está causando, segundo ele, a expulsão de agricultores e posseiros que vivem do plantio de arroz, milho e mandioca, pois mais de 50% das propriedades locais são de pequeno e médio porte. “É um pessoal frágil que está sendo expulso, jogado fora”, frisa Barroso.
O professor prevê que, como a região tem cidades pequenas, sem indústria e agroindústria, os trabalhadores do campo não terão como sobreviver. “Estão perdendo a terra e não conseguem trabalho nessas empresas, que são altamente mecanizadas. Não há espaço para agricultores não alfabetizados e profissionalizados. Enfim, serão expulsos da terra e da região. Observei muita ociosidade nos municípios”.
Para Barroso, esses excluídos só têm duas alternativas no momento: migrar para os grandes centros urbanos ou para “mais adiante”, para serem posseiros na mata e, novamente, serem expulsos pela chegada dos empreendimentos agrícolas, “num triste círculo vicioso”.
Em outras entrevistas à Agência Brasil, o secretário de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia, Augustinho Pastore, apontou “vantagens” do desmatamento, a integrante do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), Ivaneide Bandeira Cardoso, criticou o governo do estado e o secretário nacional de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável, Gilney Vianna, apontou a pecuária como “grande motor” do desmatamento da Amazônia.