A refeição fora de casa é apontada, de acordo com pesquisas, como o principal vilão da inflação em 2008. No acumulado de janeiro a outubro deste ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já atinge 5,23%, sendo que esta “mordomia” é responsável por 10% deste percentual. Com a alta verificada nos principais alimentos, o que consequentemente elevou o preço cobrado nos restaurantes, consumidores que têm de almoçar fora estão sentindo no bolso a elevação nos valores e tentando apertar daqui e dali para manter os gastos equilibrados.
De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trabalhadores da região Centro-Oeste com rendimento entre R$ 1,2 mil e R$ 1,6 mil mensais gastaram em 2003 cerca de R$ 279,34 ao mês com alimentação. As despesas com os alimentos correspondiam a 17,4% do total que recebiam (tomando-se como referência o maior valor, de R$ 1,6 mil) e poderia chegar a 23,2% dos ganhos do trabalhador que recebe R$ 1,2 mil.
Para se ter uma idéia da alta dos alimentos e do peso deles no bolso das pessoas, o preço da cesta básica em Cuiabá sofreu aumento de 8,14% em outubro em relação a setembro, sendo vendida nos supermercados da cidade por R$ 225,42 no mês passado. A alta ocorreu depois de duas quedas consecutivas, em agosto e setembro, quando chegou a R$ 208,45. O levantamento de preços dos 13 itens da cesta básica é calculado mensalmente pela KGM Pesquisas e segue a mesma metodologia adotada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O gerente de restaurante José Silva Alencar afirma que nos últimos seis meses o preço do almoço a quilo aumentou até 21,1%. Ele diz que em maio o valor cobrado de segunda a sexta-feira era de R$ 16,90 e recentemente passou para R$ 19,90, uma variação de 17,7%. Já no final de semana, o valor passou de R$ 18,90 para R$ 22,90. Segundo Alencar o reajuste foi motivado pelo incremento no preço na maioria os produtos, principalmente carnes, arroz e feijão. “Peixes, bacalhau, camarão e até mesmo carne bovina tiveram aumento considerável e tivemos que fazer algumas adequações para equilibrar os gastos”, explica ao acrescentar que o aumento repassado ao consumidor também é em função do desperdício.
Para evitar o desperdício, o sistema de self-service também sofreu reajuste, passando de R$ 24,90 para R$ 28,90, uma variação de 16%. Na opinião do gerente, a pessoa que vai a um restaurante e paga pelo quilo evita desperdiçar, já que se não comer vai pagar da mesma forma. Com a comida a quilo, afirma, a pessoa pode controlar os gastos mensurando o quanto vai comer.
Noutro restaurante o proprietário Carlos Abiko, diz que os preços também aumentaram sendo que as carnes foram as grandes responsáveis pelo incremento de 26,4% no quilo do cardápio que é servido diariamente aos consumidores. Ele conta que em janeiro o valor cobrado era de R$ 18,90 e atualmente está em R$ 23,90. No final de semana sobe para R$ 26,90. “Não dá para segurar. A carne aumentou cerca de 60% este ano e para não interferir na qualidade do que servimos tivemos que repassar para os clientes”, diz ao complementar que por ter um restaurante no shopping os custos para mantê-lo são maiores e por isso o esforço em reduzir gastos.
Uma das ações adotadas pelo empresário é a cotação de preços. Ele afirma que os produtos são adquiridos de vários fornecedores e a compra é feita de quem cobra menos. “Estamos fazendo pesquisas e também reduzindo a quantidade de comida servida para evitar o desperdício”, diz ao avaliar que, mesmo com a inflação sendo puxada pelos alimentos, as pessoas não estão deixando de ir aos restaurantes, porém o movimento teve uma redução de até 30%. Abiko diz que a expectativa é que este cenário mude para evitar uma situação pior aos donos de restaurantes.
A cunhada de Abiko, Antônia Abiko, também é sócia de um restaurante e afirma que os preços no estabelecimento dela também foram alterados para mais. Ela informa que o valor era o mesmo e que foi aumentado na mesma proporção do Sabor do Campo e que as estratégias utilizadas para não ter um impacto tão significativo no faturamento por causa da alta no preço dos alimentos é a pesquisa entre os fornecedores.
Ela diz o tomate, por exemplo passou de R$ 30 (caixa com 50 kg) para R$ 50. “As estações do ano também influenciam bastante, pois agora no período chuvoso as folhas ficam mais caras, assim como o valor de outros produtos têm crescimento no período da entressafra”, diz ao confirmar que o movimento no restaurante também reduziu nos últimos quatro meses e que em novembro esteve até mais aquecido em relação a outubro e deve se manter assim em dezembro. Ela diz que o aumento na demanda é motivado pelo fato de os trabalhadores estarem com um pouco mais de dinheiro no bolso com o 13º. “Nossa dúvida é de como vai ser de janeiro em diante”, diz sem esconder a possibilidade de demissão.