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Como “celeiro do mundo”, MT importa metade do alimento que consome

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Caiu na boca do povo. Se o assunto é oposição à ampliação de áreas protegidas ou rebater críticas ao avanço da agropecuária sobre áreas de floresta, empresários e políticos matogrossenses disparam o que consideram seu melhor argumento: graças à capacidade do estado de produzir alimentos em volume planetário, boa parte do mundo come. É verdade. A terra no Mato Grosso é generosa. Mas não com seus filhos. Não fosse o mundo, em especial o resto do Brasil, eles passariam fome. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Rural de Mato Grosso (Seder), 56% de todos os alimentos consumidos por aqui são “importados” de outros estados. E, dependendo do produto, esse percentual pode ser muito superior.

O presidente da Associação dos Supermercados de Mato Grosso (Asmat), Altair Pierozan Magalhães, explica que é muito amplo discutir esse assunto, especialmente num universo de 30 mil itens que são disponibilizados em um dos maiores mercados de Cuiabá, onde trabalha. Mas quando perguntado sobre quais são os principais itens que ele precisa encomendar de outros estados, responde: “Tudo. A não ser óleo de soja, mandioca, açúcar e carne”, de maneira geral. Segundo ele, apesar de haver sempre uma ou outra marca de produto local que concorra com os trazidos de outras regiões, isso é considerado irrelevante. “Nós não temos fábrica de massa, ou qualquer outra, apenas duas empacotadoras de arroz e açúcar. Não produzimos batata, cebola, tomate, nada disso”, revela Magalhães.

Por causa da necessidade de importação de alimentos, o mato-grossense depende de viagens de caminhões que demoram de três a sete dias para que itens básicos cheguem às prateleiras. Em Cuiabá, a maioria vem de estados produtores como São Paulo. No interior, fortemente colonizado por paranaenses, catarinenses e gaúchos, as compras costumam ser feitas no setor atacadista de Curitiba.

Municípios do porte de Juína, por exemplo, no noroeste do estado, mantêm uma pequena produção familiar que abastece em cerca de 50% as necessidades dos mercados em frutas, legumes e verduras. Mesmo assim, em diversas épocas do ano, é preciso encomendar do Paraná itens como banana, cebola, cenoura, mamão, beterraba, laranja, sem falar, é claro em produtos típicos de clima mais frio que de vez em quando aparecem nas prateleiras, como morangos vendidos ao preço de 10 reais a caixa pequena.

Altair Magalhães, da Asmat, estima que os produtos trazidos de outros estados sofram um acréscimo de 3 a 5% no preço por causa do frete, que é barato na sua opinião. “Mesmo se a produção fosse daqui, não haveria grande variação de preço para o consumidor”, diz ele. A diferença, no entanto, seria permitir que o dinheiro circulasse pelas diversas regiões do estado, gerando renda, emprego e impostos para dentro de Mato Grosso.

“Temos no estado alguns produtores, claro, mas não temos vocação para hortaliças, por exemplo”, diz. Ele acredita que a razão para essa necessidade de importação seja característica da colonização que ocorreu no estado. “Eu não sou do ramo, não sei se produzir essas coisas é mais fácil ou mais difícil. Eu só não consigo entender por que Mato Grosso não tem um produtor de batata. Por que aqui a gente não produz nada?”, indaga-se.

“Falta planejamento de produção”, diagnostica José Alfredo da Costa Marques, assessor especial da Seder. O estado que se vangloria por segurar a balança comercial do Brasil no azul, que transformou 8,6 milhões de hectares em lavouras mecanizadas de grãos, e tem 25 milhões de hectares de pastagem ainda não conhece sua própria produção interna de alimentos

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