Estreante em licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a Bacia do Parecis, em Mato Grosso, é uma completa desconhecida. Segundo geólogos consultados pelo Estado, não há, no mercado, qualquer dado técnico que garanta alguma estimativa de potencial de descobertas.
O único sinal de existência de petróleo na região são alguns afloramentos de óleo mas margens dos rios. Para os especialistas, a nova bacia não deve atrair o interesse de grandes companhias além da Petrobrás.
A ANP contratou, no ano passado, estudo geoquímico do óleo encontrado na região, mas ainda não há resultados. A bacia, que tem uma área de 500 mil quilômetros quadrados, ainda não teve estudos sísmicos nem poços exploratórios perfurados. Um primeiro poço de testes deve ser perfurado apenas em 2011. A sísmica começa a ser feita um ano antes.
“É uma nova fronteira de altíssimo risco exploratório. Pelos afloramentos, sabe-se que tem petróleo, mas não é possível dizer que há sistemas petrolíferos ativos, com volumes comerciais”, diz o consultor John Forman, experiente geólogo com passagem pela diretoria da ANP.
Segundo o professor da UFRJ, Giuseppe Bacoccoli, teoricamente, o potencial da região é pequeno, pois trata-se de uma bacia muito antiga, com sedimentos do período Paleozóico, formado entre 542 milhões e 251 milhões de anos atrás – as reservas marítimas da Bacia de Campos, por exemplo, foram formadas no Mesozóico, entre 250 milhões e 65 milhões de anos atrás. A “idade” da bacia pode prejudicar a fixação do petróleo no subsolo, uma vez que aquelas rochas já sobreviveram a diversas movimentações da crosta terrestre.
Bacoccoli diz que o potencial maior está em reservas de gás, também por ser uma bacia mais antiga. “A matéria orgânica teve mais tempo para evoluir. Naturalmente, ela se transforma primeiro em petróleo e depois em gás”, explica. De todo modo, ele lembra que as condições são semelhantes às da Bacia do Paraná, onde já houve trabalho exploratório – inclusive com atuação da Paulipetro, criada por Paulo Maluf na década de 70 – sem grande sucesso.
A Bacia do Paraná, por sinal, também foi incluída na lista de ofertas da 10ª Rodada de Licitações da ANP, que deve ser realizada no fim do ano. Com a inclusão de regiões pouco conhecidas, a agência pretende obter um maior conhecimento das bacias sedimentares brasileiras. “É importante colocar sempre bacias novas em licitações. Assim avançamos no conhecimento do potencial petrolífero brasileiro”, concorda Forman.
Um bom exemplo é a Bacia do São Francisco, em Minas Gerais, que foi incluída na 7ª Rodada de Licitações da ANP e teve blocos arrematados pela Petrobrás, pela argentina Oil M&S, e pelas pequenas petroleiras nacionais Cisco Oil & Gas e Orteng. Segundo a ANP, os concessionários devem investir R$ 18 milhões em estudos sísmicos e perfuração de poços.
Os especialistas admitem que o trabalho exploratório no Parecis pode enfrentar alguns obstáculos, por tratar-se de uma fronteira agrícola com grande sensibilidade ambiental. “Onde não tem fazenda, tem reserva: ou vai ter que negociar com fazendeiro ou com o meio ambiente”, diz Bacoccoli. Ele diz que a pesquisa sísmica terá um alto custo. Informações da Agência Estado