A Selic é uma das palavras mais comuns para quem acompanha o noticiário financeiro e segue de perto a realidade do cenário econômico do país, mas pouco ‘familiar” para a população em geral. É a taxa básica de juros utilizada para operações de curto prazo entre os bancos, que, quando querem emprestar recursos de outros bancos por um dia, oferecem títulos públicos como garantia, a fim de reduzir os riscos e consequentemente, a remuneração da transação.
A cada 45 dias o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco do Brasil Central se reúne e decide se a taxa básica
da economia brasileira vai subir, cair ou será mantida. E na semana passada o comitê definiu, com unanimidade, elevar essa taxa de 8,5% para 9% ao ano. Já é o quarto aumento seguido na taxa Selic, que desde abril deste ano só vem crescendo. É o maior nível desde março de 2012, quando estava em 9,65% ao ano.
O aumento ativa o gatilho que provoca a mudança na remuneração da caderneta de poupança e eleva o rendimento das demais aplicações de renda fixa atreladas aos juros. Além disso, o comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano. O economista Carlos Campos explica que quanto maior a taxa de juros, maior será o índice de retorno dos investidores, porém, ela não deve ser considerada de forma isolada para quem investe, deve-se levar em consideração a situação das empresas diante de tantos fatores externos como dólar e desaceleração da economia.
Ele ainda explica sobre a consequência dessa mudança no bolso dos brasileiros. “O efeito pode ser direto ou indireto, depende do perfil financeiro de cada um. Um dos efeitos mais diretos é sobre quem investe em Fundos Referenciados, já que quase 95% destes seguem a rentabilidade da Selic. Ou seja, um corte na Selic é o mesmo que a redução da rentabilidade destes investimentos, mas caso aumente, os lucros também seguem o fluxo. Já de maneira indireta, a Selic pode afetar quem realizou empréstimos, já que, em geral, a elevação da taxa Selic aumenta também as taxas de captações dos bancos, o que acarreta uma cobrança maior nos juros”.
Segundo uma análise do economista, de uma forma ou de outra todos serão atingidos, até mesmo por influências de
outras moedas. “Desde o empresário ao consumidor final sentirão no bolso, qualquer estatística da Selic é refletida na economia brasileira e também estrangeira. Prova disso é a alta do dólar. Os Estados Unidos vêm de uns tempos para cá mostrando uma competitividade em ocupar o topo da economia mundial, aumentando cada vez mais o valor de sua moeda. Infelizmente o Brasil acompanha a economia dos grandes pólos econômicos, e agora não será diferente”.
A empresa de confecção de roupas, da microempresária Lindaura Barata de 56 anos, já sentiu o peso da alta da Selic no início do ano passado, quando a taxa chegou a quase 11%. “Como vendo roupas de maneira direta, vendo em grandes quantidades, o custo é baixo e o lucro não é tão alto. Com o aumento da taxa Selic, acabei tendo um prejuízo considerável”.
Mas esse ano ela se diz preparada para encarar o 0,5 ponto nos juros básicos da economia. “Desde o final de 2012, já havia preparado uma tabela de aumentos gradativos, que estavam previstos para acontecer em agosto desse ano e outro em janeiro de 2014. Por esse motivo, eu e meus clientes já estamos praparados para enfrentar os 9% da taxa básica de juros”.
Mas é bom que Lindaura, assim como os demais empresários e os consumidores em geral estejam atentos, pois segundo o economista Carlos Campos, os aumentos não irão parar por aqui. “Até o final desse ano pelo andar da economia mundial, que sofre com as instabilidades comerciais, provavelmente haverá um novo aumento e a taxa Selic deve chegar a 10% ao ano. O que não quer dizer que se estabilize, já que em 2014, com o evento Copa a economia ainda terá muitas alterações”.