As mulheres casadas lideram a inadimplência com cheques, segundo diagnóstico do serviço Telecheque. De acordo com a última pesquisa trimestral “Perfil do Consumidor Inadimplente”, realizada entre os meses de março a maio, 54,5% dos inadimplentes atendidos pela companhia são do sexo feminino e 30,7% se enquadram na faixa etária de 31 a 40 anos. Além disso, os consumidores casados correspondem a 51,1% do total de inadimplentes com cheque, sendo que 16,1% deles têm rendimento médio mensal entre R$ 1,021 mil a R$ 1,530 mil. Dos entrevistados, 40,2% são empregados de empresas privadas.
Quanto ao valor da dívida, em média, varia entre R$ 50 a R$ 199, conforme demonstrado pela parcela de 26,7% das pessoas consultadas na pesquisa. A composição do perfil do consumidor inadimplente pelo uso do cheque evidencia o descontrole financeiro como causa do não pagamento de dívidas. Esse foi o principal motivo para a inadimplência, apontado por 45,8% dos entrevistados. Outras razões citadas são o empréstimo do nome (15,1%), acidentes ou doenças (8,5%).
Esse instrumento de pagamento vem caindo em desuso mensalmente em todo o país, mas ainda é empregado como alternativa de crédito em compras de maior valor agregado, como materiais de construção, equipamentos ou reparação automotiva e alimentação. Conforme relata a funcionária pública Eliene Amaral de Souza Galvan, 41 anos, o cheque tornou-se uma opção ocasional para compras, adotada por ela e o marido. “Temos cheque, mas a última fez que eu fiz uso dessa alternativa foi para o pagamento parcelado de um curso, no ano passado”. Outra diferença é que ela costuma utilizar cheques para os pagamentos à vista. “As compras parceladas geralmente fazemos no cartão de crédito mesmo”.
Assim como ela, a operadora comercial Ronildes Rodrigues, 56, também divide os pagamentos no cartão de crédito e cheque, sendo este último utilizado com menos frequência. “Na compra dos materiais para reforma da minha casa, paguei uma parte com cheque prédatado”.
De acordo com o presidente da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção (Acomac), José Wenceslau Júnior, poucos consumidores tentam efetuar pagamentos com cheque. Em geral, os clientes que recorrem a essa opção são aqueles que já estão com o limite do cartão de crédito comprometido. “Nos últimos 60 dias, notamos um aumento nas tentativas de pagamentos com cheque prédatado”.
Mas, a maioria dos lojistas tem evitado negociar a prazo quando o pagamento envolve cheques, completa. O presidente da Acomac diz que o comprometimento do limite de crédito tem impedido muitos clientes de concretizar a compra. “Há 2 anos, de cada 10 clientes que tentavam financiar as compras, 8 eram aprovados. Hoje essa relação caiu de 10 para 4 aprovados”. Outra observação de Wenceslau Júnior é que as compras por impulso lideram a inadimplência no comércio em geral. Para ele, a pesquisa da Telecheque corrobora essa interpretação, ao apontar o público feminino como a maior parcela dos inadimplentes por cheque. “No nosso segmento, não somos muito afetados porque ninguém compra por impulso”.
Na opinião do vice-presidente comercial da Multicrédito, Flávio Vaz Peralta, a pesquisa reforça a ideia de que o uso do cheque tem se modificado nos últimos anos. “Atualmente, em vez de serem usados como
meros substitutos do dinheiro, os talões têm sido empregados como instrumentos de crédito em compras de maior valor”. Nas lojas da rede, o cheque só é aceito quando for para os pagamentos à vista, diz o diretor de auditoria da rede, Silvano de Oliveira. “Não temos quase inadimplência porque os pagamentos com cheque representam cerca de 1% do nosso faturamento”. Nas lojas da rede, os pagamentos são feitos majoritariamente em dinheiro, no cartão da loja ou de crédito.
Inadimplência em Mato Grosso – Em todo o Estado foram devolvidos 146,2 mil cheques por insuficiência de fundos, entre os meses de janeiro e maio deste ano, quando foram compensados 3,036 milhões
de documentos, segundo a Serasa Experian. Com esse resultado, o índice de inadimplência subiu para 4,81% no acumulado dos 5 primeiros meses de 2014. No mesmo período do ano passado, a taxa chegou a 4,73%, com 157,5 mil cheques devolvidos de um total de 3,329 milhões compensados no Estado.