Em meio à forte recessão econômica, que compromete a arrecadação do governo, o setor público brasileiro registrou no 1º semestre do ano um deficit primário (resultado das contas públicas antes do pagamento dos juros da dívida) de R$ 23,8 bilhões, informa o Banco Central (BC). Foi o pior resultado para um 1º semestre na série histórica, que começou em dezembro de 2001.
Apenas no mês passado, o rombo foi de R$ 10,1 bilhões – também recorde negativo para meses de junho e, de acordo com o BC, a tendência para o 2º semestre é de que os números piorem. “Os resultados fiscais têm sazonalidade forte. Os do 1º semestre são sempre impactados por fatores favoráveis, como a arrecadação boa da Receita Federal em abril, em função do Imposto de Renda”, disse o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha.
Para 2016, o governo trabalha com uma previsão de R$ 163,9 bilhões de déficit primário no setor público -que inclui, além do Governo Central (Tesouro, Banco Central e Previdência), os Estados e municípios. Em junho, o principal responsável pelo rombo foi o Governo Central. O déficit primário neste caso foi de R$ 10,5 bilhões. Do montante, o Tesouro chegou a amenizar o resultado negativo com superávit de R$ 304 milhões e o BC teve déficit de apenas R$ 44 milhões. O problema é que as contas da Previdência – as que mais têm preocupado o governo – registraram um buraco de R$ 10,7 bilhões. Estados e municípios registraram um pequeno superávit.
Para o economista Bruno Lavieri, da 4E Consultores, o déficit primário mostra a incapacidade do governo de cortar gastos, pelo menos neste período que antecede a votação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado e as eleições municipais. “Até por uma questão estratégica, o governo também não deve elevar impostos agora”, disse o economista.
JUROS – Os dados mostraram ainda que, em junho, o setor público gastou menos com o pagamento de juros da dívida. Foram R$ 22,1 bilhões, quase metade do registrado em maio. O resultado é consequência da forte apreciação do real ante o dólar no período, de 10,7%. Isso porque a instituição mantém uma posição considerável em swaps cambiais um tipo de contrato ligado ao dólar que, quando a moeda americana perde valor, gera ganhos para o BC, computados na conta de juros.