A avenida da FEB, em Várzea Grande, sofre um explícito declínio econômico. Desde 2012, quando começaram as obras para a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), os empreendimentos localizados no endereço não têm suportado a situação caótica provocada pelo esqueleto do modal, acompanhada da falta de sinalização e espaço adequado para a travessia de pedestres. Não bastassem os equívocos das obras da Copa do Mundo, a recessão econômica tem contribuído para que a FEB se transforme em um "cemitério dos negócios".
A avenida possui cerca de 3 quilômetros de extensão e durante a produção dessa reportagem foram quantificados pelo menos 20 estabelecimentos fechados ao longo da via. O empresário Paulo Boscolo, proprietário da Tauro Motors, é um dos que precisou sepultar a filial da empresa. Em 2010 ele havia aberto uma loja na avenida, mas logo precisou suspender a operação em razão do início das obras da Copa do Mundo, que começaram em 2012. Após a reabertura da via no final de 2014, Boscolo resolveu reativar o estabelecimento. Em menos de 1 ano e 5 meses depois, ele decidiu encerrar as atividades, agora por tempo indeterminado.
"Manter a empresa na FEB passou a representar custo ao invés de ser fonte de receita. Várias razões foram decisivas para sairmos do local, entre elas o estreitamento da avenida em decorrência dos trilhos não concluídos do VLT. A construção do modal também foi prejudicial porque perdemos 6 metros de estacionamento, o que dificultou o acesso dos clientes à loja, resultando em queda no movimento".
Outro empresário que também encerrou as atividades da FEB é o presidente da Federação da Distribuição de Veículos Automotores em Mato Grosso (Fenabrave-MT), Manoel Guedes. Ele também desistiu de continuar com uma unidade na região em razão da queda no movimento. Guedes relata que tinha previsão de contrato de aluguel do espaço por dez anos, mas precisou encerrar a atividade quando completou seis anos de atuação.
Já o diretor comercial de uma outra concessionária, Anderson Yves, que é um dos sobreviventes, também reclama das condições precárias da avenida. "As obras prejudicaram muito o comércio na região. A avenida está perigosa, o que atrapalha o fluxo de clientes. Também há dificuldade para os funcionários que precisam passar por uma verdadeira maratona todos os dias para conseguir chegar ou sair do trabalho". A loja dirigida por Yves está localizada próximo à trincheira do Zero Km, e ele relata que o empreendimento ainda resiste porque é de grande porte. E esta tem sido a principal característica das empresas que insistem em permanecer na avenida.
É o caso da loja de departamentos Havan, que aportou na avenida há quatro anos. O diretor de Expansão da empresa, Nilton Hang, lamenta as condições precárias pela qual passa a via. "Quando decidimos nos instalar na FEB, o critério que pesou foi o fato de ela ser uma das principais avenidas de Mato Grosso, por ligar o aeroporto à capital e ser corredor de entrada entre interior do Estado e Cuiabá. Sem dúvidas, era um verdadeiro polo econômico e consumidor. Percebíamos o potencial econômico da região, razão pela qual investimos R$ 35 milhões à época, na instalação do empreendimento".
Nilton Hang relata que as condições deficitárias da FEB estão implicando em não geração de pelo menos 50 postos de trabalho, situação que é consequência da demanda. Atualmente, a loja de departamentos conta com 160 colaboradores. "Nossa pretensão é continuar no local, porque esperamos que haja solução por parte dos governantes".
Solução é uma palavra que a população da Grande Cuiabá espera faz alguns anos. Mas até o momento, o que se vê é a decadência de uma avenida acostumada a gerar milhões de reais para o PIB mato-grossense. Entre as medidas para tentar encontrar soluções para o VLT, o deputado estadual Oscar Bezerra (PSB), que é o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga os atrasos das Obras da Copa, avalia que os prejuízos econômicos são irreparáveis.
A CPI durou nove meses e chega à reta final com previsão de entrega do relatório em 20 de junho deste ano. "Ao final do trabalho da CPI, esperamos liberar o governo a tomar uma posição o quanto antes em relação a este processo, que pode ser a continuidade da obra, ou a implantação do sistema de BRT, ou se vai voltar o pavimento. Infelizmente, o reparo para as empresas que fecharam na FEB não pode ser feito porque já foi cometido sem planejamento no início da obra. Mas ainda há pessoas que insistem em empreender na região, e elas terão respaldo da volta do fluxo a 100%, voltando a colocar aquela avenida no grua de representatividade que sempre teve, sendo o principal acesso de Várzea Grande". O deputado diz ainda que tudo tem concorrido para que os responsáveis pelos equívocos não fiquem impunes.
Outro lado – enquanto isso, o governo do Estado alega, por meio de assessoria de imprensa, que realizou um estudo, feito por uma consultoria técnica, sobre as obras do VLT. "A atual gestão recebeu a obra inacabada e com diversas pendências e irregularidades. O estudo foi contratado em novembro 2015 e apontou os valores que ainda necessitam ser pagos para concluir a obra, como também a viabilidade do Veículo Leve sobre Trilhos. Em relação ao montante que ainda necessita ser gasto, este é de aproximadamente R$ 600 milhões, montante bem abaixo do pleiteado pelo Consórcio VLT, que solicitou R$ 1,2 bilhão para concluir a obra".
Em nota, o governo alega que os estudos apontam ainda que para o modal funcionar e a tarifa se manter no valor pago atualmente pelos usuários de ônibus, o Governo do Estado necessita custear anualmente R$ 37,5 milhões entre 2018 e 2047. "Já sobre a continuidade das obras, o Estado se encontra atualmente em processo de negociação com o Consórcio VLT. As reuniões têm sido realizadas pelo Gabinete de Assuntos Estratégicos (GAE) e a Casa Civil. Há ainda uma ação judicial, junto à Justiça Federal, que se encontra em andamento e que também irá contribuir para a continuidade das obras", pontua.
Quanto à mobilidade urbana no trecho que compreende as obras do VLT na avenida da FEB, o governo explica que realizou a contratação de empresa para realizar a readequação viária no local. "Além da limpeza e realinhamento dos blocos de concreto, que são utilizados para proteção do canteiro de obras, também será realizada a sinalização vertical e horizontal ao longo da via, como também será feita a abertura de retornos no trecho próximo a entrada do bairro Cristo Rei. Os valores gastos para execução dos serviços serão posteriormente cobrados do Consórcio VLT, atual responsável pela obra", finaliza a nota.