Depois de 21 horas de julgamento, o tribunal do júri de Vera decidiu, por 4 votos a 3, absolver o fazendeiro Vilmar Taffarel, da acusação de ser o mandante do assassinato do ex-vereador Augusto Alba, em novembro de 2001. A sentença foi proferida neste sábado ao amanhecer.
O advogado de Vilmar Taffarel, Claudio Alves Pereira, disse que o resultado do júri não é uma vitória. “Foi feita justiça. O que foi decisivo para a opinião dos jurados foi a justiça divina e a verdade”, disse. “Não podemos esquecer que morreu uma menor. E todos aquelesque pensam no bem e na justiça têm que lutar para colocar estes assassinos na cadeia e lutarei a partir de segunda-feira”, afirmou. A promotora Clarissa Lima e o assistente Roberto Jefferson anunciaram que vão recorrer da decisão. “Continuo convicta que Taffarel está envolvido neste crime”, disse a promotora. Roberto Jefferson disse, ao Só Notícias, que a defesa “conseguiu confundir o júri quando lançou vários suspeitos do crime”, afirmou. Jefferson confirmou que continua no processo e vai estar atuando no recurso para novo julgamento de Taffarel.
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O júri
A sessão começou às 08:10hs da sexta-feira e terminou àss 05:50hs deste sábado. Inicialmente, as principais atenções estavam voltadas para o assistente de acusação, o ex-deputado Roberto Jefferson, o homem que denunciou o esquema do mensalão e causou uma forte crise política para o Governo Lula. Desde que chegou foi o centro das atenções. Cumprimentou diversas pessoas que estavam no plenário e foi para seu lugar na mesa.
Inicialmente, foi feito o sorteio dos jurados – 5 homens e duas mulheres.
Em seguida, Vilmar Taffarel começou a depor. Negou que tivesse mandado matar o vereador, que estava fazendo oposição, na câmara, a sua irmã, a ex-prefeita Isani Konerat. Disse que está sendo vítima de “perseguição política e da imprensa”.
O depoimento dele foi rápido e pouco acrescentou em relação ao que consta no processo.
Posteriormente, começou a leitura do processo que tem cerca de 1.200 páginas. Foram pouco mais de 3 horas só de leitura (com intervalo de uma hora para almoço). Em um determinado momento, Roberto Jefferson pediu que fosse melhorada a qualidade do som para que os jurados pudessem compreender.
As testemunhas começaram a ser ouvidas a partir das 15:30hs. O pai da garotinha Keila, Augusto Alba, foi o primeiro. Foi a primeira vez que ele ficou próximo ao homem acusado de mandar matá-lo. Chorando, ele relatou que ficou desesperado após o pistoleiro ter invadido sua casa, ter feito os disparos e notado que sua filha estava ferida. “Eu pegue ela no colo e vi que ela tinha levado um tiro no peito… Ela me disse ‘pai foi em mim que eles acertaram. Mas sou forte e vou sair desta’. Eu sai com ela nos braços e a levei para o hospital”, afirmou.
Outro depoimento muito aguardado era do assassino confesso Charles da Silva. Ele depôs na qualidade de testemunha porque o processo foi desmembrado e agora só Vilmar estava sendo julgado. Ele tinha a prerrogativa de ficar calado. Nem mesmo os duros questionamentos do assistente de acusação Roberto Jefferson foram suficientes para que ele falasse. Entrou mudo e saiu calado. “Você vai ficar calado ? Vai pagar por este crime sozinho?”, questionava Jefferson. Charles ficou mudo. “Quem lhe remunerou não é melhor que o senhor”, disparou Jefferson.
Outros acusados de envolvimento, Isaias Galdino e Tarcisio Thiersen também depuseram. Tarcisio era chefe de Isaias, no trabalho de mato, e é acusado de contactá-lo. Isaias teria contratado Charles para executar o plano.
Isaias Galdino disse que emprestou a arma para Charles. A promotoria mostrou bilhetes que ele mandou para Charles, na cadeia, pedindo prazo para pagá-lo. O Ministério Público sustenta que seja o dinheiro da pistolagem. Isaias negou.
O técnico florestal Tarcisio Tiersen disse que houve uma conversa e que Vilmar “em tom de desabafo teria dito que pagava uns 5 contos para quem matasse o vereador”, afirmou. Isto foi uma conversa de bar e que ele comentou, no mato onde trabalhava coordenando uma equipe de peões, que na cidade havia alguém disposto a pagar para matar o vereador e que não contratou ninguém para fazer a pistolagem. Tarcisio negou conhecer Charles e acredita que ele tenha agido sozinho para tentar ganhar o dinheiro.
O cabo Atilio, da PM, que trabalhou nas investigações do crime, depôs e disse que as informações que levantou não apontam Vilmar como o mandante.
Ataque/defesa
A promotora Clarissa Lima dividiu o tempo destinado para a acusação do réu com Roberto Jefferson. Cada um falou uma hora. A promotora lamentou que não tenha sido possível ouvir o depoimento de Janio de Souza, considerada ‘testemunha-chave’ porque disse, na delegacia, que havia sido procurado por Vilmar para matar Augusto, mas não aceitou. A versão é que havia sido oferecido R$ 30 mil. Enfático e categórico, Jefferson afirmou que Taffarel foi o mandante do crime movido pela “arrogância”por ter trazido Augusto Alba, do Sul, para morar em Vera, e ele ter passado a fazer oposição a sua irmã, a ex-prefeita Isani Konerat. Jefferson ‘inocentou’ a ex-prefeita. “Não creio que ela tenha participado deste plano”, afirmou.
Jefferson pediu, a Augusto Alba, o fim do ódio para que a paz volte a reinar em Vera.
O advogado Claudio Alves Pereira iniciou,, por volta das 01:15hs deste sábado, a defesa do fazendeiro Vilmar Taffarel. Ele chegou a dizer que a liberdade de Tarcisio Tiersen, acusado de ter mantido contato com Isaias Galdino que contratou Charles da Silva, de ter sido beneficiado com liberdade para incriminar Vilmar Taffarel. “O Tarcisio está solto. Por que o Ministério Público não recorreu ?”questionou.
Claudio disse que não há provas nos autos que apontam Vilmar como o mandante do homicídio. “Gostaria que aqui também estivessem sendo julgados o Isaias Galdino e o Charles Thiersen (apontados como intermediário e pistoleiro)”, disse Claudio, aos jurados. “O crime está desvendado. O problema é que está sendo denunciando um inocente”, acrescentou. “Augusto e Sueli estavam sendo usados desde 24/11”, concluiu.
A réplica começou às 03:45hs. Roberto Jefferson falou por meia hora e Claudio Alves usou o mesmo tempo. Mesmo com mais de 20 horas de julgamento, o plenário da câmara ficou lotado até o final. Além de populares e lideranças de Vera, acadêmicos de Direito de Sinop acompanharam o primeiro julgamento da comarca verense.
Choveu e faltou energia, por duas vezes, entre às 21:18 e 22:00hs devido às descargas atmosféricas. A PM fez a segurança e chegou a usar detector de metais. não houve incidentes.
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