A reunião do Diretório Regional do PPS caminhava para o fim em ritmo morno quando o governador Blairo Maggi, após quase quatro horas de explanações e explicações diversas, decidiu desabafar: “Jamais vou vender o Governo ou parte do Governo para me reeleger. Não vou fazer isso para ter qualquer coligação. Vou ter parceiro para ganhar eleição”. Recado mais direto ao Partido da Frente Liberal (PFL), ou melhor, para alguns líderes do PFL, impossível. Mais que isso: declarações que revelam em parte a distância entre os discursos e a realidade que cerca o mundo político.
Nas últimas semanas, líderes do PFL não hesitaram em demonstrar insatisfação com os rumos que poderiam tomar a aliança em torno de Maggi a reeleição: apontavam, em várias entrevistas aos jornais da Capital, essencialmente a posição do governador em relação a vaga ao Senado Federal, reivindicada pelo PP ao deputado federal Pedro Henry. Pela imprensa, o PFL insistiu em ter Jaime Campos ocupando o posto. Um dos críticos é o senador Jonas Pinheiro, tido como “guru” do governador.
Outro crítico do Governo e do comportamento do chefe do Executivo é o deputado Zeca d´Ávila, que vem se dizendo árduo defensor da candidatura própria no partido – entrando as vezes na contra-mão do discurso encenado por Jaime Campos e Jonas Pinheiro. Recentemente, Ávila disse que disse estar envergonhado pelo governador Blairo Maggi ainda não ter cumprido a promessa de reduzir as alíquotas do ICMS da energia e da telefonia. No coro das críticas e ameaças de rompimento mais aberto está o deputado Humberto Bosaipo. Mas, pelo desabafo de Maggi na reunião do PPS, a questão não é bem disputa por vaga.
“O Governo tem liberdade para coligar com quem quiser. Não tenho dúvidas de que o Governo serve de exemplo a nível nacional. Estou longe de ser o Governo que deveria ser. O Governo não tem máquina de fazer dinheiro. Tem que fazer a coisa correta. O conceito de administração e da administração jamais será mudado” – acentuou, indicando que as discussões podem estar avançando a linha entre Governo e política. “Se me colocarem a faca no pescoço, prefiro ir para casa. Não vou ceder. Sou duro demais”.
Em verdade, o comportamento do PFL é tido como atípico. A disputa pela vaga ao Senado Federal agora não justifica, especialmente porque todos sabem que o processo só deverá mesmo sofrer afunilamento no mês de março ou abril. O próprio Maggi afirma que a eleição só começa a esquentar mesmo nos 15 dias finais. O açodamento agora dos liberais se mostra estranho especialmente depois que o partido lutou para levar o governador para suas fileiras, inclusive com ato de apoio expressado por lideranças nacionais.
Maggi foi mais além. Ele admitiu que o Governo precisa ser cobrado constantemente. Porém, acentuou suas ponderações dizendo que não pretende mudar seu conceito de administração: “Sigo os meus princípios”.
Em seguida, avançou sobre a questão eleitoral. Maggi admitiu que a eleição do ano que vem terá aspecto plebiscitário, quando o seu Governo vai estar sendo avaliado. “O eleitor vai dizer sim ou não” – comparou. Particularmente, ele avalia a administração como positiva – o que não poderia ser diferente. Em alguns momentos demonstra acreditar até que a atuação política do Estado estaria inibindo a formação de candidaturas adversárias. Mas, logo retoma o discurso da humildade: “Tem muita coisa para acontecer e não tem nada ganho. Vai ter cobrança e ela será muito maior. Temos que ganhar a eleição e fazer uma coisa melhor do que está acontecendo” – ponderou.