Ativistas do Greenpeace fecharam a BR-163 (Santarém-Cuiabá) nos limites da Floresta Nacional de Altamira. A estrada serve de acesso para extração ilegal de madeira e favorece o aumento do desmatamento ilegal na Amazônia. Na última terça-feira, além de impedir o acesso à estrada com uma cancela trancada com um cadeado, ativistas colocaram placas com as mensagens “Área esperando para ser protegida” e “Amazônia: salvar ou destruir?”. A chave do cadeado foi entregue ao escritório do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no município de Novo Progresso, que está sob a responsabilidade da gerência do Ibama de Santarém. A atitude teve como objetivo chamar a atenção para a extração ilegal de madeireira na região. O analista ambiental da gerência do Ibama em Santarém, Marcos Souza, afirmou que uma equipe de fiscalização encontra-se em operação em Novo Progresso para controlar a situação. A equipe do Greenpeace disse, entretanto, que apenas quatro fiscais fazem a fiscalização do Ibama na área.
A ação do Greenpeace é contra o avanço do desmatamento, a vulnerabilidade das fronteiras ambientais e a precariedade de órgãos públicos como Ibama, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e Policia Federal no controle ambiental e nas ações de fiscalização, principalmente no município de Novo Progresso, tido como um pólo madeireiro no trecho paraense da BR-163. “O que acontece na Flona de Altamira é um exemplo do que ocorre com outras unidades de conservação (UCs) na Amazônia, que também enfrentam sérias ameaças em decorrência da ausência de representantes de órgãos públicos encarregados de zelar pelo patrimônio ambiental da Amazônia”, disse Nilo D’Avila, coordenador da campanha do Greenpeace pela proteção da região da BR-163.
“Hoje, a Flona de Altamira, com mais de 712 mil hectares, não passa de uma área desenhada no papel, com poucos funcionários, mal equipados, encarregados de sua guarda. Se medidas concretas de fortalecimento da presença do Estado e a implementação das áreas protegidas não forem adotadas imediatamente, o governo pode perceber tarde demais que os recursos naturais da região já foram roubados”, disse. Segundo Nilo, das 14 unidades de conservação existentes na área de influência da BR-163, oito não têm nenhum funcionário do Ibama para fiscalizar a área e estão expostas à ação criminosa de madeireiros, fazendeiros e grileiros da região.
A equipe do Greenpeace fez vários sobrevôos pelo local e identificou mais de 15 focos de incêndio e também um tráfego de caminhonetes e carros transportando tonéis de combustível para abastecimento de caminhões. O cenário revela a extração ilegal de madeira. Na área, mais de 220 quilômetros de estradas clandestinas contribuem para a saída ilegal de madeira. Os ativistas identificaram, ainda, 12 esplanadas – local onde se concentram as toras de madeiras para serem transportadas.
Marcos Souza, analista ambiental da gerência do Ibama em Santarém, disse que as missões de fiscalização existem de forma sistemática, porém, o contingente que atua na área é muito reduzido. “A carência de profissionais é um fato que, aliado à pouca estrutura, torna a fiscalização deficiente”, afirmou. Ele explicou que unidades de conservação mais próximas são mais fáceis de serem fiscalizadas, a exemplo da Flona do Tapajós. As mais distantes, entretanto, acabam não tendo uma fiscalização permanente. “Em época de chuva, por exemplo, existem lugares que não conseguimos ter acesso”, disse o analista ambiental.
Sob a Gerência do Ibama em Santarém estão a Flona Tapajós, a Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, a Reserva Biológica Rio Trombetas e o Parque Nacional da Amazônia, entre outras unidades de conservação. Para operar com as missões de fiscalização nessas áreas, a gerência do Ibama mantém escritórios em Itaituba, Altamira, Oriximiná, Porto Trombetas e Novo Progresso.