O Comando da Aeronáutica atestou esta noite, em nota, que estão todos mortos os 155 ocupantes do boeing da Gol que caiu na sexta-feira à tarde, no Nortão ( 220 km de Peixoto de Azevedo). Conforme Só Notícias informou em primeira mão, ontem à tarde, com uma fonte militar que participava das buscas, não há sobreviventes. As buscas estão sendo feitas desde ontem e os corpos, que estão carbonizados e mutilados, devem ser resgatados até a terça-feira. Há muita dificuldades para ser feita a retirada porque o avião caiu em uma mata fechada, entre as aldeias Capoto e Metrutire.
O presidente da Gol, também em nota, lamentou a constatação e afirmou que a prioridade é prestar assistência às famílias “deste trágico acidente”.
Mais cedo, a diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Denise Abreu, havia confirmado a ocorrência de uma colisão entre o Boeing da Gol e o jato executivo Legacy, fabricado pela Embraer.
No final da tarde, ela recebeu os parentes das vítimas, que haviam divulgado uma carta para cobrar das autoridades “uma posição mais clara e imediata da situação real do acidente”. Eles reclamavam da falta de informações e pediam uma audiência com o ministro da Defesa, Waldir Pires.
“O momento é de dor e sofrimento para todos os familiares, mas não podemos deixar de pensar em resolver as questões práticas que envolveram um acidente dessa natureza”, dizia a carta, assinada por sete pessoas.
Na reunião, a diretora da Anac disse aos parentes das vítimas que, devido à altura que o avião caiu, “seja difícil encontrar um corpo inteiro”.
Neste domingo, as equipes da FAB (Força Aérea Brasileira) que realizam as buscas localizaram os dois primeiros corpos, ainda não-identificados. Os destroços estão espalhados por uma extensa região. Inicialmente, as buscas seriam feitas em uma área de aproximadamente 10 quilômetros, agora ampliada para 20 quilômetros quadrados.
As equipes de resgate ainda abrem clareiras na mata. O trabalho de resgate deve levar uma semana, segundo o presidente da Anac, Milton Zuanazzi.
Legacy
Apesar de danos na asa, o Legacy conseguiu pousar na base aérea de Cachimbo. A aeronave, que seguia para os Estados Unidos, transportava sete pessoas –piloto, co-piloto, dois funcionários da Embraer, um jornalista do “The New York Times” e dois funcionários da Excel Aire, empresa que comprou o jato.
Os pilotos –que são americanos– disseram em depoimento que não viram o Boeing, embora tivessem sentido um pequeno impacto e ouvido um “barulho”. Afirmaram, ainda, que os equipamentos da aeronave funcionavam normalmente antes e depois do acidente. De acordo com o presidente da Anac, o equipamento que sinaliza a presença de outra aeronave em rota de colisão, o chamado TCAS, funcionava normalmente no Legacy.
A caixa-preta do Legacy seguiu neste domingo para análise em São José dos Campos (SP). Os pilotos também foram levados para a cidade e devem passar por exames médicos entre segunda e terça-feira.
Acidente
O Boeing, que havia saído de Manaus com destino ao Rio, deveria fazer uma escala em Brasília. Ele perdeu contato por volta das 17h de sexta-feira, após um incidente não esclarecido com um jato executivo Legacy, fabricado pela Embraer. Os destroços do avião foram encontrados por volta das 9h de sábado, em uma área de mata muito fechada, a 200 km do município de Peixoto de Azevedo (MT). As equipes de resgate chegaram ao local aproximadamente 20 horas após o horário estimado da queda.
Apesar de danos na asa, o Legacy conseguiu pousar na base aérea de Cachimbo. A aeronave, que seguia para os Estados Unidos, era ocupada por sete pessoas –piloto, co-piloto, dois funcionários da Embraer, um jornalista do “The New York Times” e dois funcionários da Excel Aire, empresa que comprou o jato.
Em depoimento, os pilotos –que são americanos– disseram não ter visto o Boeing, apesar de terem sentido um pequeno impacto. “Viram uma sombra e [ouviram] um barulho”, disse Zuanazzi. Para ele, o fato pode ser justificado pela velocidade das duas aeronaves no momento da colisão.
Divulgação/Anac
A caixa-preta do Legacy seguiu neste domingo para análise em São José dos Campos (SP). Segundo o presidente da Anac, apenas a análise da caixa-preta pode dar um “acabamento” melhor para se chegar às causas do acidente.
Acidente
Este é o primeiro acidente grave na história da Gol, que começou a voar no início de 2001, e o maior da história do país. Antes, o pior acidente havia sido registrado em junho de 1982, quando um Boeing 727-200 da Vasp bateu em uma montanha da serra de Aratanha, a 30 quilômetros de Fortaleza, causando a morte de 137 pessoas.
Até sábado, a Anac e a Aeronáutica considerava como “mera especulação” a possibilidade de colisão entre as aeronaves. Agora, a afirmação de que o jato e o Boeing colidiram tem como base a análise das caixas pretas de voz e de dados do Legacy, que foram examinadas pela comissão técnica de investigação, instituída pela Anac e pelo comando da Aeronáutica.
“O que dá para afirmar é que houve colisão”, disse Abreu. Apesar disso, ela preferiu não dar detalhes sobre o caso. “Ainda que você tenha todos os dados da caixa preta do Legacy, ainda não temos as da Gol. E essas informações precisam ser cruzadas”, disse.
Perguntas
Segundo o tenente-brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero, é preciso descobrir o motivo de dois aviões bem equipados e novos estarem no mesmo nível, quando deveriam estar a uma distância mínima de 300 metros. “São aviões com equipamentos anticolisão. Precisamos saber por que eles não evitaram o acidente”, disse o tenente-brigadeiro.
Pereira também levantou a necessidade de esclarecimentos acerca do fato de qual avião estaria acima ou abaixo do nível correto, e ressaltou que a altura das aeronaves, entre 36 e 37 mil pés, é completamente visualizada por radares.
Na velocidade em que os aviões estavam, de acordo com Pereira, seria impossível aos pilotos fazerem qualquer identificação visual de outro avião. No entanto, os equipamentos deveriam ter alertado sobre a possibilidade de rotas coincidentes.
Quando isso acontece, o sistema alerta o piloto com sinais sonoros e luminosos, além de orientar o procedimento. “O piloto não precisa raciocinar, basta seguir a orientação”, explicou.
Para o comandante Marques Peixoto, agente de segurança de vôo e diretor do Sindicato dos Aeronautas, o acidente pode ter sido causado por uma conjunção de fatores. Segundo ele, ocorrências como essa não ocorrem em função de um único fator, “mas de quatro a sete fatores que se alinham”. Todas as possibilidades, segundo Peixoto, têm de ser analisadas.