Franco favorito em todas as pesquisas de opinião, Lula ainda não definiu se vai ou não participar de debates na televisão com os demais candidatos. Está convencido de que será transformado em saco de pancadas por todos os adversários. E hesita, por ora, em dar uma palavra final sobre o seu comparecimento nos debates.
O dilema é uma novidade para Lula. Nas quatro campanhas presidenciais que disputou como candidato de oposição ele sempre pugnou pela realização de debates. Agora, cavalgando um favoritismo que lhe atribui intenções de voto suficientes para vencer a eleição em primeiro turno, Lula é mais cauteloso.
A TV Globo promoveu no último dia 30 de junho uma reunião com os marqueteiros dos principais candidatos. Compareceram representantes dos comitês de Lula (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Heloisa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT). Discutiu-se um pacote de entrevistas para o Jornal Nacional e um confronto direto entre os candidatos, agendado pela emissora para o dia 28 de setembro.
Acertaram-se as entrevistas. Ficou definido, por sorteio, que Alckmin será o primeiro a ser ouvido, no dia 7 de agosto. Lula será o último, no dia 11. Diferentemente dos demais concorrentes, que serão argüidos no estúdio da Globo, Lula será entrevistado no Palácio da Alvorada. Na hora de acertar o debate, porém, João Santana, o marqueteiro de Lula, esquivou-se de assumir qualquer tipo de compromisso. Não disse nem sim nem não. Afirmou apenas que o assunto ainda estava em discussão.
A Globo entregou aos marqueteiros um documento contendo as regras das entrevistas e do debate. Combinou-se que, depois de lido, o papel deveria ser assinado por prepostos autorizados pelos candidatos. Cristovam e Heloisa Helena já deram indicações de que nada têm a opor. Consultado nesta segunda-feira, Alckmin também confirmou à sua assessoria que irá ao debate. Só Lula ainda não deu a palavra final.
O debate da Globo não é o mais espinhoso. A data escolhida para o evento –28 de setembro— coincide com o penúltimo dia da propaganda eleitoral dos partidos na TV. Dificilmente uma eventual derrapada verbal do presidente seria explorada pelos adversários. O problema é que outras emissoras também desejam promover debates. A Bandeirantes organiza o seu para os primeiros dias de agosto, antes do início oficial da propaganda gratuita, marcada para 15 de agosto. O SBT também já contatou os comitês de campanha, manifestando o interesse em promover um embate ao vivo.
O excesso de debates deixa Lula com um pé atrás. Ele acha que está condenado a virar alvo. Expulsa do PT no início da gestão Lula, Heloisa Helena não tem motivos para contemporizar. Demitido do Ministério da Educação pelo telefone, Cristovam também não morre de amores pelo presidente. Ávido por recuperar terreno nas pesquisas, Alckmin tampouco tem razões para exibir um comportamento dócil.
Para complicar, Lula ainda rumina um trauma em relação à Globo. Atribui a derrota para Fernando Collor nas eleições presidenciais de 89 a uma edição “injusta” de um debate que travou com o adversário. Foi ao ar no Jornal Nacional do dia 15 de dezembro, antevéspera do segundo turno da eleição, ocorrido no dia 17 de dezembro de 89, um domingo.
Lula e o PT acusam a Globo de ter veiculado um extrato do debate que teria sido editado com o objetivo deliberado de favorecer Collor. Nos próximos dias, o presidente terá de se definir. Conforme o acerto pactuado na reunião do último dia 30 de junho, a Globo ficou de cobrar dos comitês dos candidatos uma posição em relação ao documento que estipula as regras para as entrevistas no Jornal Nacional e para o debate do dia 28 de setembro.