O silêncio foi a forma mais contundente usada pela comunidade acadêmica da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus Universitário de Rondonópolis, durante o protesto pela paz e contra a violência, realizado ontem, nas ruas centrais de Rondonópolis. Estudantes de diversas escolas centrais da cidade se somaram à comunidade no intento de clamar por uma rápida apuração dos assassinatos dos professores Soraiha Miranda de Lima e Alessandro Luís Fraga e do técnico-administrativo Luiz Mauro Pires Russo, ocorridos na semana passada.
A estimativa é de que mais de 1 mil pessoas participaram de uma passeata que saiu da Praça Brasil, percorreu a avenida Amazonas, a rua Rio Branco, a avenida Marechal Rondon, a rua João Pessoa, voltando ao ponto de origem pela Amazonas. Pelas vias, nem gritos de ordem nem frases de efeito, apenas o silêncio de pesar, dor e paz. À frente, os manifestantes levaram três quadros com imagens das vítimas. Em seguida, a indignação estampada em faixas e cartazes. “Punição aos culpados”, “Rondonópolis em luto”, diziam algumas faixas. Após, em meio à multidão, 106 cruzes pretas e 132 estacas com as imagens das vítimas, representando o luto e a injustiça. A cor preta do luto predominava ainda na roupa dos manifestantes.
Na Praça Brasil, as cruzes e as estacas com as fotos das vítimas foram enfincadas na grama. Um manifesto confeccionado pela comunidade acadêmica foi distribuído na ocasião e lido aos presentes. “Não podemos nos calar ou aceitar a banalização da vida e da violência, com a barbárie que ceifa a vida de nossos amigos e parentes sem fazermos nada. Conclamamos a todos a colocarem mais amor em suas vidas, a terem mais carinho com as pessoas e mais respeito pela vida, a própria e a do próximo. Nada vai mudar no mundo se não mudarmos isso dentro de nós, se não humanizarmos nossas atitudes e sentimentos”, consta em um trecho do documento. Ainda em homenagem aos três profissionais mortos, a manifestação foi fechada com um momento de oração.
O professor Antônio Gonçalves Vicente, o “Tati”, da Associação dos Docentes da UFMT em Rondonópolis (Adufmat/Rondonópolis), tentou repassar à reportagem a dimensão da perda registrada no campus. “O que mais nos chocou foi que eles [as vítimas] estavam trabalhando. Foram mortos de uma forma tão cruel. É revoltante para a nossa comunidade acadêmica”, argumentou, acreditando que, se não houver um esclarecimento rápido dos crimes, com a conseqüente punição, pode haver muitas baixas de professores no campus, principalmente entre os mais jovens. “As pessoas estão se sentindo inseguras”, justificou.
A manifestação contou com o envolvimento do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Adufmat/Rondonópolis, da Associação dos Docentes da UFMT/Rondonópolis e do Sindicato dos Trabalhadores da UFMT/Rondonópolis (Sintuf).