O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirmou ontem, em audiência pública na Câmara, que o problema de adulteração do leite pode ter ocorrido em outras cooperativas além das duas de Minas Gerais em que foi constatada a adição de soda cáustica e água oxigenada ao produto. Ele destacou, no entanto, que se trata de um problema isolado e que a qualidade do leite brasileiro é boa e atende aos critérios internacionais. “Temos que reconhecer que talvez tivéssemos mais casos que não foram identificados”, afirmou.
O debate foi promovido pelas comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural e de Defesa do Consumidor. Stephanes pediu cuidado no trato do tema para que não ocorram generalizações que prejudiquem “um milhão de produtores de leite honestos do país”, mas defendeu punição rigorosa para os envolvidos na fraude.
Ele também destacou a atuação preventiva da sua pasta na fiscalização do produto. Dados do Ministério da Agricultura apontam que só no ano passado foram descartados 21 milhões de litros de leite após a fiscalização, sendo que o ministério testa 10 mil amostras de leite por dia.
O ministro disse ainda que o novo sistema de fiscalização que está sendo implementado pelo ministério vai dar mais garantia de qualidade ao produto. No sistema atual, um técnico do ministério é responsável pela análise de procedimentos de uma determinada indústria e, com o novo método, uma equipe fará rodízio na inspeção das indústrias e cooperativas e realizará auditoria em todo o processo. Esse modelo já está sendo implementado de maneira experimental em alguns estados. “Isso vai inibir eventuais vinculações entre os fiscais e as empresas.”
Questionado pelos parlamentares se o problema da adulteração não teria sido potencializado pela falta de pessoal ou de recursos, Reinhold Stephanes afirmou que ainda não é possível afirmar isso. “Há 220 fiscais para cerca de 1.700 estabelecimentos, é uma média razoável”, observou. “Existem problemas de burocracia que devem ser vencidos antes do de pessoal.”
A diretora de Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Maria Cecília Martins Brito, que também participou da audiência, informou que exames feitos pelo Ministério da Saúde encontraram diversas irregularidades em lotes de leite longa vida, entre elas a presença de sacarose, que, “além de ser uma fraude, traz riscos aos diabéticos”. O ministério também encontrou, em alguns casos, teores de sódio acima do valor declarado.
Segundo a diretora, algumas marcas ainda utilizam soro em proporções que afetariam as funções do leite e adotam fórmulas químicas para mascarar o tratamento dado ao produto.
Na semana passada, a Anvisa interditou 19 lotes de leite longa vida UHT integral das marcas Parmalat, Calu e Centenário (marcas que recebem o leite da Casmil e da Coopervale, em Minas Gerais). Os parâmetros que apresentaram maior índice de inadequação, segundo as análises laboratoriais, foram os de sódio e sacarose, substância não permitida pela legislação brasileira. Nenhum dos testes, porém, apresentou soda cáustica ou água oxigenada no leite analisado. No último dia 25, a Anvisa já havia interditado preventivamente nove lotes de leite processados pelas duas cooperativas.