Os pilotos do Airbus A320 da TAM, que colidiu com um prédio próximo ao aeroporto de Congonhas, recebeu duas informações diferentes sobre a situação da pista de Congonhas em 14 minutos. Uma da controladora de vôo que estava presente no centro de aproximação do aeroporto e outra do controlador da torre de Congonhas. Na primeira informação não houve o alerta de “pista escorregadia”, mas na segunda aconteceu a recomendação. É o que mostra a gravação do áudio da conversa entre pilotos e controladores, divulgada hoje (9) durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo da Câmara dos Deputados.
O primeiro relato sobre a pista com os pilotos foi feito às 18h34 pelo horário local de São Paulo. O diálogo partiu do piloto: “A torre poderia informar ao 3054 da TAM se chove em Congonhas?”. Na seqüência, a controladora de vôo do centro de aproximação, Ziloá Miranda Pereira, respondeu: “Chuva leve e contínua. A pista está molhada, mas não foi reportada ainda escorredia, ok?!”. Quatorze minutos depois, o piloto repete o pedido de informações: “TAM na final de duas milhas. Poderia me confirmar as condições?”. O controlador de vôo na torre, Celso Domingos Alves Junior, que autorizou o pouso, informou: “Pista molhada e escorregadia”.
O controlador explicou que seu turno na operação da torre começou em Congonhas às 18 horas e que, durante esse período, não houve comunicados oficiais dos pilotos de que a pista estava escorregia. Segundo o livro de registros e o depoimento do controlador na CPI, o último comunicado foi feito às 17h04 pelo vôo 1697 da empresa Gol. Indagado pela deputada Luciana Genro (P-Sol-RS) sobre os motivos para que ele informasse pista escorregadia ao mesmo tempo em que ele afirma que não houve registro de pista escorregadia em seu turno, o controlador Celso Domingos afirmou que é praxe após qualquer comunicado.
“Não no meu turno [registro de pista escorregadia]. Por volta das 17h05 da tarde, houve um ‘reporte’ de pista escorregadia. Após um ‘reporte’ de pista escorregadia a informação que a gente tem a gente tenta repassar para o restante dos pilotos da final”, complementa o militar em referência ao procedimento final das aeronaves para pousar nos aeroportos. Segundo o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), haveria uma contradição na postura dos dois controladores.
“Acho que ali tem uma contradição. Nós vamos precisar checá-la com o tempo, com as informações que foram repassadas, e as informações que nós temos nos registros que são feitos pelos controladores de vôo na torre e no APP [centros de aproximação]”, explica o relator. Indagado se pode ter acontecido falhas no diálogo com os pilotos, o relator responde que sim. “Pode. Pode ter acontecido. Agora, essa falha de comunicação neste momento não me pareceu relevante para a ocorrência do acidente, mas ela pode demonstrar um problema de comunicação entre a torre e a aproximação na torre de Congonhas.”
O relato oficial no livro de registros da torre anota o termo “pista escorregadia” precedido do código “s/”, que poderia significar “sem” ou “sobre”. Caso aponte o termo “sem” o livro registra o contrário do que a gravação mostra sobre o aviso da torre sobre “pista escorregadia”. Após o relato do operador da torre registrar que o vôo 3054 vinha “em final normal”, há anotação de que os pilotos foram informados “s/ pista escorregadia” (veja imagem na reportagem). A CPI não discutiu o assunto, nem os controladores apresentaram o motivo das abreviaturas.
Nos três dias anteriores ao maior desastre da aviação brasileira, a Aeronáutica recebeu pelo menos 12 reclamações de pilotos sobre falta de aderência na pista principal do Aeroporto Internacional de Congonhas, na capital paulista. Os dados estão no relatório da torre de comando de Congonhas.